Flordelis: defesa vai citar "abusos sexuais e emocionais" de Anderson

Seis filhos da ex-deputada estão entre as testemunhas e três estão no banco dos réus

O pastor Anderson do Carmo com Flordelis
Foto: Reprodução
O pastor Anderson do Carmo com Flordelis

Dezessete testemunhas serão ouvidas em julgamento sobre a morte do pastor Anderson do Carmo . O crime tem a viúva, a ex-deputada e pastora Flordelis dos Santos de Souza como principal acusada . Seis delas são filhos da também cantora gospel: Daniel dos Santos de Souza, Roberta dos Santos, Wagner Andrade Pimenta, o Misael, Alexander Felipe Matos Mendes, o Luan, Daiane Freires e Erica dos Santos de Souza. Outros integrantes da família também comparecem ao plenário do Tribunal do Júri em Niterói, Região Metropolitana do Rio, nesta terça-feira, porém no banco de réus.

André Luiz de Oliveira e Carlos Ubiraci Francisco de Oliveira são acusados de participação no plano para executar a vítima e foram presos em agosto de 2020, na segunda fase das investigações do caso. André, no entanto, não será mais julgado hoje após o advogado de defesa passar mal. Já Adriano dos Santos Rodrigues, também filho da ex-deputada, o ex-policial militar Marcos Siqueira e sua esposa, Andrea Santos Maia, vão a julgamento por terem participado do plano de produzir uma carta para atrapalhar as investigações do caso.

Presa, Flordelis não pode estar presente. O julgamento é acompanhado por seus advogados, que se preparam para no próximo dia 9 de maio ter a ex-deputada no banco dos réus.

"A defesa vai apresentar um conjunto de questões que respondem a duas coisas que nós achamos que são fundamentais: primeiro, que se baseia a acusação e a certeza de que ela realmente é culpada no depoimento de filhos, que os filhos teriam dito que ela é culpada, no entanto, existem vários filhos, e a grande maioria diz que ela não é culpa. Então nós achamos que esse núcleo de filhos tem interesses que ainda não foram ditos, ainda não foram revelados, eles têm interesse em fazer as acusações que fizeram", disse Janira Rocha, uma das advogadas de defesa de Flordelis, na entrada do Tribunal.

Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis com o primeiro marido, o pastor Paulo Rodrigues Xavier, será julgada ao lado da mãe em maio. Ela está presa desde 24 de agosto de 2020, acusada de ter prestado auxílio à ex-deputada no plano para matar Anderson, ajudando a convencer o irmão biológico, Flávio, a cometer o crime. Ela também responde pelas tentativas de envenenamento contra a vítima e de integrar a associação criminosa comandada pela mãe. Em janeiro do ano passado, Simone afirmou, primeiro, ter cometido o crime devido às investidas sexuais da vítima e, depois, por ter sofrido abusos sexuais. Ela namorou com o pastor Anderson antes de ele começar o relacionamento com Flordelis. Para a advogada, é preciso também revelar "quem realmente era o pastor Anderson":

"Outra coisa diz respeito ao perfil do próprio pastor. É demonstrar quem realmente era o pastor, que tipo de práticas ele teve dentro da casa, em relação às mulheres da casa, porque a Simone, como ela mesma já disse publicamente, agiu como agiu no sentido da morte do pastor. A defesa das acusadas quer fundamentalmente levantar algumas questões centrais, que para nós, se foram elucidadas, vão demonstrar no ́próximo júri onde estão realmente as responsabilidade, e vão demonstrar porque, a que interesse se serve ao esconder essas questões relacionadas aos filhos, relacionadas aos abusos sexuais, emocionais, patrimoniais que foram praticados naquela casa contra mulheres, inclusive contra Flordelis, e a quem serve esconder tudo isso", frisa Janira.

No total, o Ministério Público estadual pediu que sejam ouvidas 12 testemunhas. Além dos seis filhos, também foram convocados a prestar depoimento dois delegados que atuaram no caso: Bárbara Lomba e Allan Duarte. O investigador Tiago Vaz, que integrava a equipe de Duarte, também vai depor, convocado pelo advogado Angelo Máximo, que representa a assistente de acusação no processo, Claudia Maria Rodrigues, irmã da vítima.

Na chegada ao julgamento, o advogado rebateu a alegação de abuso sexual a crianças da família, que foi abordada no ano passado por Flávio dos Santos Rodrigues, filho da ex-deputada e do pastor, que recebeu uma pena de 33 anos e 6 meses de reclusão por envolvimento no caso. Durante o julgamento, em 24 de novembro, testemunhas negaram os relatos de abuso na família, diferentemente das alegações de Flávio.

"Eu acho que isso é uma tese da mais covarde que tem de se apresentar ao tribunal do júri, atacando a pessoa da vítima que não está aqui para se defender. Todas as mulheres da casa foram ouvidas em sede policial, e nenhuma delas reclamava de abuso sexual. Autoridades policiais já ouvidas aqui neste juízo já foram indagadas por este advogado que também confirmaram a negativa de qualquer pessoa da casa sobre abuso sexual, sobretudo diversas mulheres ouvidas na casa. E por mais que houvesse o abuso sexual, a Flordelis então tem participação pela omissão por ser mãe. Que mãe é essa que sabe de abuso sexual na casa, das suas filhas sendo vítimas, e não faz nada? É a pergunta que eu deixo para a defesa. Atacar a pessoa da vítima é fácil. Eu quero ver é reverter toda a prova do processo que tem e mostra que ela é a mandante do homicídio com a participação de todos os filhos que serão julgados nesse pleito, começando por hoje", disse o advogado Angelo Máximo.

Envolvimento de integrantes da família

Da numerosa família de Flordelis dos Santos de Souza, nove pessoas estão presas, incluindo a ex-deputada, acusadas de envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo e em tentativas de atrapalhar as investigações do caso. Do  total de 55 filhos que a pastora afirma ter, sete estão atrás das grades, além de uma neta.

O plano envolveu ainda pessoas fora da família: um ex-policial militar que ficou preso junto com dois filhos de Flordelis, além da mulher dele. Anderson do Carmo foi assassinado a tiros na madrugada de 16 de junho de 2019, na garagem da casa da família em Pendotiba, Niterói. As investigações demonstraram que, antes mesmo da execução, o grupo já vinha tentando matar a vítima por envenenamento.

A motivação do crime, segundo as autoridades, foi o controle que a vítima fazia das finanças e a administração rigorosa da casa, o que desagradava Flordelis e outros integrantes da família.