A doméstica Alcinete Costa precisou faltar ao trabalho nesta segunda-feira (7). Com medo da onda de ataques criminosos que vem atingindo a região metropolitana de Manaus , ela não quis deixar suas duas filhas, de 20 e 17 anos, e a neta de 2 anos, sozinhas em casa.
Diante do caos instaurado no transporte coletivo e incêndios constantes, questiona a segurança de sua família e reclama da falta de policiamento no bairro do Mutirão, Zona Norte da capital amazonense.
Os ataques vêm atingindo a cidade desde as primeiras horas de domingo (6). O poder público tenta controlar o caos com medidas restritivas, mas as ameaças à população persistem. Criminosos atearam fogo em pelo menos 21 veículos, sendo 14 ônibus e duas viaturas. Agências bancárias e prédios públicos também foram alvo, o que reduziu o fluxo nas ruas.
Segundo Alcinete, apesar de a violência
ser frequente onde mora, a gravidade é ainda maior neste momento. Ela optou por não ir trabalhar nesta segunda, mesmo com sua empregadora dizendo que pagaria um carro particular para seu trajeto.
"A gente mora em uma área perigosa, todo cuidado é pouco aqui. São muitas ameaças em grupos para não sair de casa, não ficar ninguém na rua, senão eles vão dar tiro. Me sinto ameaçada, tenho minhas filhas. Não posso sair para trabalhar e saber que minhas filhas não estão seguras. É muito triste", lamenta. "Quem está na frente disso tem que tomar uma providência muito grande, a gente sofre com isso. Eu vi poucas viaturas aqui por perto, hoje, só de vez em quando. Quando as viaturas vêm, a situação melhora, a gente se sente seguro".
Na manhã desta segunda-feira (7), o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram) informou que a operação da frota do transporte coletivo foi suspensa . A partir das 12h, porém, a circulação de ônibus retornou com um terço das frotas. Até o momento, 14 suspeitos foram presos, segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado (SSP-AM).
O governador do Amazonas, Wilson Lima , pediu ao Ministério da Justiça o envio de tropas da Força Nacional para reforçar a segurança no estado. Na noite desse domingo, criminosos a bordo de lanchas tentaram arremessar uma granada em direção à delegacia da 24ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom), no centro de Manaus, e entraram em confronto com policiais.
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O medo também afeta Eduarda Galvão, moradora do Bairro da Paz, na região Centro-Oeste da capital amazonense. Segundo ela, os incêndios continuaram nesta manhã. Na noite anterior, o susto foi com uma grande queima de fogos de artifício.
"Voltei do trabalho ontem à noite por volta das 19h30, os carros não queriam circular e as ruas estavam desertas. Senti medo e apreensão no caminho inteiro. Fico apreensiva pelos amigos e familiares que moram próximos aos bairros que são foco", destaca.
"Estamos nos sentindo presos por não poder sair, reféns em nossas casas, porque há vídeos deles atirando indiscriminadamente pelas ruas. Colegas me relataram ontem que os bandidos pararam e questionaram para onde eles iriam, por que estavam na rua. Depois liberaram porque eram trabalhadores", diz Eduarda.
Já os serviços de Saúde, que inicialmente permaneceriam em funcionamento, também estão sendo afetados. A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), informou em nota que as unidades de saúde e os postos de vacinação permanecerão fechados e mesmo os trabalhadores do setor encontram dificuldades para chegarem aos seus postos de trabalho.
Efeitos colaterais para os trabalhadores
Apesar de trabalhar na área da Saúde, que até a manhã desta segunda não estava paralisada, Driele Fonseca não conseguiu chegar ao seu emprego porque não havia transporte coletivo.
Ela faz parte de uma equipe de atendimento ao público em uma policlínica na Zona Sul de Manaus. Moradora da Zona Leste, ele demora cerca de uma hora e meia para chegar ao local, mas não pode ir hoje.
"Não consegui chegar ao meu trabalho. Meu setor é conhecido como o coração da unidade, onde a população marca seus exames e tratamentos. Fui informada que o setor estava vazio. Pacientes compareceram, mas não havia ninguém para atendê-los", conta.
"A gente sabe como essas coisas são complicadas e prefere ficar em casa porque sabemos da violência e não queremos correr riscos. A gente não brinca com esse tipo de coisa", completa Driele.
A empresa de Haniery Mendonça também não conseguiu produzir na manhã desta segunda Os funcionários não puderam sair às ruas para o trabalho. Ele mora na região Centro-Sul de Manaus, no bairro de Vieira Alves.
"A empresa parou hoje de manhã. Nem tudo dá para se fazer com home office. Para mim, foi um tiro no pé. A sensação é de insegurança. Alguns amigos estavam procurando lugares seguros para guardarem seus carros, muito preocupados, porque eles estavam tacando fogo em qualquer veículo. Ficou uma incerteza, ninguém sabia o que poderia acontecer. Muita coisa parou pela manhã e ainda não sabemos o que vai acontecer à tarde", afirma o empresário, morador da região Centro-Sul da cidade.