A Polícia Civil instaurou inquérito nesta segunda-feira (4) para apurar a morte de Marcelo Guimarães, de 38 anos, na manhã desta segunda-feira, num dos acessos à Cidade de Deus , em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, baleado durante uma troca de tiros entre policiais e bandidos. O homem trabalhava numa marmoraria e voltava da escolinha de futebol onde deixou o fillho. A tragédia provocou revolta entre moradores, que, em protesto, chegaram a fechar a Linha Amarela por 25 minutos.
De acordo com a Delegacia de Homicídios da Capital, em depoimento, os policiais militares que participaram da ação afirmaram que havia dois agentes no local onde a tragédia aconteceu com um blindado. Segundo o relato dos PMs aos investigadores, criminosos dispararam contra o blindado e um dos militares efetuou apenas um disparo de dentro do veículo, segundo eles, para que um outro PM pudesse entrar no carro.
Além de ter ouvido os PMs e testemunhas da morte de Marcelo, a Policia Civil também apreendeu um cartucho encontrado no local e irá analisar se o projétil confere com as armas dos policiais. Já o blindado da PM que estava nas proximidades passou por perícia na Delegacia de Homicídios da Capital na manhã desta terça-feira (5).
Vítima deixou filho em escola de futebol
Funcionário de uma marmoraria, Marcelo tinha acabado de deixar o filho caçula, de 5 anos, numa escolinha de futebol quando foi ferido. Era o primeiro dia do menino na atividade. Os dois estavam empolgados com a novidade. Na última semana, Marcelo tinha ido comprar a chuteira do menino. Eles chegaram a registrar o momento com uma foto nesta manhã.
"Mais um homem de bem que se vai, mais uma família que chora a perda de alguém. Até quando isso vai acontecer, meu Deus", lamentou a auxiliar administrativa Carla Roberta da Silva Cruz, de 35 anos, mulher de Marcelo . Além do menino de 5 anos, Marcelo deixa outra filha, de 19.
Carla contou que o casal estava programando uma viagem a Bonito, em Mato Grosso do Sul, em abril. No próximo dia 29, eles fariam 22 anos de casados e programavam um churrasco para celebrar a data: "minha preocupação são meus filhos. Seria a minha primeira viagem de avião, estávamos tão empolgados".
"Ele era um cara trabalhador, construiu a casa dele na dificuldade, ralando todo dia. Foi uma covardia. Já perdi meu filho. Mas sei que outras mães ainda vão perder seus filhos, inclusive neste mesmo local", afirmou a dona de casa Angélica Francisca Guimarães, de 59 anos, mãe de Marcelo. "Para que eles se prepararam? Para acabar com a vida do outro?".
Angélica, que mora há mais de 20 anos na Cidade de Deus , pensa agora em abandonar a casa: "não quero mais morar aqui. Não vou conseguir".
Em nota enviada à reportagem, a Subsecretaria de Estado de Vitimados informou que ofereceu atendimento psicológico e social para a família de Marcelo. De acordo com a pasta, a equipe psicossocial esteve no Instituto Médico Legal ( IML ) conversando com parentes da vítima e vai acompanhar o caso. Já o enterro de Marcelo está previsto para as 15h desta terça, no Cemitério de Inhaúma, naquele bairro da Zona Norte.