Vereadora do PSOL foi executada em março de 2018, no Rio de Janeiro
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Vereadora do PSOL foi executada em março de 2018, no Rio de Janeiro

O Ministério Público do Rio investiga a possível participação do bicheiro Rogério de Andrade no  assassinato da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes, motorista dela, em 2018. Deflagrada pelo órgão nesta terça-feira, a Operação Calígula teve como alvo Andrade e o PM reformado Ronnie Lessa, réu pela morte de Marielle. Segundo as investigações, eles eram próximos.

A ação cumpriu 12 mandados de prisão, incluindo os dos delegados Adriana Belém (ex-titular da 16ª DP, na Barra da Tijuca) e Marcus Cipriano, suspeitos de participar do esquema de contravenção liderado por Rogério, banqueiro de uma rede de jogos de azar.

Ele e seu filho, Gustavo de Andrade, número dois na hierarquia da organização, estão foragidos, e foram incluídos na lista de difusão vermelha da Interpol.

As investigações sobre o assassinato de Marielle Franco ajudaram o MP na operação contra Rogério de Andrade e Ronnie Lessa. Elas apontaram que as tratativas para que o ex-sargento da PM virasse sócio de Rogério de Andrade em um bingo na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, começaram em abril de 2018, dias após o assassinado de Marielle Franco e de Anderson Gomes.

“Investigamos a participação do Rogério Andrade na morte de Marielle Franco. Essa é uma linha (de investigação). Existe uma linha de história entre ambos”, afirmou o promotor Diogo Erthal em entrevista coletiva concedida pelos promotores do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na tarde desta terça-feira.

Questionado se a hipótese é de que Andrade tenha participado como mandante do assassinato de Marielle, Erthal respondeu, contudo, que não podia dar mais detalhes, sob pena de prejudicar as investigações.

Ainda na coletiva, os promotores destacaram que, embora fossem velhos conhecidos um do outro, Rogério e Lessa estavam bem próximos na época do assassinato de Marielle.

“Essa investigação (Calígula), deflagrada hoje, evidencia que, no momento contemporâneo à morte da Marielle, os dois eram muito próximos”, disse o promotor Marcelo Winter.

O promotor Fabiano Cossermelli afirmou que a história da organização criminosa de Rogério de Andrade, que atua no estado há décadas, "se cruzou" com a morte da vereadora.

“Em determinado momento, essa organização se cruza com o homicídio da vereadora Marielle em março de 2018. A partir daí, o Rogério e seus financeiros entram para administrar. É algo muito rápido. Em pouco tempo eles colocam a casa para funcionar. A PM fecha essa casa, mas a organização passa a atuar para abrir a casa e resgatar 80 máquinas. Além disso, eles passam a corromper pessoas para que a casa não fosse fechada. Essa estrutura é violenta”, pontuou.

Ainda segundo os promotores, o delegado Marcus Cipriano tinha um papel central de intermediação na organização criminosa junto a Lessa. Cossermelli afirmou que "houve várias reuniões entre Lessa e policiais civis e militares, que foram reportadas e aguardadas por Cipriano".

“Ele tinha uma atuação, atuava diretamente. Nas investigações da morte de Marielle e Anderson, em uma das operações, descobriu-se que familiares e pessoas do Lessa estiveram no local e jogaram a arma do mar. Nesse episódio, uma delegacia da defraudações foi flagrada nesse imóvel. Não era (para acontecer) atuação da delegacia de defraudações. Ela indicou o relacionamento do delegado e do Ronnie. A gente não sabe se ele (o delegado) ajudou na retirada das armas.”

Denúncias que se cruzam
De acordo com a decisão do juiz Bruno Monteiro Rulière, da 1ª Vara Criminal Especializada, provas do processo sobre a morte de Marielle e Anderson, assim como de outros procedimentos investigatórios desde 2014, foram compartilhados para a deflagração da Calígula.

Uma dessas ações penais foi a que ficou conhecida como Operação Intocáveis, que ocorreu em 2019 visando desarticular a alta cúpula do grupo de milicianos que atuava no bairro de Rio das Pedras, também na Zona Oeste da cidade.

Na ocasião, 13 pessoas acusadas de integrar a organização criminosa foram denunciadas pelo Ministério Público. Um deles era o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Adriano da Nóbrega, considerado o principal chefe da milícia de Rio das Pedras e da Muzema.

Como o militar morreu num suposto confronto com policiais na Bahia, onde estava escondido, em fevereiro de 2020, ele não foi submetido ao tribunal do júri. Os demais foram condenados.

Ainda segundo o despacho do magistrado, o processo acerca do homicídio do bicheiro Fernando Iggnácio, genro e herdeiro do também contraventor Castor de Andrade, também teve provas compartilhadas com a Operação Calígula. O crime ocorreu em um heliporto no Recreio dos Bandeirantes, também na Zona Oeste, em novembro de 2020.


De acordo com as investigações, Fernando disputava desde 1997 pontos de jogos de bicho e de máquinas caça-níqueis na com Rogério Andrade, sobrinho de Castor. A briga entre os dois teria começado após o assassinato de Paulo Andrade, o Paulinho, em 1998. Paulinho era filho de Castor e escolhido por ele para ser o herdeiro dos negócios ilícitos.

Com a ação desta terça, o MP espera, além de desbaratar o esquema dos pagamentos de propina de Rogério Andrade, produzir também novas provas contra Ronnie Lessa, que está preso e será julgado pela execução de Marielle.

A Operação Calígula visa ao cumprimento de 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão, incluindo os endereços de quatro bingos comandados pelo grupo. Pelos promotores, foram denunciadas 30 pessoas pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

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