Jair Bolsonaro não é convidado para reunião climática promovida pela Argentina
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Jair Bolsonaro não é convidado para reunião climática promovida pela Argentina

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, foi anfitrião de uma reunião virtual latino-americana sobre mudanças climáticas, nesta quarta-feira, que não teve a participação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) . A ausência do brasileiro foi interpretada por especialistas ouvidos pelo Globo como mais uma oportunidade perdida para que o Brasil se mantenha como protagonista nas discussões sobre o meio ambiente na região.

A reunião teve a participação  de nomes como os do enviado especial para assuntos climáticos dos Estados Unidos, John Kerry; do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres; e de Alok Sharma,  presidente da COP -26, a conferência mundial sobre o clima que acontecerá em novembro deste ano, na Escócia.

Entre os chefes de Estado presentes, estavam os presidentes da Colômbia e do Paraguai, Iván Duque e Mario Abdo Benítez, respectivamente. No caso do Brasil, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, enviou um vídeo gravado.

Segundo uma fonte do governo brasileiro, a reunião promovida por Fernández não tinha um caráter negociador. Era "um debate virtual irrelevante, do ponto de vista substantivo" e não pode ser considerada uma prévia da COP-26.

Essa fonte enfatizou que o evento tinha importância limitada, "para atender a uma agenda interna" do líder argentino. Também enfatizou que poucos presidentes participaram do evento virtual. 

Alberto Fernández e Bolsonaro são adversários políticos na região. Desde que assumiu, o argentino procura ocupar lacunas deixadas pelo Brasil nas relações com atores internacionais, como os Estados Unidos, observou um interlocutor do governo.

Ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc destacou que o Brasil esteve na vanguarda em várias frentes ambientais. Foi o primeiro país em desenvolvimento a ter metas de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa e o primeiro a ter um projeto para mitigar os efeitos do aquecimento global pela redução do desmatamento. Ele acrescentou que o governo brasileiro também realizava reuniões frequentes com outras nações amazônicas, como Peru, Colômbia e Equador.

"O Brasil não só perdeu o protagonismo ambiental como virou protagonista do antiambientalismo", afirmou Minc.

Daniel Wilkinson, diretor da divisão de meio ambiente e direitos humanos da Human Rights Watch, avalia que esse tipo de procedimento piora a imagem do Brasil. Para ele, a ausência de Bolsonaro da reunião mostra descompasso entre o presidente brasileiro e outros líderes internacionais.

"A ausência de Bolsonaro na cúpula latino-americana sobre o clima só vai reforçar a percepção de que o Brasil está em descompasso com outros líderes no que diz respeito ao enfrentamento das mudanças climáticas. Enquanto o resto do mundo se mobiliza para enfrentar a maior crise global de nosso tempo, as políticas desastrosas de Bolsonaro na Amazônia correm o risco de fazer do Brasil um pária internacional",  disse Wilkinson.

Secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini ressaltou que o Brasil ocupava espaços importantes em temas centrais: a habilidade e a capacidade dos negociadores nacionais e a Amazônia.

Ele acredita que, na primeira parte, talvez a Argentina ou outros países da América Latina possam se empenhar para preencher o vácuo. No caso da Amazônia, é quase impossível alguma nação tomar o lugar de um país que tem de 60% a 65% da floresta em seu território.

"Na verdade, o que precisamos, principalmente nessa pauta ambiental, não é de alguém no lugar do Brasil, mas sim de que o país seja resgatado do fundo do poço em que o atual governo nos colocou e reassuma seu lugar na agenda de clima, coisa que não acontecerá com Bolsonaro", disse Astrini.


Para o professor de engenharia florestal da Universidade de Brasília Carlos Francisco Rossetti, a mudança climática é de grande relevância ecológica, econômica e social e representa uma oportunidade de inserção para todos os países, governos e sociedade civil. Segundo ele, o Brasil sempre terá protagonismo nesse tema.

"Não entendo que o Brasil perde o protagonismo nesta questão de interesse que ultrapassa ideologias, limites geográficos, e vem para fazer parte da matriz de gestão do ambiente. É claro que não se pode retardar as políticas mais adequadas, e é muito claro que ainda temos um longo caminho pela frente", disse o professor universitário.

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