Um levantamento da Rede de Observatórios da Violência, divulgado nesta quinta-feira (10), revela números preocupantes quanto à segurança das mulheres em pelo menos cinco estados do Brasil que são acompanhados pelo grupo. Em 2021, por exemplo, uma mulher foi vítima de feminicídio por dia em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco ou Ceará, segundo os dados levantados extraoficialmente. A maioria dos casos, tanto de assassinatos, quanto de violência — de vários tipos —, se concentraram em sua maior parte em SP, estado que também apresentou um aumento de 27% nas ocorrências em relação aos números da pesquisa de 2020. No RJ, a violência contra as mulheres cresceu 18%. No Ceará, o sinal de alerta está ligado por conta da crescente de ataques às mulheres trans.
Segundo o relatório, no ano passado houve registro de 1.975 casos de violência contra a mulher nos cinco estados monitorados, dos quais 409 (21%) foram feminicídios. Os crimes, em geral, foram cometidos em sua maioria pelos próprios companheiros das vítimas (65% em casos de feminicídio e 64% em casos de agressões), e, quando informado, por motivos torpes já conhecidos como brigas (28%), término de relacionamento (9%) e ciúmes (8%). Além disso, foram contabilizados 200 casos de estupro ou abuso sexual e 131 de tortura, sequestro ou cárcere privado.
De acordo com o Observatório, os dados são produzidos de maneira independente a partir de um monitoramento do que circula nos meios de comunicação e nas redes sociais sobre violência e segurança. Todos os dias, as pesquisadoras conferem dezenas de veículos de imprensa, coletam informações e alimentam um banco de dados que posteriormente é revisado e consolidado.
São Paulo acumulou, segundo o levantamento, 929 eventos de violência contra mulheres monitorados em 2021: foram 157 feminicídios — número maior que o oficial, de 136 mortes —, 501 agressões e tentativas de feminicídios e 97 estupros.
O Rio de Janeiro, segundo pior estado no retrospecto, tem uma média de um caso de violência contra a mulher a cada 24 horas. Foram 73 feminicídios, 192 tentativas de feminicídio ou agressão física consumada, além de 39 casos de estupro ou abuso sexual.
Pernambuco aparece na sequência com 311 registros de crimes contra mulheres. É, sob a perspectiva do estudo, o estado do Nordeste com o maior número de casos e o segundo entre os cinco estados em feminicídios, com 91 registros, enquanto a secretaria de segurança aponta 86 mortes.
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A Bahia aparece com uma média de um caso de violência contra a mulher a cada dois dias. No entanto, houve uma queda de 31% nos registros em relação ao mesmo estudo feito no ano anterior. Os feminicídios caíram pouco: de 70 em 2020 para 66 no ano passado.
O Ceará, de acordo com o relatório, também apresentou uma queda de 20% nos casos de violência contra a mulher, mas as pesquisadores ponderaram que um dos casos mais emblemáticos do último ano aconteceu justamente por lá: a agressão sofrida por Pamela Holanda praticada pelo ex-marido DJ Ivys. No estado, foram registrados 160 casos de violência contra a mulher.
Por outro lado, o Observatório aponta o Ceará como o líder entre os cinco estados do ranking de assassinato de mulheres trans, ou transfeminicídios, termo usado pelas pesquisadoras. Foram 11 casos registrados no ano passado. Entre eles, as autoras destacam a morte de Keron Ravach. Ela foi morta aos 13 anos depois que foi cobrar uma dívida por um programa ao assassino, de 17 anos de idade. Pernambuco também registrou número próximo, de 10 "transfeminicídios".
— Usar o termo transfeminicídio é crucial, pois assim se reconhece que são mulheres expostas ao feminicídio e à transfobia, que passa a ser encarada como uma problemática social. A sociedade que não reconhece nossos corpos não vê como a violência nos afeta — comentou a pesquisadora Dália Celeste, do Observatório da Segurança de Pernambuco.
A situação da violência contra as mulheres em âmbito nacional também impressiona quando observados os números finais da Operação Resguardo II, coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e executada pelas polícias civis em todo o Brasil. Ao fim de um mês de ações, os agentes encerraram a operação nesta terça-feira (8, Dia Internacional da Mulher), com 5,7 mil homens presos, sendo 1.113 só em SP.
De acordo com a pasta, foram mais de 53 mil mulheres atendidas vítimas de violência. Além das prisões, foram 9.572 denúncias apuradas, cerca de 44 mil diligências realizadas, 25.411 medidas protetivas foram solicitadas, e 724 vítimas foram resgatadas.