Pazuello dormia quando Bolsonaro chegou para fazer live sobre vacina
Reprodução: O Dia
Pazuello dormia quando Bolsonaro chegou para fazer live sobre vacina

Contaminado com Covid-19, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, dormia na tarde desta quinta-feira após o almoço no Hotel de Trânsito de Oficiais do Exército, onde mora em Brasília, quando foi acordado por uma visita inesperada: o presidente Jair Bolsonaro.

No dia anterior, Bolsonaro desautorizou expressamente o ministro por ter anunciado a compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, testada em parceria do Instituto Butantan, do governo de São Paulo, com o laboratório chinês Sinovac.

Abatido pela Covid-19, com uma camiseta verde, sem olhar muito fixamente para a câmera, Pazuello gravou uma live breve, de menos de cinco minutos, transmitida por Bolsonaro, em que ambos não falaram do que de fato interessa: como ficará a participação do governo federal na aquisição da vacina de origem chinesa, caso venha a ser registrada no país?

O script era outro: mostrar que não há rusgas entre Bolsonaro e Pazuello. Talvez arriscando um tom mais natural, de uma visita genuína a um colega adoentado, Bolsonaro começou a live perguntando quais os primeiros sintomas que o ministro sentiu. Depois quis saber o que ele tomou, ao que Pazuello respondeu hidroxicloroquina associada a outros medicamentos.

A partir daí, quando a live não tinha nem 50 segundos, ficou claro que a transmissão ao vivo era palanque para Bolsonaro falar de si próprio. Aproveitou a deixa do subordinado para voltar a recomendar a hidroxicloroquina e reclamou de ter sido criticado por andar entre a população em meio à pandemia, o que provoca aglomerações, dizendo que seu cargo exige estar perto das pessoas.

Depois de três minutos de conversa, houve uma breve menção indireta ao desencontro de decisões entre os dois, já que Pazuello anunciara a intenção de comprar 46 milhões de doses de vacina na terça-feira, o que foi desmentido por Bolsonaro na manhã de quarta. Ao perguntar se na próxima semana o ministro voltaria ao "batente", Pazuello brincou antes de dar uma gargalhada:

"Pois é, estão dizendo que não, né? Tamo junto".

Você viu?

"Falaram até que a gente tinha brigado. No meu ministério é comum acontecer isso aqui, algum choque, não teve problema nenhum", contemporizou Bolsonaro.

Pazuello, então, encerrou o tema: "Senhores, é simples assim. Um manda e outro obedece. Mas a gente tem um carinho".

"Opa, está pintando um clima aqui", retrucou Bolsonaro, em tom de galhofa.

Os dois fizeram a live sem máscara, sob a justificativa que o ministro está com a doença e o presidente já se recuperou dela. A breve transmissão nas redes sociais demonstrou um clima de concertação que vem sendo costurado desde ontem para alinhar o discurso da pasta ao que Bolsonaro quer. Não há rumores de saída de Pazuello, que conta com o apreço do presidente.

A interlocutores, o ministro, criticado por aceitar tamanha interferência, tem dito que fica enquanto o presidente quiser. Foi assim que se despediu do chefe na live, após Bolsonaro dizer:

"Valeu, Pazuca. Um abraço aí".

"Presidente, tamo junto", respondeu.

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