Que leitura podemos fazer dos padrões comportamentais de Jair Bolsonaro?
Reprodução: iG Minas Gerais
Que leitura podemos fazer dos padrões comportamentais de Jair Bolsonaro?

Domingo, 21 de março de 2021. Aniversário do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que completa 66 anos. O momento não é propício para celebrar, já que o Brasil vive o  pico da maior crise sanitária da sua história com a pandemia de Covid-19 . Em meio a críticas quanto a maneira que tal problema está sendo tratado pelo governo federal, talvez a data seja interessante para se compreender o significado dos padrões comportamentais e de fala daquele que nos governa.

O iG convidou especialistas para analisar a fala e o comportamento do presidente em situações recentes. Confira as constatações:

Militarismo é preponderante

Uma boa análise contemporânea se inicia com um olhar em direção ao passado de Bolsonaro , um capitão reformado do exército . O analista comportamental Ricardo Ventura, pós-graduado em psicologia e especialista em Programação Neurolinguistica ( PNL ), faz ponderações a respeito das diferenças na linguagem corporal do presidente.

"O 'tendão de aquiles' do Bolsonaro é a sua oratória narrativa . Pelo tempo de militar, ele tem arraigado em si o pragmatismo. É uma narrativa objetiva. No exército é cumpra-se a regra, é muito direto. Ele 'passa um comando para uma tropa', é um comando frio", argumenta Ventura.

O que ele nos comunica?

Mesmo quem pouco acompanha Jair Bolsonaro , consegue identificar padrões comportamentais. Seja à frente das câmeras com jornalistas, em reuniões ministeriais, com apoiadores ou aliados, o presidente possui uma linguagem definida.

Clotilde Perez, doutora em semiótica pela PUC-SP e professora da Universidade de São Paulo ( USP ) argumenta que o verbal e o não-verbal fazem parte de um 'pacote só' e que nele "há truculência e indiferenca em relação ao próximo. Tem o menosprezo no olhar, de cima pra baixo. Totalmente enviesado. Postura corporal de peito estufado, reflete uma prepotência ", argumenta Clotilde.

A palavra indiferença se adequa em muitas questões. Indiferença à doença - ao chamá-la de gripezinha -, à dor (ao classificar o luto como mimimi), da compaixão (ao menosprezar a morte) e à ciência - ao descredibilizar as vacinas e exaltar métodos de tratamento ineficazes.


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Desconexão por onde passa

A professora também faz uma análise sobre a incompatibilidade que Bolsonaro apresenta em relação aos lugares que ocupa. Carreira militar e política - como deputado ou presidente - exige o cumprimento de normas, as quais ele não cumpre.

"Há uma certa esquizofrenia, pois esses lugares simbólicos como exército, legislativo nacional e governo federal, são lugares muito potentes e com regras definidas. Bolsonaro quer estar nesses lugares, mas não quer se ajustar. Não segue a liturgia, a decência ou a seriedade que se cobra."

O ex-capitão já admitiu que realizou atos de indisciplina e desleadade enquanto esteve no exército. Já na Câmara dos Deputados, era comum ter seu nome envolvido com a Comissão de Ética - órgão competente por fiscalizar o decoro parlamentar. E enquanto presidente, Bolsonaro bateu o recorde no número de pedidos de impeachment .

Existem precedentes?

Há quem diga que a história seja cíclica e que muitos acontecimentos se repetem. Por isso, tentamos traçar paralelos entre este perfil 'bolsonarista' com outras personalidades políticas, para entender melhor quais características se repetem.

Ventura compara o 'pavio curto' de Bolsonaro com o comportamento de Ciro Gomes. O psicólogo analisa que ambos possuem pouca resiliência e perfis reativos, ou seja, não sabem absorver críticas. Segundo Ricardo, se "voce dá uma pergunta 'alfinetando', eles batem, esperneiam. Eles não sabem se comunicar politicamente."

A doutora semioticista enxerga Bolsonaro semelhante ao ex-presidente norte-americano Donald Trump em alguns aspectos, já que ambos possuem um comportamento incompatível.

"Trump é mais prepotente, mas mais inteligente. Olhares desviantes, menosprezo físico e verbal pelo coletivo, e valores extremamente individualistas. E quem perde somos nós porque essa figura símbolo, que deveria dar o exemplo, falha."

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