Chuva em São Paulo
Reprodução: Agência Brasil
Chuva em São Paulo

No chamado Brasil Central, ou seja, Sudeste, e boa parte do Centro Oeste e Nordeste, a recorrência das chuvas no último mês chamou a atenção, e gerou até piadas e memes, sobre a ausência de sol. Em novembro, a tendência deverá ser mantida, ainda que distante de eventos extremos que possam ser associados a mudanças climáticas, mas sim explicada por fenômenos já conhecidos, como o La Niña, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a temperatura mais alta das águas do Oceano Atlântico.

A dificuldade de pesquisadores e meteorologistas em traçar uma previsão global para o Brasil se explica pela sua extensão de país continental, e a presença de múltiplos fatores climáticos a cada estado. Mas, há expectativas para cada região, em novembro. No Sul, de acordo com o Climatempo, o tempo deverá ser mais seco, com o acúmulo de chuva podendo ficar numa quantidade de 100 a 200 mm abaixo da média para o mês.

No Sudeste, a previsão varia de acordo com o estado. Em São Paulo , será ligeiramente mais seco, com 25 mm abaixo da média de novembro, assim como na Região Metropolitana do Rio. Já em Minas e no Espírito Santo, a chuva deverá dar as caras de maneira mais intensa. Nesta segunda, por exemplo, foi registrado chuva de granizo na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Ainda segundo o Climatempo, a tendência é de chuvas acima da média na Bahia, Maranhão e Piauí, e em quase todo o Centro Oeste. No Norte, a precipitação será elevada apenas na sua parte ao sul, em Tocantins, Rondônia, Acre, sudeste do Pará e sudoeste do Amazonas. De maneira geral, o tempo será mais seco nas extremidades do país, no Norte e no Sul, e com mais chuvas na região central.

Diferentes influências para a chuva no Sudeste


Vale destacar que outubro e novembro ainda não são considerados estações chuvosas em quase todo o país. Por isso, um aumento de precipitações nesse período - ainda que seja possível observar acréscimo proporcional - nem sempre se trata de uma quantidade relevante em números absolutos. Débora Rodrigues, professora de climatologia da Universidade Estácio de Sá, destaca dois fatores específicos de 2021 para explicar o cenário atual: o La Niña e um leve aumento na temperatura do Oceano Atlântico no sul do país.

"Desde janeiro os pesquisadores já avisavam do La Niña, e as previsões se confirmaram. Geralmente, esse fenômeno provoca mais chuvas na Amazônia e no Nordestes e deixa o Sul mais seco, enquanto no Sudeste e Centro Oeste o efeito é mais imprevisível. Já ocorreu de La Niña provocar tanto aumento de chuvas, quanto estiagens. Por isso, meteorologistas preferem bater o martelo num momento mais próximo. Nesse ano, estamos vendo mais o efeito do aumento de chuvas", explicou Rodrigues.

O La Niña é um fenômeno natural que, oposto ao El Niño, consiste na diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico, logo abaixo da Linha do Equador. Um resfriamento, geralmente, de um a dois graus, que já é o suficiente para favorecer frentes frias no Brasil. Aliado a isso, Rodrigues cita que foi observado, nos últimos meses, um leve aumento na temperatura das águas do Oceano Atlântico, entre o Sul do Brasil e a Argentina.

"Isso significa maior evaporação, formação de nuvens e nebulosidade, o que resulta nas chuvas subindo até o Sudeste e Centro Oeste. Mas, nas próximas semanas, deveremos ter menor chuva do que em outubro, chegando no padrão de primavera. E dezembro seria menos chuvoso", disse a especialista, que descarta, por ora, relação das chuvas recentes com mudanças climáticas do planeta.

"Ainda não há comprovação científica informando que seriam casos de consequências das flutuações climáticas do planeta. Mas obviamente que o aquecimento global promove alterações, e é preciso se estudar".

Professor de meteorologia da UFRJ, Wallace Menezes ainda coloca um terceiro integrante na equação: a Zona de Convergência do Atlântico Sul, que é uma faixa de nebulosidade/umidade que sai do sul da Amazônia até o Oceano Atlântico, passando pelo Sudeste brasileiro.

"A ZCAS pode durar de quatro dias a três semanas, e seu posicionamento é determinante para influenciar nas chuvas. Quando fica mais ao Sul, por São Paulo e Paraná, chove menos no Rio. Mas, dessa vez, ficou mais ao norte, pegando o Rio, e resultando no período chuvoso", afirmou Menezes.

La Niña imprevisível no Nordeste


No Nordeste, o regime das estações de chuva é diferenciado, frisa Meiry Sakamoto, Gerente de Meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Enquanto ao norte, do Ceará ao Maranhão, o principal período de chuvas começa em fevereiro, ao sul, a estação começa já em dezembro. No Ceará, outubro é um mês geralmente seco, com média dos últimos 30 anos de apenas 3,9 mm de chuva acumulada para o mês. No mês passado, o número foi proporcionalmente maior, e alcançou 6 mm, mas ainda pouco em quantidade absoluta.

Esse aumento recente, explicou, se associa às ZCAS, que atingiu, especialmente, o Sul da Bahia. O aumento da temperatura das águas do Oceano Atlântico, na própria região da Bahia, também seria uma outra explicação. Assim, em novembro, a tendência é que a ocorrência de chuvas siga em leve aumento em comparação à média histórica.

Já sobre a influência do La Niña, Sakamoto explicou que seu resultado é muito imprevisível no Ceará. Ao analisar 24 eventos de La Niña nas últimas décadas, entres os meses de dezembro e fevereiro, ela observou que, em metade, o nível da precipitação ocorreu dentro da média, em sete foi abaixo, e em cinco acima.

"O El Niño tem contribuição mais claro para o período seco. Já o La Niña, o óbvio seria pensar que aumentaria as chuvas, mas não é bem assim. Percebemos que depende de outros fatores de influência, como os relacionados ao Oceano Atlântico", explicou Meiry Sakamoto.


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