Após começar a circular a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para bloquear o uso do Telegram no país , usuários de extrema-direita começaram a se mexer. Nos grupos e canais monitorados pelo GLOBO, usuários trocaram "dicas" para driblar o bloqueio.
As mensagens começaram a pipocar às 15h31, logo após a divulgação da decisão de Moraes. Os usuários defendem o uso de sistemas VPN (redes virtuais privadas) para burlar a proibição e simular uma conexão fora do Brasil.
Grupos extremistas como "Ucraniza Brasil", "Censura Livre" e "Bolsonaro Presidente", entre outras dezenas, intensificaram o compartilhamento das dicas. O conteúdo alcança também grupos de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores de armas), neonazistas, conspiracionistas e antivacina.
A mensagem "COMPARTILHE COM TODOS QUE USAM O TELEGRAM: Manual anti-censura para o Telegram em smartphones" tinha sido visualizada por 7,5 mil pessoas em cinco minutos, às 15h53. O manual listava algumas técnicas que permitem também driblar canais banidos da Google Play Store e da App Store.
As dicas abrangem diferentes cenários, como, por exemplo, se o bloqueio levar a uma remoção do Telegram da Play Store, se houver manipulação da DNS (Domain Name System, ou Sistema de nome de domínio) ou se os endereços de IP dos servidores do Telegram forem banidos.
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Alguns usuários defenderam a migração para o Discord, aplicativo muito usado por gamers e defensores da privacidade dos usuários. Às 16h, a busca pelo termo "VPN" no Google havia disparado no Brasil, segundo o Google Trends, ferramenta de monitoramento de pesquisas no site.
Em dezembro, O GLOBO mostrou que grupos nazistas já haviam se antecipado a bloqueios de conteúdo e estavam driblando as plataformas de downloads do Google e da Apple para manter acesso a canais com discurso de ódio e conteúdo violento. Por meio de uma versão menos restritiva da plataforma, usuários tinham acesso a mensagens bloqueadas em aplicativos baixados via Google ou Apple.
O GLOBO acessou, nessa versão alternativa do Telegram, canais de conteúdo onde circulam mensagens antissemitas, racistas, homofóbicas e transfóbicas. Ataques contra negros, judeus, muçulmanos, mulheres e gays são o tema central desses ambientes. Há ilustrações violentas da vereadora assassinada Marielle Franco, vídeos de assassinato de moradores de rua e homenagens ao Holocausto que dizimou 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial. Declarações do presidente Jair Bolsonaro costumam repercutir nesses espaços.
O banimento dos canais via Google e Apple não impede o conteúdo de circular. Em 11 grupos a que o GLOBO teve acesso, naquela época, os usuários haviam compartilhado até então 9.331 imagens, 4.138 vídeos e 3.271 links.
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