Preso há mais de cem dias, o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos — conhecido como "Faraó dos Bitcons" — publicou carta aberta aos clientes nas redes sociais nesta quarta-feira (8). No texto ele fala da expectativa pela liberdade, após a prisão em agosto durante a Operação Kryptos, deflagrada pela Polícia Federal. Em trecho, ele afirma ser uma "tortura psicológica" além de viver seu "pior pesadelo".
No texto ainda é dito que em mais de três meses de prisão foram recebidas "visitas de dezenas de pessoas", dos quais algumas seriam "bem-intencionadas", enquanto "outras tantas mal-intencionadas", que estariam tentando "extorquir e vendendo ilusões" em troca da liberdade de Glaidson.
O comunicado, divulgado em formato de vídeo, tem início com o seguinte trecho:
“Escrevo esta carta de coração quebrado por saber que há três meses vocês estão sem receber seus rendimentos. Nunca, nem nos meus piores pesadelos, poderia imaginar que isso poderia acontecer. Que estaria preso injustamente, que seríamos proibidos de pagar um dinheiro que contratualmente pertence a vocês, que veríamos uma história de quase uma década de muito trabalho ser jogada na lama, sem jamais termos causado dano algum a alguém"
Nos comentários da publicação há relatos em defesa de Glaidson. Em outubro, durante o julgamento de um pedido de habeas corpus para o empresário, uma multidão se reuniu no Centro do Rio para acompanhar o parecer. Até o mês passado, o "faraó" respondia a pelo menos 572 processos no Tribunal de Justiça do Rio.
Segundo investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, Glaidson tinha a intenção de deixar o Brasil na mesma data em que acabou preso. Para os investigadores, uma ligação telefônica interceptada com autorização da Justiça é a prova de que o ex-garçom tinha a intenção de fugir.
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O telefonema aconteceu na tarde do último dia 23 de agosto, às 14h30. No diálogo, Michael de Souza Magno, apontado pela PF como um importante operador financeiro no esquema montado por Glaidson, conversa com um homem não identificado. "Porque ele já sabia que ele tinha que sair do país rápido", afirma o interlocutor para Michael, referindo-se, segundo a PF, ao ex-garçom. Pouco depois, o próprio Michael diz: "Já era pra ter ido embora, cara, pra 'tá' bem longe daqui. Aí fica no Rio, fica indo em resenha, fica indo não sei aonde, vai pra festa".
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No comunicado divulgado ontem, Glaidson afirma: "Nunca tive a intenção de fugir". A defesa alegou, quando fez o pedido de habeas corpus, que a viagem marcada tinha como finalidade a participação em uma “convenção e confraternização da G.A.S” que seria realizada em Punta Cana, na República Dominicana.
"Apesar de tudo, eu ainda acredito que a justiça será feita", diz em outro momento do documento.
Relembre o caso
Preso desde 25 de agosto, Glaidson é apontado como responsável pela criação de uma pirâmide financeira, disfarçada de investimentos em bitcoins, em Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense. O esquema teria amealhado 67 mil clientes, com um volume de R$ 38 bilhões em operações financeiras de 2015 aos dias atuais. Até o momento, as autoridades só conseguiram apreender cerca de R$ 200 milhões. Do restante, é sabido apenas que a venezuelana Mirelis Zerpa, mulher de Glaidson que está foragida, conseguiu sacar R$ 1 bilhão em bitcoins após a prisão do marido.
Segundo a PF, a empresa de Glaidson oferecia contratos de investimento sem prévio registro junto aos órgãos regulatórios e previa insustentável retorno financeiro sobre o valor aportado. A GAS Consultoria prometia lucros de 10% ao mês mediante o investimentos em bitcoins, mas os investigadores afirmam que a GAS nem sequer reaplicava os aportes em criptomoedas, enganando duplamente os investidores.
Ele está preso na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste.