O depointo do ex-secretário de Comunicação do governo Fábio Wajngarten , nesta quarta (12/05), foi o mais conturbado até agora na CPI da Covid , que investiga ações e omissões do governo durante a pandemia.
Demitido do governo de Jair Bolsonaro em meio a suspeitas de corrupção, Wajngarten era um dos depoimentos mais aguardados na Comissão Parlamentar de Inquérito desde que deu uma entrevista à revista Veja acusando o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de incompetência nas negociações de compra de vacinas.
Antes de sua demissão, havia rumores de que Wajngarten estaria se envolvendo em assuntos do Ministério da Saúde , mesmo sem ser da área, por interesses pessoais. Na entrevista à Veja, o ex-secretário afirmou que seu envolvimento na compra de vacinas aconteceu porque o processo estava "sofrendo entraves" no Ministério da Saúde.
No entanto, durante a CPI, Wajngarten evitou responder diretamente diversas perguntas do relator Renan Calheiros (MDB-AL) — disse na CPI, por exemplo, que nunca fez parte das negociações e que apenas teve uma reunião com a Pfizer "para ajudar". À Veja, Wajngarten afirmou que havia se envolvendo nas discussões com a empresa após a Pfizer não receber resposta do ministério da Saúde.
Wajngarten também negou que estivesse se referindo a Pazuello quando falou à revista Veja. "Eu entendi que ele ocupou um espaço diante da saída do dr. Teich, que eu lamentei muito. O ex-ministro Pazuello foi corajoso em assumir uma pasta no pior momento do Brasil", disse Wajngarten à comissão.
Questionado sobre quem orientou o presidente Bolsonaro sobre as diversas declarações contrárias à vacina e ao isolamento social, Wajngarten disse que não poderia responder a pergunta.
"Pergunte ao presidente", afirmou, o que levou a uma reação dos senadores, pedindo para que ele respondesse a questão.
Wajngarten então afirmou que nunca discutiu as falas públicas do presidente com ele, mesmo sendo ex-secretário de comunicações, e que não poderia responder sobre o aconselhamento do presidente. Disse também que nunca aconselhou o presidente sobre políticas de saúde e disse que não sabe identificar quem eram as pessoas.
Na falta de respostas diretas, os senadores pediram diversas vezes para que o ex-secretário respondesse objetivamente, de forma mais clara.
"O senhor só está aqui por causa da entrevista à Veja, se não fosse isso a gente nem lembrava que o senhor existia", afirmou o presidente da CPI Omar Aziz (PSD-AM).
A insistência levou os senadores governistas a interromperem o depoimento em defesa de Wajngarten. "Ninguém veio aqui para ser humilhado", disse o senador governista Ciro Nogueira (PP-PI).
A isso se seguiu uma discussão e a CPI foi interrompida por alguns momentos. No retorno, o presidente da CPI alertou que Wajngarten poderia sofrer consequências se não respondesse objetivamente.
"Se o senhor não foi objetivo nas suas respostas, vamos dispensá-lo e quando chamarmos vossa excelência de novo não vai ser como testemunha", afirmou Omar Aziz.
Campanhas de comunicação e ataques a jornalistas
Sobre a falta de campanhas amplas do Ministério da Saúde para prevenção da covid, Wajngarten disse que foram 11 campanhas do ministério e da Secom sobre a pandemia. "A gente fez todas as campanhas possíveis e a gente abasteceu o presidente com todas as informações", disse Wajngarten.
O ex-secretário entrou em contradição algumas vezes durante seu depoimento. Inicialmente, por exemplo, afirmou que a Secom não tinha contratado influenciadores bolsonaristas para fazer campanha sobre "tratamento precoce" — promovendo uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus.
No entanto, contraposto com uma reportagem da Agência Pública mostrando que a agência Calia, contratada pelo governo, pagou R$ 23 mil a influenciadores digitais para falar sobre os medicamentos, Wajngarten confirmou o valor e disse que eles foram contratados por "terem muitos seguidores".
Disse também que a Secom contratou outras três agências e que foram gastos R$ 285 milhões em 14 meses de pandemia com contratos do tipo.
Disse também que em campanhas digitais foram gastos 35% desse valor no Google Ads.
O ex-secretário também afirmou que todas as contas pessoais do presidente da República pertencem a ele e não são coordenadas pela Secom (secretaria de Comunicações) — mas não respondeu quem faz a administração das contas.
Disse também que falava "muito pouco" com o vereador Carlos Bolsonaro. "O número de vezes que falei com Carlos Bolsonaro cabe em uma mão", afirmou. Afirmou também que se tornou mais próximo de Flávio Bolsonaro e que ele não tinha "nenhuma função" no governo.
Questionado sobre os ataques feitos pelo presidente e seus filhos à jornalistas — foram 460 somente em 2020, onde as mulheres foram as mais atacadas — e se esses ataques eram parte da estratégia de comunicação do governo, Wajngarten disse que "nunca teve participação e nem a Secom".
O ex-secretário não respondeu se concordava ou não com os ataques: disse que era preciso analisar caso a caso, porque é "muito difícil reagir quando você tem uma inverdade publicada por um jornalista".
Vacina da Pfizer
O ex-secretário disse que se envolveu nas discussões com a Pfizer ao tomar conhecimento, em novembro de 2020, que havia uma carta da empresa a seis destinatários do governo — incluindo o presidente e o vice-presidente — que ainda não tinha sido respondida.
Wajngarten disse que mandou um e-mail para a sede da empresa em Nova York e que, em seguida, recebeu contato do CEO no Brasil.
Afirmou também que houve apenas uma reunião com o presidente Pfizer em que procurou "ajudar" e fazer pontes nesse contato.
Apesar de sua entrevista à Veja em que afirmou que as negociações atrasaram por "entraves" no ministério da Saúde, Wajngarten disse à CPI que "não houve procrastinação porque não havia segurança jurídica."
Afirmou novamente que havia três cláusulas no contrato da Pfizer que o governo considerava problemáticas, e que não poderiam ser modificadas — contratos de vacinas com outras empresas continham cláusulas parecidas.
O secretário continua respondendo respostas dos senadores nesta quarta.