O cancelamento da festa de réveillon, anunciado pelo prefeito Eduardo Paes, por enquanto não impactou o planejamento para o carnaval de 2022. Nas escolas de samba, com frisas e camarotes esgotados e a metade dos ingressos para as arquibancadas da Sapucaí vendida, a produção de alegorias e fantasias segue a todo vapor.
O avanço da variante Ômicron do coronavírus, porém, levou os organizadores da festa a se adiantarem, impondo uma nova medida sanitária para as noites de desfile: todos que quiserem assistir ou participar do espetáculo precisarão mostrar o passaporte vacinal, e o público poderá ter que usar máscaras. Já para os 506 blocos inscritos para realizar cortejos de rua, a Riotur mantém a previsão de, até o fim deste mês, divulgar a lista final dos autorizados a se apresentar.
Com esse cenário, apesar das preocupações que se espalharam pelos bastidores da folia logo após a reviravolta nos planos para as celebrações da virada, Jorge Perlingeiro, presidente da Liga Independente das Escola de Samba (Liesa), garantiu que o ritmo não muda. Ele disse que as agremiações estão sendo avisadas de que as regras anunciadas valerão também para todos os profissionais que tiverem acesso à Avenida.
"É um evento fechado e particular. Todos que entrarem na Sapucaí vão estar vacinados. Isso vale, inclusive, para os componentes. Ao pegarem as fantasias, eles terão que mostrar seu atestado de vacinação, se não, não vão desfilar. Estamos pedindo que essa medida também seja tomada nas quadras em todos os ensaios até o carnaval. Com isso, a gente quer dar tranquilidade aos que vão participar do espetáculo, assim como colaborar com aqueles que lá estarão para garantir a sua segurança", afirma Perlingeiro.
Para conseguir verificar a imunização das cerca de 70 mil pessoas que assistem aos desfiles, além dos profissionais envolvidos no evento, a Liesa pretende empregar o mesmo sistema utilizado no Grande Prêmio de Fórmula 1 de São Paulo, realizado no mês passado. Na ocasião, os participantes precisaram se cadastrar em uma plataforma desenvolvida pela startup franco-brasileira Mooh!Tech.
Vendas aceleradas
Após um hiato de um ano sem a festa popular no sambódromo, as vendas de ingressos estão sendo feitas em tempo recorde. As frisas e os camarotes esgotaram no dia em que foram postos à disposição dos interessados. A venda das arquibancadas, iniciada em meados de outubro, também chamou atenção: foram seis mil entradas comercializadas no primeiro dia, um volume seis vezes maior do que a Liga costuma ter na estreia da bilheteria.
Já nas quadras, eventos como o “Salgueiro Convida” têm atraído grande público, que precisa ter o passaporte da vacina para entrar. Logo após informar que não haveria mais festa oficial no réveillon, Paes incentivou as agremiações a continuarem nessa cadência de preparativos, que segue também na montagem da Marquês de Sapucaí.
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"A pandemia está aí, ela não acabou. Mas, está muito cedo para tomar qualquer decisão. Por enquanto, escolas de samba, planejem seu carnaval, continuem se organizando! Se Deus quiser, vamos ter a festa", afirmou Paes no sábado.
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Pesquisadores acreditam que, a depender do cenário da pandemia nas próximas semanas, é possível manter a programação para o fim de fevereiro. Professor do Instituto de Medicina Social da Uerj, Mário Roberto Dal Poz diz que o cancelamento do réveillon pode representar a possibilidade de realização de um carnaval com segurança.
"Temos três meses até o carnaval. Até lá, teremos tempo para pesquisas e mais informações sobre a variante Ômicron. Além disso, nesse período, a cobertura vacinal vai avançar, o que proporcionará mais segurança. Sacrificar o réveillon pode significar um carnaval seguro", diz ele.
Impacto a avaliar
Também professora da Uerj, a epidemiologista Gulnar Azevedo afirma que o tempo até o carnaval é necessário para que os cientistas estabeleçam quais são os cuidados específicos que a nova variante exige.
"Neste momento, no Rio, temos pessoas que ainda não tomaram a segunda dose da vacina. Até o carnaval, as campanhas para a imunização completa devem ser reforçadas, enquanto a ciência estuda quais são os cuidados necessários. No carnaval, pessoas de todos os cantos do mundo vêm para o Rio. É melhor que cancelem o réveillon do que registrarmos aumento nas curvas de contaminação", analisa a epidemiologista.
Já entre os artistas que dão forma e conteúdo à festa, o carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, diz que o cancelamento da festa de réveillon não interferiu no ritmo de produção do barracão.
"O carnaval é feito ao longo de dez meses. Seguimos trabalhando a todo vapor para produzir 4 mil figurinos sete carros alegóricos. Existe uma organização prévia que contrata e remunera uma cadeia produtiva enorme e que segue “a mil", com todos os protocolos de segurança que qualquer fábrica possui", afirma ele.
Para os blocos, a fase atual é um compasso de espera, mas habitual nesta época do ano. Segundo a Riotur, são 620 desfiles propostos na cidade. E a avaliação de quem estará apto a ir para as ruas será feita pelo Corpo de Bombeiros e pelas polícias Civil e Militar. Até agora, apenas o Bloco da Preta, da cantora Preta Gil, anunciou que não desfilará.