Manifestantes ficaram feridos após confronto com a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e policiais militares durante atos contra a reforma da Previdência em frente à Câmara Municipal de São Paulo , votada na tarde dessa quarta-feira (10). Beatriz Branco, advogada do vereador Celso Gianazzi (PSOL), que estava do lado de fora do prédio quando o conflito começou, disse que havia cerca de 40 mil servidores públicos participando do protesto de ontem, entre eles idosos, mulheres e professores.
O primeiro embate ocorreu por volta das 16h30 com a GCM, que atirou balas de borracha após manifestantes jogarem ovos, garrafas e mastros da bandeira contra o prédio da Câmara. De acordo com a advogada, apesar de algumas pessoas terem causado confusão, o protesto estava calmo. "Não negamos que um pequeno grupo, de cerca de dez pessoas, tentou invadir a Câmara. E não dá para saber se essas pessoas eram servidoras públicas. Inclusive, conversei com a GCM, que disse que provavelmente elas estavam infiltradas no ato. Mas, tirando essas dez pessoas, a manifestação estava pacífica", disse ela em entrevista ao iG .
"A GCM, então, tentou conter esses indivíduos. Eles poderiam ter detido o grupo, mas começaram a tacar bomba nos 40 mil servidores, além de atirar com bala de borracha. Foi uma carnificina. Muitos ficaram feridos", acrescentou.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) foi avisada de um princípio de confronto por volta das 18h30 de ontem e se dirigiu ao local. "A informação era de que tinham sido jogadas bombas, que havia algumas pessoas feridas e outras pisoteadas, então, imediatamente, acionamos o nosso plantão de acompanhamento de manifestações públicas", relatou o vice-presidente na Comissão, Arnobio Rocha, ao portal. "Quando chegamos, o clima parecia de guerra".
Depois de muitas tentativas, Arnobio e outros dois membros da Comissão que se deslocaram até o local do conflito conseguiram conversar com um dos inspetores da GCM para tentar fazer a mediação da situação, mas, segundo o advogado, eles não queriam fazer nenhum tipo de declaração sobre o ocorrido. "Havia uma tensão muito grande. Eles relataram que já tinham recebido pedradas e que só tinham se defendido, mas dá para ver, pela situação, que houve uma desproporção entre a tentativa de entrar na Câmara e a reação por parte da GCM".
O vice-presidente da Comissão relatou ter visto pessoas sendo arrastadas e, quando tentou conversar com os guardas, um deles apontou uma arma que usava para atirar bala de borracha contra o peito dele para que Arnobio se afastasse e não interrompesse a atividade da GCM, que justificou estar "limpando a área para evitar mais conflito", conforme o advogado.
Beatriz Branco também disse ter tentado conversar com os inspetores gerais da GCM. De acordo com ela, eles afirmaram que o superintendente da Câmara estava no Plenário devido à discussão entre a vereadora Cris Monteiro (NOVO) e a colega de partido Janaína Lima e pediram para que ela falasse com a GCM municipal. "Eu liguei para a superintendência e conversei com o comandante responsável pela operação, e ele disse: 'não temos contato com quem está no ato'".
"Ouvi do superintendente da GCM que, mesmo que o grupo que tentou invadir a Câmara seja infiltrado, 'a GCM vai combater, e outras pessoas acabarão sendo atingidas'. Ele ainda disse: 'a bomba de gás lacrimogênio não é letal', como se fosse um problema menor. A gente sabe a gravidade disso. Eu mesma já fui vítima de bomba de gás lacrimogênio e trato estresse pós-traumático até hoje", acrescentou a advogada do vereador psolista.
Uma das servidoras que participava do ato foi atingida e disse que muitas professoras levaram os filhos na manifestação e precisaram correr quando os guardas civis estavam atirando. "Eu fui para trás de um caminhão e eles começaram a lançar aqueles projéteis. Um dos projéteis de gás bateu na parte traseira da minha perna. A minha sorte é que eu estava de calça comprida, porque bateu e queimou na hora, está inchado até agora. Estou até mesmo com dificuldade para andar. Teve, inclusive, uma professora que caiu e acabou quebrando o tornozelo", afirmou Cláudia Martinho, de 61 anos.
"Todos esses dias nós estávamos indo nos manifestar em frente à Câmara e nada aconteceu. E, justamente no dia da votação , eles criam esse fato para poder falar que somos violentos", continuou.
Em nota enviada ao iG , a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que "os protocolos de uso progressivo da força foram utilizados para conter a situação e evitar danos". No texto, a pasta disse que uma servidora aposentava que teve a perna quebrada ao cair durante a correria e guardas civis que sofreram lesões foram socorridos e receberam atendimento médico.
Sessão tensa
O clima de tensão se estendeu para dentro da Câmara durante a votação da proposta. Em meio à sessão sobre a reforma da Previdência, os parlamentares Rubinho Nunes (PSL) e Erika Hilton (PSOL) se xingaram de "mimados", "merdas" e "bostas" .
Enquanto a vereadora realizava seu discurso, o relator da proposta Rubinho Nunes a interrompeu com contrapontos. A atitude desencadeou uma resposta da parlamentar e a confusão começou.
Ainda, após o desentendimento entre as vereadoras do Partido Novo na mesma sessão , nesta quinta-feira (11) a legenda decidiu suspender liminarmente a filiação de Janaína Lima e Cris Monteiro .
Hoje, nas redes sociais, as duas publicaram vídeos e fotos mostrando o momento em que a briga começou e o resultado das agressões .