O assassinato do pastor Anderson do Carmo, em junho do ano passado , acabou colocando sua mulher, a deputada federal Flordelis dos Santos (PSD), na mira da polícia por suspeitas de irregularidades nos acolhimentos de crianças feitos pela parlamentar, conhecida como mãe de 55 filhos. São pelo menos três casos — dois deles ocorridos há mais de duas décadas — nos quais a pastora não entrou com processos de adoção na Justiça para regularizar a situação dos então menores de idade. Em depoimentos prestados à Polícia Civil, os pais de um desses jovens relataram que nunca deram consentimento para que a filha fosse morar com Flordelis e afirmam que a menina havia desaparecido.
O inquérito da Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) de Niterói foi aberto em outubro do ano passado, após o EXTRA ter denunciado que a pastora mantinha há oito anos a adolescente de 17 em sua casa sem que nunca tivesse dado entrada com pedido de adoção ou guarda na Justiça. O Ministério Público estadual do Rio também abriu um procedimento administrativo após as denúncias do jornal Extra
A DPCA de Niterói tenta desvendar como a menina chegou à casa de Flordelis. Os depoimentos revelam que após ter saído da residência da família biológica, a criança passou pelas mãos de pelo menos três pessoas até ser entregue para a pastora.
A versão apresentada pelos pais da adolescente, que prestaram depoimento em fevereiro e março deste ano, é de que a filha desapareceu após ter ido brincar na casa de uma conhecida de seu avô paterno. A mãe da jovem afirma que o combinado era buscá-la depois, mas ao chegar ao local, nem a mulher nem sua filha estavam mais na residência. No depoimento, os pais não disseram o nome dessa primeira mulher que teve contato com a criança, mas as investigações indicam que não seria Flordelis.
A mãe disse que chegou a procurar a filha com o avô paterno, mas não conseguiu encontrá-la. Logo depois, o idoso faleceu. Em seu depoimento à polícia, o pai da adolescente afirmou que não autorizou a ida de sua filha para a casa de Flordelis e que também não autoriza a adoção da menina. A mãe disse que nunca havia “dado” a filha. Após a repercussão do caso divulgado pelo EXTRA, a adolescente voltou a morar com a família biológica.
Menina viveria em situação precária
A polícia já sabe que André Luiz de Oliveira, um dos filhos afetivos de Flordelis, foi o responsável por levar a menina para a casa da família da pastora. Ele admitiu em depoimento à polícia que pegou a criança com Carlos Knust e sua mulher, Claudia. Carlos é gerente-comercial da MK Music, gravadora gospel com a qual Flordelis tem contrato. O casal também confirmou aos agentes que foi o responsável por entregar a garota a André.
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Em depoimento, o gerente relatou que uma prima sua, Delcenir Knust, lhe pediu ajuda para fazer contato com Flordelis, pois uma tia da criança, identificada como Cristina, disse que a mãe não tinha condições de cuidar da menina. Carlos contou que pegou a jovem com Delcenir, que por sua vez recebeu a garota de Cristina. A versão de Carlos foi confirmada por Delcenir, que também foi ouvida pela polícia. Ambos também disseram que a garota vivia em condições precárias.
A tia da garota foi identificada pela polícia como Cristina Moreira Santos Souza. A mulher prestou depoimento, mas deu uma versão diferente para a história. Ela alegou que um dia chegou à casa do sogro, também avô paterno da menina, e a criança não estava lá. Cristina afirmou que o homem disse que a garota “estava com uma irmã da igreja e estava bem”. Posteriormente, ela afirma que ficou sabendo que a “irmã” se tratava de Delcenir, com quem nega ter tido contato.
Flordelis ainda será ouvida pela polícia, mas conversou com o EXTRA por telefone. A deputada confirmou que a menina, hoje adolescente, voltou a morar com a família biológica e alegou que não sabia que os pais da garota não tinham concordado com a ida dela para sua casa.
Questionada sobre a situação irregular da menina por mais de oito anos, a deputada insistiu em dizer que havia dado entrada no pedido de guarda da menina. No entanto, ao ser confrontada com a informação de que não há nenhum processo em relação à garota, disse que se confundiu:
“Em 2014, dei entrada nos papéis no Conselho Tutelar para que ela pudesse estudar e achei que isso já se tratava do processo de guarda. Me confundi. Foram muitos processos (de adoção) naquela época”.
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