Documentos evidenciam que os principais órgãos do setor elétrico do Brasil tinham conhecimento, ainda que parcial, dos riscos que as condições de funcionamento dos equipamentos ofereciam ao estado do Amapá . As informações foram dadas pelo Valor Econômico .
Registros do Ministério de Minas e Energia , do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam que a Subestação de Macapá operava no limite da capacidade há cerca de dois anos.
Os documentos mostram também que não haveria condições de religar imediatamente a rede caso dependesse de um transformador sobressalente, cuja indisponibilidade havia sido reportada ao ONS há 11 meses.
Além disso, um dos problemas com a segurança da linha pode ter ocorrido no planejamento do projeto, indica um documento que tratava de estudos da Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus. Em 2004, o Comitê Técnico de Expansão da Transmissão do Ministério de Minas e Energia apontava para a necessidade da SE Macapá contar com “três transformadores trifásicos de 230/69/13,8 kV-150 MVA e uma unidade reserva ”.
Sabia-se, portanto, da necessidade de instalar três transformadores que atuariam em conjunto para evitar sobrecarga e o quarto, que seria reserva. Em 2008, o projeto foi contratado no leilão da Aneel e o edital exigia “espaço” para quatro transformadores, mas apenas a aquisição de três deles para “instalação imediata”.
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Em junho de 2018, o ONS classificou a alteração do projeto licitado como “ação não concluída”. O objetivo era possibilitar a instalação do quarto transformador, o que indica que o órgão estava ciente da necessidade do equipamento.
Relatórios mais recentes do ONS referentes ao acompanhamento mensal da “triagem de ocorrências e perturbações” mostram que, no fim de 2019, o operador tinha conhecimento da indisponibilidade do terceiro transformador na SE Macapá .
No apagão que teve início no dia 3 de novembro, a explosão de um transformador atingiu também o segundo que estava em funcionamento. Não seria possível recompor o sistema de abastecimento, porque o terceiro transformador — o único reserva — estava em manutenção desde o fim do ano passado.
Após ser questionado, o ONS afirmou que a SE Macapá não operava no limite da capacidade, porque “a carga do Amapá é completamente atendida com dois” transformadores. O órgão disse que “estava acompanhando a situação e reportando à Aneel” mensalmente e negou o risco de colapso com a falta do terceiro transformador.
Em nota, Thiago Barral, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), disse que os órgãos estão “absolutamente focados no avanço dos estudos, entendendo não ser ainda o momento de apresentar avaliações conclusivas sobre o caso”.