Campanha nas redes pressiona pelas buscas de jornalista e indigenista
Reprodução - 07.05.2022
Campanha nas redes pressiona pelas buscas de jornalista e indigenista

As buscas pelo indigenista da Funai Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips , colaborador do jornal britânico The Guardian, devem ser retomadas nesta terça-feira. A dupla desapareceu anteontem no Vale do Javari, na Amazônia, quando iam da comunidade ribeirinha São Rafael para o município de Atalaia do Norte.

O desaparecimento foi alertado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Pereira era alvo constante de ameaças por combater a invasores como pescadores, garimpeiros e madeireiros. O Vale do Javari é a região com a maior concentração de povos indígenas isolados do mundo.

"Segundo relatos dos colaboradores da Univaja, essa semana a equipe recebeu ameaças em campo, além de outras que já vinham sendo feitas, e de outros relatos já feitos para a Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em Tabatinga", afirmou Beto Marubo, da coordenação da Univaja.

De acordo com a organização, os dois viajavam com uma embarcação nova abastecida com 70 litros de gasolina, além de sete tambores vazios de combustível.

A Univaja diz que os dois haviam visitado a equipe de vigilância indígena próxima à localidade do Lago do Jaburu (perto da base de vigilância da Funai no rio Ituí), para entrevistas de Phillips com indígenas. Os dois chegaram ao local na sexta-feira, no início da noite. No domingo, foram cedo à comunidade de São Rafael, para um encontro marcado com um líder comunitário apelidado de “Churrasco”.

No entanto, “Churrasco” não estava na comunidade, e eles conversaram apenas com a mulher do líder comunitário, de acordo com a Unijava. Em seguida, partiram para Atalaia, em uma viagem que deveria demorar cerca de duas horas. Mas não chegaram ao destino.

Sem a chegada da dupla, uma equipe de buscas, com indígenas que conhecem bem a região, saiu às 14h de Atalaia do Norte para procurá-los, mas sem sucesso. Duas horas depois, outra equipe partiu de Tabatinga mas também não encontrou vestígios dos dois.

Na manhã de ontem, três servidores da Funai e dois agentes da Força Nacional de Segurança Nacional fizeram novas buscas a partir da base de vigilância da Funai no rio Ituí. A equipe não achou pistas e o trabalho deve continuar hoje.

"As buscas têm que ser por via fluvial, com embarcações", disse Leandro Amaral, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari.

"Pereira é uma pessoa experiente e que conhece bem a região, foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por anos", lembrou o advogado da Univaja, Eliésio Marubo.

Mulher de Pereira, a antropóloga Beatriz de Almeida Matos disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo estar preocupada devido às ameaças que já foram feitas ao marido.

'Ele precisa voltar'

"Conheço bem a região, sei que podem acontecer vários acidentes, mas estou apreensiva por causa das ameaças que ele sofria. Quero que seja feito todo o esforço possível. É importante rapidez", afirmou Beatriz. "Tenho um filho de 3 anos e um de 2, só penso que ele retorne bem, por causa dos meninos. Ele tem também uma filha de 16 anos. Ele precisa voltar para casa."

A família do jornalista apelou no Twitter ao governo brasileiro para priorizar as buscas . “Imploramos às autoridades brasileiras que enviem a Força Nacional, a Polícia Federal e todos os poderes à disposição para encontrar nosso querido Dom”, escreveu Paul Sherwood, cunhado de Phillips. “Ele ama o Brasil e dedicou sua carreira à cobertura da Floresta Amazônica. O tempo é essencial, encontrem nosso Dom o mais rápido possível”.

Segundo o jornal The Guardian, Phillips estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson.

A embaixada britânica em Brasília informou que acompanha as buscas e que está em contato com as autoridades brasileiras. Além disso, oferece apoio consular aos familiares do jornalista inglês.

A Funai informou que está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas. A fundação lembrou, no entanto, que Pereira “não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares”.

Na fronteira com o Peru, no Oeste do Amazonas, o Vale do Javari teve seu processo de demarcação finalizado no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, e tem uma área equivalente a quase dois estados do Rio de Janeiro (85,4 mil km²). É considerada a segunda maior demarcação depois da Terra Ianomâmi (96, 6 mil km²), homologada em 1992 no governo Fernando Collor.

Colaborador de dezenas de jornais e especialista do tema ambiental, Phillips trabalha como correspondente no Brasil há mais de 15 anos. Em 2018, a dupla fez uma expedição semelhante no Vale do Javari, por 17 dias, para localizar indígenas da etnia Korubo. Na época, havia tensão no entorno do vale diante da aparição de indígenas isolados, para receio dos moradores.

Pereira era o líder da expedição. O trabalho do indigenista no contato e monitoramento de grupos de indígenas isolados, foi descrito pela reportagem feita à época. “Não é sobre nós. Os indígenas que são os heróis” declarou o indigenista no texto de Phillips.

O governo federal montou uma força-tarefa em Tabatinga para se concentrar nas buscas ao jornalista e ao indigenista. A equipe tem agentes da Polícia Federal, oficiais da Marinha e do Exército, bombeiros, servidores da Funai, da Defesa Civil e da Força Nacional de Segurança.

O Ministério Público Federal no Amazonas informou que um procedimento administrativo foi instaurado para apurar o desaparecimento e acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil. “O MPF seguirá intermediando as ações de buscas e mobilizando as forças visando solucionar o caso o mais rápido possível”, afirmou a instituição.

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