A delegada Adriana Belém, em foto do perfil dela no Instagram
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A delegada Adriana Belém, em foto do perfil dela no Instagram

Promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) afirmaram na tarde desta terça-feira, durante uma entrevista coletiva na sede do Ministério Público do Rio, no Centro, que a Operação Calígula, que culminou na prisão dos delegados Marcus Cipriano e Adriana Belém, vazou. A promotoria chegou a esse consenso após encontrar na casa de Cipriano a decisão de prisão, proferida pelo juiz Bruno Ruliere.

Deflagrada nesta terça-feira contra a organização criminosa liderada por Rogério de Andrade e seu filho Gustavo de Andrade, e integrada por dezenas de outros criminosos, incluindo Ronnie Lessa, a operação Calígula prendeu 12 pessoas, de um total de 29 mandados de prisão. Outros dois alvos da ação já estavam na cadeia, entre eles o PM Márcio Araújo, suspeito de chefiar a segurança da organização, preso pela morte de Fernando Iggnácio, que disputou com Rogério de Andrade o espólio do contraventor Castor de Andrade.

Houve ainda 119 de busca e apreensão, incluindo quatro bingos comandados pelo grupo. Foram alvos de denúncia um total de 30 pessoas, pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Na coletiva, o promotor Bruno Gangoni disse que o vazamento será apurado e admitiu que isso prejudicou a operação:

— Na casa do (Marcus) Cipriano encontramos cópias das decisões proferidas. Isso indica o vazamento da operação, e isso vai ser apurado em um momento. Claro que atrapalhou a operação.

Segundo o promotor Fabiano Cossermelli, as investigações se iniciaram em 2018, com a apreensão de um celular de Ronnie Lessa, e demonstraram que, desde então, a organização de contravenção só cresceu. Cossermelli descreveu a ação da delegada Adriana Belém, ex-titular da 16ª Delegacia de Polícia (Barra da Tijuca), na liberação de máquinas de apostas apreendidas para Rogério de Andrade.

— A investigação começa a partir da troca de conversa entre o Ronnie (Lessa) e o (Marcus) Cipriano, e, posteriormente, com a reunião da delegada e do Camilo (Jorge Camillo Luiz Alves, ex-chefe de investigação da 16ª DP), a tratativa prossegue só com o Camillo. Quem aproximou a delegada foi o Cipriano — disse. — Por intermédio do Cipriano, houve uma reunião com o Camillo. É proporcional que o Lessa se encontrasse (lá), e houve a tratativa para a retirada das máquinas. Isso levou uns dias, e, após a retirada, houve uma cobrança para o Rogério (de Andrade) pagar a liberação das máquinas.

Ele acrescenta que 80 máquinas foram retiradas em agosto de 2019, em pelo menos dois caminhões, e que houve uma tentativa de fraude simulando o envio da remessa para o Instituto de Criminalística, que nunca as recebeu.

Segundo os promotores, Cipriano tinha um papel central de intermediação na organização criminosa. Cossermelli afirmou que "houve várias reuniões entre (Ronnie) Lessa e policiais civis e militares, que foram reportadas e aguardadas por Cipriano":

— Ele tinha uma atuação, atuava diretamente. Nas investigações da morte de Marielle e Anderson, em uma das operações, descobriu-se que familiares e pessoas do Lessa estiveram no local e jogaram a arma do mar. Nesse episódio, uma delegacia da defraudações foi flagrada nesse imóvel. Não era (para acontecer) atuação da delegacia de defraudações. Ela indicou o relacionamento do delegado e do Ronnie. A gente não sabe se ele (o delegado) ajudou na retirada das armas.

O promotor salienta que os domínios da organização criminosa não se restringem ao Rio de Janeiro.

— Pelo sistema dos jogos, notamos que eles (presentes) estão no Nordeste e no Sul do país — disse ainda Cossermelli. — As provas indicavam que ele (Andrade) é frio e não teve reflexo na sua expansão. Muito pelo contrário, ele continuou articulando sua expansão criminosa.

Gangoni informou que as denúncias do MP foram divididas em várias por uma questão estratégica.

— A primeira (denúncia) foi formulada em relação ao núcleo do Rogério de Andrade. Estão sendo acusados ele, seu filhos, seu núcleo, Mug (apelido de Márcio Garcia da Silva, apontado como o gestor do sistema de contravenção), Feijão (codinome de Jeferson Tepedino Carvalho, apontado como o gestor das casas de apostas). A segunda denúncia é do Ronnie (Lessa). Ambas se completam, e isso só foi uma estratégia para o processo ser mais simples — disse Gangoni, que prosseguiu: — Na terceira denúncia os (alvos) da primeira e da segunda (denúncias) são novamente denunciados. E a quarta denúncia é (sobre) o núcleo tecnológico. Identificamos o trabalho deles, além de tirar do ar o sistema de busca do país inteiro.

R$ 1,8 milhão achados no quarto do filho de Adriana

Os investigadores informaram ter encontrado R$ 1.765.300,00 na casa de Adriana, escondidos no armário do quarto do filho dela.

— Dentro da suíte dela encontramos R$ 60 mil. Ela disse que esse era seu único dinheiro e que ela não ia honrar pagamento das contas — disse Cossermelli.

O promotor acrescenta que, ao se deparar com os valores em negociação no esquema de repasses, o MP resolveu substituir os pedidos de medidas cautelares pelo de prisão preventiva.

— Ela afirmou categoricamente que não tinha dinheiro. No quarto do filho, eles disseram que não se lembravam (se havia dinheiro). Abrimos com uma faca e encontramos duas malas — informou a promotora Roberta Laplace. — Após encontrarmos o dinheiro escondido, ela disse que esse dinheiro era de parcerias, da vida inteira, e que ia comprar um apartamento.

A promotora Juliana Amorim disse que foi a apreensão do dinheiro que gerou a comunicação com a Corregedoria Geral da Polícia Civil, e que Adriana Belém provavelmente será indiciada por ocultação de prova.

Investigação sobre Marielle

O promotor Diogo Erthal disse que o MP investiga a possível participação de Rogério Andrade no assassinato da vereadora Marielle Franco. As investigações sobre a morte de Marielle auxiliaram nas buscas sobre Andrade.

— Investigamos a participação do Rogério Andrade na morte de Marielle Franco. Essa é uma linha (de investigação). Existe uma linha de história entre ambos — afirmou.

Questionado se a hipótese é de que Andrade tenha participado como mandante do assassinato de Marielle, Erthal respondeu que não podia dar mais detalhes, sob pena de prejudicar as investigações.

O promotor Fabiano Cossermelli destacou que a história da organização criminosa de Rogério de Andrade, que atua no estado há décadas, "se cruzou" com a morte da vereadora:

— Em determinado momento, essa organização se cruza com o homicídio da vereadora Marielle em março de 2018. A partir daí, o Rogério e seus financeiros entram para administrar. É algo muito rápido. Em pouco tempo eles colocam a casa para funcionar. A PM fecha essa casa, mas a organização passa a atuar para abrir a casa e resgatar 80 máquinas. Além disso, eles passam a corromper pessoas para que a casa não fosse fechada. Essa estrutura é violenta — pontuou.

Defesa de Andrade rebate

O advogado Ary Bergher, que integra a equipe de defensores de Rogério Andrade, disse que o Ministério Público do Rio de Janeiro "burlou uma decisão do Supremo" ao pedir a prisão do cliente. Para ele, a denúncia oferecida pela Operação Calígula contra o bicheiro é uma "reutilização das peças" do inquérito trancado pela Segunda Turma do STF, em fevereiro, no qual Rogério era acusado de ordenar o assassinato do rival Fernando Iggnácio. Bergher prometeu entrar com uma reclamação no Supremo contra a prisão de Rogério.

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