Um ano depois, assassinato do marido da deputada Flordelis continua sem solução
Polícia investiga participação de pessoas da família da deputada na execução do pastor Anderson, morto na madrugada de 16 de junho de 2019
Por Agência O Globo |
Nesta terça-feira (16), um dos crimes com maior repercussão no Rio em 2019 completa um ano. Na madrugada de 16 de junho do ano passado, o pastor Anderson do Carmo, marido da deputada federal Flordelis (PSD), foi morto a tiros na casa da família, em Pendotiba, Niterói. Apesar de dois filhos da parlamentar terem sido presos , a trama ainda é cercada de mistérios, incluindo o motivo do crime. A Polícia Civil investiga a participação de outras pessoas da família na execução.
Em depoimentos à polícia, Flordelis foi acusada por cinco filhos de envolvimento na morte do marido . O vereador de São Gonçalo Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Misael, e Daniel dos Santos de Souza foram os primeiros. Misael, que chamou Flordelis de mentora intelectual do crime, conversou com o EXTRA na última semana. Evitando mencionar o nome dela, alegando que o caso está sob sigilo, disse acreditar que o assassinato foi motivado pela disputa por poder e questões financeiras.
“Continuo mantendo minha fala de que foi questão de ambição em relação ao poder, controle de tudo, incluindo o financeiro. Porque ele (Anderson) era muito controlador e isso incomodava”, afirmou Misael.
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O vereador era braço direito de Flordelis e de Anderson, mas rompeu com a deputada após o crime. Lucas César dos Santos, um dos filhos dela, que foi preso acusado do crime, envolveu Misael no assassinato numa carta que escreveu na cadeia. A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, no entanto, investiga se o rapaz foi obrigado a escrevê-la para atrapalhar as investigações. Em audiência judicial, Lucas afirmou que foi obrigado a copiar o texto da carta com sua letra. A Justiça determinou que fosse aberto inquérito para apurar o crime de calúnia contra Misael.
No mês passado, a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce permitiu que o pai do pastor Anderson, Jorge de Souza, seja assistente de acusação no processo contra Lucas e Flávio dos Santos Rodrigues, outro filho de Flordelis, também preso. Jorge será representado pelo advogado ngelo Máximo.
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Os dois filhos de Flordelis foram presos poucos dias após o crime — ela ficou conhecida por ter adotado mais de 50 crianças com o pastor. Em agosto, Flávio e Lucas foram indiciados, mas a Polícia Civil abriu outro inquérito, acreditando na participação de mais pessoas. Em relação a Lucas, já houve decisão para que ele seja levado a júri popular. Já Flávio ainda não prestou o seu depoimento em audiência. Só depois que isso ocorrer é que a Justiça decidirá se ele também vai a júri popular.
Entrevista com o vereador Misael
Você acredita na participação de mais pessoas no crime, inclusive a Flordelis?
Sim, acredito por tudo que eu vi na casa e pelas provas que existem no inquérito policial. Está em segredo de Justiça, por isso não vou entrar em detalhes, falar nenhum nome. Mas eu acredito que há outras pessoas envolvidas direta e indiretamente no crime.
O pastor era considerado figura central na família, vários são os depoimentos à polícia nesta sentido. O que aconteceu na família após a morte dele?
A morte dele causou um rompimento familiar e afastamento por uns quererem justiça e outros, aparentemente, não. Acabou quebrando toda a corrente familiar. O elo todo acabou sendo quebrado.
Você e o Daniel (dos Santos de Souza) foram os primeiros filhos a apontar a participação da Flordelis no crime. Por que decidiu procurar a polícia e contar o que sabia?
Foi um impulso. Gostava muito dele (pastor Anderson do Carmo). Era um pai, um amigo que eu tinha. Então eu realmente não pensei nas consequências, no que poderia acontecer.
A morte de Anderson completa um ano nesta terça-feira. Você espera que a polícia conclua em breve essa segunda fase de investigações?
Eu acho que a justiça ainda não foi feita porque há mais pessoas envolvidas no crime. Mas acredito no trabalho da DH e do Ministério Público, que vão chegar em todos os culpados, e não somente em quem apertou o gatilho.