Favela do Cantagalo está situada entre os bairros de Copacabana (foto) e Ipanema
Custódio Coimbra/ Agência O Globo
Favela do Cantagalo está situada entre os bairros de Copacabana (foto) e Ipanema

Vítima e suspeitos de terem cometido um abuso coletivo no alto do Morro do Cantagalo, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, são vizinhos e se conhecem. A informação é da mãe de uma das amigas da menina de 14 anos que a socorreu depois do crime, no último dia 26 de setembro. Instantes antes, a estudante, algumas amigas e os acusados — três maiores e dois menores — bebiam na principal via da favela. Na madrugada, segundo a mãe de uma testemunha, os rapazes levaram a jovem para uma casa no alto da comunidade e cometeram o abuso. A Polícia Civil já identificou os suspeitos. O governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, afirmou que vai cobrar da polícia uma "investigação rigorosa".

"Todos aqui se conhecem (vítima e agressores). A minha família e a da menina são evangélicas. Somos da Assembleia de Deus. Já os agressores moram aqui perto. Não entendemos o motivo. De vez em quando nos víamos na igreja (vítima e agressores)", lembra a manicure, de 42 anos, que mora em uma casa ao lado da família da garota que foi estuprada.

Nesta sexta-feira, em entrevista ao GLOBO, a mãe da testemunha que socorreu a vítima afirma que não entende o motivo do crime. E lembrou que as duas meninas, que são amigas, saíram de casa um dia antes sem avisar aos pais para beberem com amigos na principal rua da comunidade. A mulher diz que no dia do crime, um sábado, não havia baile funk no Cantagalo, o que vai de encontro às informações anteriores: "Não era baile funk e nem festa. Eles estavam na rua onde a gente mora bebendo. Não tinha festa. Eles bebiam e escutavam músicas na rua, contou a minha filha".

A manicure não soube precisar a quantidade de pessoas que bebiam com sua filha e a estudante de 14 anos que foi abusada. No entanto, garante que todos se conhecem desde a infância.

"Não posso falar quantas pessoas estavam nesse evento (o estupro). Tanto a minha filha quanto a menina que foi vítima fogem de casa e a gente (pais) é sempre o último a saber das coisas. Mas era comum todos (vítima e agressores) saírem e se encontrarem para conversar porque eram conhecidos", diz a mãe da testemunha.

De acordo com a menina em depoimento, ela foi levada para uma casa no alto da favela e lá foi violentada. A garota diz que pode ter sido dopada quando ingeria bebida alcoólica com os colegas.

"Quem socorreu (a vítima) foi a minha filha. Ela estava com sinais de ter bebido muito e estava desorientada. Quando a minha filha encontrou a menina, ela já estava na metade do caminho. Então, minha filha pegou ela e as duas foram até a casa da garota", conta a mãe da testemunha que só soube do acontecimento às 8h quando a filha chegou em casa.

Segundo a manicure, a filha não quis falar sobre o dia do crime."Eu não sei muita coisa, porque a minha filha não conta muito. A minha filha será ouvida na terça-feira. Ela não falou onde é a casa e eu também nem sei se ela conhece o local. A minha filha pegou a menina no meio do caminho, (numa localidade conhecida como Pistão). Não pegou ela na casa. Então, eu não sei ao certo onde é essa casa".

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Devido à complexidade do caso, as testemunhas menores de idade a serem ouvidas nos próximos dias serão acompanhadas por psicólogos e profissionais especializados da Delegacia de Criança e Adolescente Vítima (DCAV) durante os depoimentos. O crime foi denunciado na 13ª DP (Ipanema) e é acompanhado pelo titular, o delegado Felipe Santoro da Silva.

Governador cobra investigação rigorosa

Durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira sobre o retorno às aulas na rede estadual, o governador em exercício Cláudio Castro falou sobre o crime contra a estudante de 14 anos no Morro do Cantagalo. Além de afirmar ter cobrado da polícia por uma investigação rigorosa, Castro salientou que será uma pauta prioritária tratar sobre a violência contra a mulher no estado do Rio.

"Mais uma vez um episódio triste. Cobrei duramente da Polícia Civil hoje para fazer uma investigação rigorosa. Todos estão sendo identificados e com mandado de prisão expedido. Ontem, na reunião com as polícias, mais uma vez veio um dado alarmante: a maioria dos chamados no 190 é de violência contra mulher. Essa será uma pauta prioritária do estado. Violência contra mulher tem que ter um basta. Esses estupros como hoje não serão tolerados pela Polícia Civil, Militar e governo. Combateremos duramente os criminosos. Já tinha feito essa cobrança ontem e hoje reiterei investigação muito dura e criteriosa", disse o governador em exercício.

E completou: "Pelo o que soube, advogados já estão negociando a entrega, mas se não entregarem, vamos lá dentro (da comunidade) buscá-los. Governo não terá leniência com esse crime hediondo".

Agressores identificados

Os cinco suspeitos — três maiores de idade e dois menores — acusados de terem cometido o crime já foram identificados e a Polícia Civil. Foram pedidas a prisão dos maiores e a apreensão dos dois adolescentes. Um exame de corpo de delito feito no Instituto Médico Legal (IML) na menina constatou ter sofrido violência sexual, o que a polícia acredita ser em decorrência do estupro coletivo.

Antes, a estudante foi atendida no Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, após ser levada para casa ao ser encontrada pelas amigas às 5h no dia 27 de setembro. Na unidade de saúde, os médicos identificaram que a menina havia sofrido abuso sexual. A situação de saúde era crítica e ela precisou ficar internada por três dias, recebendo alta no dia 30 de setembro.

Como revelou a revista “Época”, a 13ª DP (Ipanema) investiga o que motivou o crime praticado contra a estudante no alto da favela. O estupro teria acontecido depois de um baile funk no final do mês de setembro. Entretanto, só foi registrado no último dia 5. O depoimento da jovem foi tomado na Delegacia de Criança e Adolescente Vítima (DCAV), seguindo o protocolo de atendimento às vítimas de violência sexual.

Aos investigadores, a menina afirmou que acredita que tenha sido dopada pelos abusadores antes do crime. Em depoimento, ela falou que algum tipo de substância foi colocada em sua bebida alcoólica durante o baile.

A garota contou ainda que perdeu os sentidos subitamente durante o evento. E de lá foi levada para laje em outro ponto do Cantagalo, segundo seu relato.

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