Líderes e entidades que atuam na defesa dos direitos humanos criticaram as declarações do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) em uma entrevista à emissora alemã Deutsche Welle em que ele elogiou o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como um dos principais torturadores das Forças Armadas durante a Ditadura Militar.
Mourão disse que Ustra era um homem “de honra” e que respeitava os direitos humanos de seus subordinados.
"O que posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi meu comandante no final dos anos 70 do século passado, e era um homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Então, muitas das coisas que as pessoas falam dele, eu posso te contar, porque eu tinha uma amizade muito próxima com esse homem, isso não é verdade", disse Mourão na entrevista.
Para o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, os elogios feitos por Mourão a Ustra mostrariam que o vice-presidente “não se importa” com os crimes atribuídos ao militar. As críticas foram feitas pelo Twitter.
“Não pairam dúvidas sobre o cometimento do crime de tortura pelo coronel Ustra. Quando alguém lhe presta homenagens, como fez o vice-presidente Mourão, a pessoa não está negando que ele tenha torturado seres humanos, está apenas revelando que não se importa com isso”, disse Santa Cruz, cujo pai, desapareceu durante a Ditadura Militar.
Em 2019, Felipe recebeu um atestado de óbito da Comissão de Mortos e Desaparecidos que disse que a morte de seu pai foi violenta e causada pelo estado brasileiro.
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Por meio de nota, a Human Rights Watch no Brasil também manifestou repúdio às declarações do vice-presidente. Segundo a entidade, Mourão, assim como o presidente Jair Bolsonaro, estaria tentando “reescrever a história”.
“Junto com o Presidente Jair Bolsonaro, o Vice-Presidente Mourão tenta ocultar os fatos e reescrever a história do Brasil. O que é necessário, entretanto, é punir os responsáveis pelos graves crimes da ditadura e levar justiça a tantas vítimas e seus familiare”, disse a entidade em nota.
Outras entidades que atuam na defesa dos direitos humanos prometeram se manifestar sobre o assunto ao longo do dia.
“As declarações do Vice-Presidente e General da Reserva Hamilton Mourão são uma afronta às vítimas da ditadura militar do Brasil que causou um sofrimento indescritível a dezenas de milhares de brasileiros”, diz outro trecho da nota.
Ustra é apontado por dezenas de sobreviventes da Ditadura Militar como um dos principais torturadores do regime que durou entre 1964 e 1985.
O Dossiê Ditadura, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, relaciona o coronel com 60 casos de mortes e desaparecimentos em São Paulo. A Arquidiocese de São Paulo, por meio do projeto Brasil Nunca Mais, denunciou mais de 500 casos de tortura cometidos dentro das dependências do Doi-Codi no período em que Ustra era o comandante, de 1970 a 1974.
Ele morreu em 2015, aos 83 anos. Por conta da Lei de Anistia, de 1979, nem ele e nenhum outro agente do estado brasileiro envolvido em crimes como tortura, execuções ou assassinatos foi condenado por essas violações.