O advogado Flávio Fernandes protocolou, nesta terça-feira, dia 14, petições desistindo do patrocínio de cinco processos em que defendia o médico e ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho. Nas ações em que o ex-parlamentar é réu por torturas contra filhos de ex-namoradas, injúria e até estupro contra as moças, o advogado alegou “motivos de foro íntimo” e afirmou acreditar na “plena inocência” de seu agora ex-cliente, a quem diz estar “envolvido em uma covarde trama”.
Ele já havia representado o engenheiro Leniel Borel de Almeida como assistente de acusação no processo em que sua ex-mulher Monique Medeiros da Costa e Silva e Jairinho, ex-namorado dela, são réus pela morte de Henry Borel Medeiros.
"Surgiu uma incompatibilidade por parte do meu escritório com os demais advogados do Jairinho. Discordamos de algumas medidas, sobretudo em relação ao tratamento dispensado pela banca que atualmente o defende aos colegas que até então atuavam na causa", explicou Flávio Fernandes, referindo-se a destituição de seis advogados horas antes do interrogatório do ex-vereador, no plenário do II Tribunal do Júri.
Em petição à juíza Elizabeth Machado Louro, no domingo, Jairinho requereu a juntada do termo de destituição de Bruno Mattos Albernaz de Medeiros, Eric de Sá Trotte, Karina Oliveira Marinho, Luis Felipe Alves e Silva, Natalia Gomes da Silva e Telmo Bernardo Batista. Permaneceram defendendo o ex-vereador os advogados Claudio Dalledone Junior, Fabiano Tadeu Lopes, Flávia Pinheiro Fróes, Letícia Farah Lopes, Renan Pacheco Canto, além do filho dele, Luís Fernando Abidu Figueiredo Santos.
Em nota, Claudio Dalledone informou que o ex-parlamentar, optou, às vésperas do depoimento, por uma “defesa tecnicamente voltada as acusações de crimes contra a vida, razão pelo qual, acabou por destituir alguns colegas”. “A troca não altera a estratégia da defesa que vai comprovar a inocência de Jairinho, iniciada com a audiência dos peritos quando ficou comprovada a fragilidade, além de erros e omissões, do laudo de necropsia, além de derrubar por completa a reconstituição do caso, visto que ficou demonstrado, com documentos do Barra D’Or, que Henry Borel chegou vivo ao hospital contrariando toda a acusação”, disse.
Também em nota, os advogados Bruno Mattos Albernaz de Medeiros e Eric de Sá Trotte informaram que deixaram a defesa de Jairinho em razão da “incompatibilidade técnica com os demais advogados que permanecem no caso, especialmente após o último habeas corpus impetrado, em que se buscava adiar o interrogatório do réu, alvo de discordância desses subscritores”. “A defesa ética, técnica e comprometida com o processo sempre foi e continuará sendo o norte do trabalho desenvolvido por estes signatários”, escreveram.
Em fevereiro, O GLOBO mostrou que, em uma mensagem de voz enviada por aplicativos de conversas, Flávio Fernandes afirmava ter assumido a defesa de Jairinho para “gerar o caos”. No áudio, entretanto, ele menciona discussões com colegas sobre estratégias jurídicas a serem adotadas no caso em que o menino foi vítima. “O objetivo é esse: o caos chamando pra mim (…). Se eu sair desse processo, acaba isso. Eu sou a figura principal desse processo. Entenda isso. Não tem outra. (…) Pode Evandro Lins e Silva ressuscitar, mas nenhum advogado da face da terra pode fazer por esse processo o que eu posso. Nenhum. Primeiro porque sou respeitado como ninguém é. (…) Porque não sou midiático, não fico aparecendo, sou professor, juiz pede pra eu defender”.
O advogado continuava: “Não quero esculhambar ninguém não. Pode vir a OAB batendo em mim, Leniel batendo em mim, porque tenho a carcaça larga de 20 anos de muita reputação. O objetivo era esse. Quando eu entrei nesse processo era pra isso: pra apanhar e construir essa retórica (…) Eu que comando isso aí, porque o objetivo era eu entrar sendo o assistente de acusação. O assistente de acusação que saiu do processo porque discordava dos métodos do Leniel.”
Na mensagem, com duração de pouco mais de quatro minutos, Flávio Fernandes ainda teceu opiniões sobre assuntos jurídicos, como arguição de suspeição e um habeas corpus impetrado pelos advogados. Na ocasião, ele admitiu ser dele a voz no áudio vazado, citou o livre exercício da advocacia e afirmou só trabalhar em causas em que acredita.
"Quando falo em gerar um caos é porque foi construído que o Jairo é um monstro e até agora ninguém levantou a voz para defendê-lo. Criaram a ideia de que ele tem a personalidade voltada para a prática de crimes, sendo que até o caso Henry ele nunca tinha respondido a nenhum processo. Jairo é meu cliente e é meu dever profissional, ético e moral repudiar quaisquer atos que possam influenciar negativamente nos casos em que eu atuo", alegou, na época.
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