Em “Os inocentes do Leblon”, Carlos Drummond de Andrade escreveu, em 1940, sobre aqueles que “tudo ignoram”, mas que a vida continua perfeita. A poesia foi atualizada, e compartilhada como crítica social na web, desde a aglomeração em bares na Zona Sul carioca na última quinta-feira e que tem se repetido, em meio a pandemia do coronavírus, que já matou mais de sete mil pessoas no Rio.
Mas desde a reabertura desses estabelecimentos , os versos do poeta mineiro poderiam ser expandidos para os inocentes da Barra. Na Avenida Olegário Maciel, na noite deste sábado, dia 4, o desrespeito se repetiu com pessoas sem máscara (dentro e fora dos bares) e sem respeitar os dois metros de distância entre as mesas externas. Para completar, sem poder ter música ao vivo, alguns improvisaram um clima de balada: um carro estacionado em frente ao bar fazia vezes de Dj com música eletrônica alta.
A diferença para ontem é que a região concentrou menos bares abertos. A Vigilância Sanitária interditou três deles na mesma Avenida durante uma operação de fiscalização. Foi em um desses estabelecimentos que clientes de um bar hostilizaram o trabalho dos fiscais entoando os versos "eu não vou embora". Houve ainda relatos de ofensas verbais.
"A Vigilância Sanitária continuará exercendo o seu papel de proteger a população dos riscos higiênico-sanitários que existem nas aglomerações no comportamento descuidado de uma parcela da população, e seguirá nas ações de fiscalização, assim como a Guarda Municipal. Os fiscais e os guardas são orientados a continuar seu trabalho, sem responder a hostilidades", diz a Prefeitura, em nota.
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Na Rua Dias Ferreira, no Leblon, a movimentação em alguns pontos lembrou a aglomeração de quinta-feira, o primeiro dia de reabertura dos bares. Houve quem não respeitasse a distância, desse um abraço apertado em amigos distantes. O mesmo não foi visto na Praça Cazuza, onde as cenas de quinta-feira foram registradas, e os frequentadores acham que os cariocas "aprenderam a lição".
"Eu vi a aglomeração na quinta. Acho que por ter sido o primeiro dia, as pessoas estavam mais ansiosas. Mas hoje, veja, o movimento diminuiu. Quero acreditar que as pessoas aprenderam a lição e estão mais conscientes", diz Juliana Goulart, de 33 anos, administradora.
Acompanhada das amigas, todas estavam com a máscara no pulso, para colocar no rosto quando terminassem de beber. Aos garçons, pediram para limparem as garrafas com álcool em gel.
"Estava com saudades de ver as minhas amigas. Estamos tomando todas as precauções . Saindo assim, acho que está tudo bem. E também não estamos saindo de casa tanto quanto antes", avalia Paula Barros, biomédica, de 42 anos.
A mesma tranquilidade não foi vista na Rua General Venâncio Flores, também no Leblon. Dentro do estabelecimentos, o movimento era mais controlado. Mas as mesas na calçada com vários grupos de amigos desrespeitava qualquer recomendação de distanciamento.