Jairinho
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Jairinho

Em uma mensagem de voz enviada por aplicativos de conversas, Flávio Fernandes afirma ter assumido a  defesa de Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, para “gerar o caos”. O advogado representou o engenheiro Leniel Borel de Almeida, pai de Henry Borel Medeiros, como assistente de acusação no processo em que sua ex-mulher Monique Medeiros da Costa e Silva e o ex-namorado são réus pela morte de Henry Borel Medeiros, e agora defende o médico e ex-vereador em uma ação por torturas contra a filha de outra companheira. No áudio, entretanto, ele menciona discussões com colegas sobre estratégias jurídicas a serem adotadas no caso em que o menino foi vítima.

"O objetivo é esse: o caos chamando pra mim (…). Se eu sair desse processo, acaba isso. Eu sou a figura principal desse processo. Entenda isso. Não tem outra. (…) Pode Evandro Lins e Silva ressuscitar, mas nenhum advogado da face da terra pode fazer por esse processo o que eu posso. Nenhum. Primeiro porque sou respeitado como ninguém é. (…) Porque não sou midiático, não fico aparecendo, sou professor, juiz pede pra eu defender", diz Flávio Fernandes na mensagem.

O advogado continua: "Não quero esculhambar ninguém não. Pode vir a OAB batendo em mim, Leniel batendo em mim, porque tenho a carcaça larga de 20 anos de muita reputação. O objetivo era esse. Quando eu entrei nesse processo era pra isso: pra apanhar e construir essa retórica (…) Eu que comando isso aí, porque o objetivo era eu entrar sendo o assistente de acusação. O assistente de acusação que saiu do processo porque discordava dos métodos do Leniel."

Na mensagem, com duração de pouco mais de quatro minutos, Flávio Fernandes ainda teceu opiniões sobre assuntos jurídicos, como arguição de suspeição e um habeas corpus impetrado pelos advogados.

Ao Globo , Flávio Fernandes admitiu ser dele a voz no áudio vazado, citou o livre exercício da advocacia e afirmou só trabalhar em causas em que acredita: "Quando falo em gerar um caos é porque foi construído que o Jairo é um monstro e até agora ninguém levantou a voz para defende-lo. Criaram a ideia de que ele tem a personalidade voltada para a prática de crimes, sendo que até o caso Henry ele nunca tinha respondido a nenhum processo. Jairo é meu cliente e é meu dever profissional, ético e moral repudiar quaisquer atos que possam influenciar negativamente nos casos em que eu atuo", alegou.

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Na semana passada, Leniel entrou com uma representação na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em que requer a abertura de um procedimento ético disciplinar para apuração da conduta e afastamento compulsório de Flávio do processo em que ele defende Jairinho , além das sanções administrativas pertinentes. “Apesar da habilitação não se referir diretamente ao processo no qual figurou como meu advogado anteriormente, é indubitável a interligação informacional e probatória entre eles, sob embasamento precípuo de envolver réu idêntico, sem obstar o delito de tortura a qual submeteu igualmente meu filho”, escreveu o engenheiro no documento.

"Este áudio criminoso só confirma minha desconfiança contra Flávio Fernandes, ou seja, que estaria fazendo jogo duplo no caso do meu filho e de outras vítimas do Jairo. A minha suspeita está confirmada e isso me fez ingressar com uma representação contra este "advogado" na Ordem dos Advogados do Brasil. Agora está confirmado que este advogado entre aspas está praticando crimes de tergiversação e patrocínio infiel pela ganância", disse Leniel ao Globo .

Há duas semanas, a juíza Luciana Mocco Moreira Lima, da II Vara Criminal de Bangu, já havia solicitado que o Ministério Público se manifestasse sobre a atuação do advogado no processo. "Considerando a notícia veiculada pelos meios de comunicação de que o advogado constituído pelo réu nos autos já atuou como assistente de acusação de Leniel Borel de Almeida em processo em que seu cliente consta como réu, diga o Ministério Público. Oficie-se com urgência ao juízo para que informe se o referido patrono ainda atua como assistente de acusação, e, em caso negativo, qual período em que restou habilitado", escreveu a magistrada.

Sobre o assunto, Flávio Fernandes também se manifestou no processo: "Enquanto assistente de acusação não realizou quaisquer atos processuais. Somente seis meses após optar por retirar-se da assistência no processo em que se apura a morte do menino Henry Borel, aceitou realizar a defesa técnica de Jairo Sousa Santos Jr., em processos que não guardam qualquer conexão, dependência ou relação com a sua função enquanto auxiliar do Ministério Público. Destaca ainda que os fatos apurados no presente processo supostamente ocorreram em período cronologicamente anterior a morte de Henry, o que corrobora para a demonstração de inexistência de vínculo processual".

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