Embora em outubro, em plena campanha eleitoral, o prefeito Marcelo Crivella tenha dito que o grupo chamado “Guardiões do Crivella” não agiam sob sua tutela, o Ministério Público Eleitoral (MPE) sustenta que o prefeito participava de ao menos um dos grupos e que teve “a oportunidade de participar das conversas e acompanhar os relatórios publicados pelos servidores”.
Eles ficavam, principalmente, na porta de hospitais e unidades de emergência, em meio à pandemia, para defender a prefeitura de queixas e reclamações da população e para impedir o trabalho de jornalistas. Mas, ontem, os “Guardiões do Crivella” foram “abatidos” pelo MPE, que apresentou uma denúncia contra o prefeito, a tenente-coronel Andrea Firmo, que era candidata à vice na chapa derrotada na última eleição, e Marcos Luciano, assessor especial do gabinete de Crivella . Os três vão responder por abuso de poder político e conduta vedada. O MPE pede a condenação dos acusados e que eles fiquem inelegíveis por oito anos, além de ter que pagar multa.
Na disputa eleitoral , parte do grupo atuou com Crivella em comícios. Responsável principalmente pela organização dos atos públicos, Marcos Luciano, também conhecido como “Marquinho” e “ML”, integrava a cúpula da campanha, ao lado do ex-deputado Rodrigo Bethlem — responsável pela articulação política — e do ex-secretário Gutemberg Fonseca, que cuidava da propaganda digital.
Às vésperas do primeiro turno, um comício de Crivella com bolsonaristas teve funcionários da prefeitura na organização e até uma das “guardiãs” no palco.
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“Conforme apurado, ao longo de 2020, notadamente durante a pandemia da Covid-19, servidores públicos municipais foram designados para ficar de prontidão nos hospitais”, diz a denúncia do MPE, assinada pelo promotor Rogério Pacheco Alves, acrescentando que “o objetivo era impedir e dificultar a realização de matérias jornalísticas sobre a precária situação da saúde pública municipal”.
A existência dos “ Guardiões do Crivella ” foi denunciada no fim de agosto em uma reportagem do “RJTV”, da TV Globo. Os grupos eram formados por funcionários comissionados da prefeitura, que ficavam de plantão em unidades de saúde. Além da questão eleitoral, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas investiga as implicações criminais dos atos dos três acusados, mas o inquérito corre em sigilo.
Relatórios entregues
Na denúncia, o MPE deixa claro que havia intenção de prejudicar o fluxo de informações sobre a Saúde . “As práticas ora apuradas tinham o condão de impedir ou prejudicar a produção de conteúdo jornalístico que visasse a denunciar à população em geral falhas e carências do serviço público de saúde municipal”, diz outro trecho do documento, ressaltando que a superlotação foi um dos temas mais debatidos durante a campanha.
Procurada, a prefeitura afirma que “não se prestava a organizar servidores de forma alguma para coibir a imprensa, muito menos, para qualquer atuação com viés eleitoral”. Ainda segundo a nota, o município foi “lamentavelmente inserido em um contexto de outros grupos (de WhatsApp) citados na reportagem. Andrea Firmo e Marcos Luciano não responderam ao pedido de entrevista.
Em outubro, Crivella alegou que não participava dos grupos: "claro que seria contraditório, se ocorresse e se fosse ordem minha. Eu tinha um grupo de pessoas que foram treinadas, que fizeram provas, para ficar nos hospitais recebendo bem os pacientes. Esse grupo está no Diário Oficial. Existe outro grupo chamado Guardiões do Crivella , que é um grupo de internet, do qual não sou administrador e não tenho uma postagem".