Passada a marca das 20 mil mortes e dos 300 mil casos confirmados de Covid-19, a perspectiva é de que o Brasil mantenha o atual viés de alta. Segundo pesquisadores que analisam projeções da doença no país, ainda não é possível definir quando ocorrerá a queda dos números, que devem ultrapassar a marca de meio milhão nos próximos dias.
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De acordo com as projeções do grupo Covid-19 Analytics (formado por professores dos departamentos de Engenharia e Economia da PUC-Rio juntamente com o pesquisador Gabriel Vasconcelos, da Universidade da Califórnia), a velocidade de novos contaminados tende a ser maior nos próximas semanas. A estimativa é de que em 31 de maio, o Brasil chegue aos 540 mil casos. Três dias depois, já estaria nos 636 mil. O número efetivo da taxa de expansão, indicador de quantas pessoas cada infectado contamina, ajuda a entender esta previsão.
"Ele dá uma boa ideia do que esperar em 15, 20 dias. A política pública trabalha para que esse número seja menor do que 1. Enquanto for maior do que 1, o contágio vai aumentar. Estamos entre 2 e 2,2. Mas, se você pega os 20% de municípios com IDH mais alto, este número está mais baixo. É de 1,75, começando a apontar para baixo. Mas nos 20% com IDH mais baixo, estamos na casa dos 3,15", explica Vasconcellos.
Este dado joga luz para os rumos da Covid-19 no Brasil. Se não é possível precisar quando a doença vai parar de crescer, sabe-se para onde ela está indo. O novo coronavírus caminha para as periferias e cidades do interior.
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"As regiões Norte e Nordeste requerem muita atenção. Porque ainda estão com uma taxa de transmissão bastante elevada. No entanto, as periferias das grandes cidades e os municípios pequenos do Sudeste são um foco importante de preocupação. Até porque a gente tem menos informação em relação à testagem nesses lugares. É neles onde temos mais problemas de subnotificação de uma forma geral", acrescenta Fernando Bozza, chefe do Laboratório de Medicina Intensiva do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e coordenador de pesquisa do Instituto D’Or.
Números podem ser maiores
As poucas testagens dão aos pesquisadores a certeza de que a realidade brasileira é ainda maior do que os 310.087 casos confirmados nesta quinta. Uma pesquisa financiada pelo Ministério da Saúde e coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) tenta estimar o tamanho real do contágio. Os primeiros dados apontaram que em Manaus o número de pessoas que já tiveram contato com vírus é 20 vezes maior do que o oficial. Os resultados da pesquisa serão apresentados na próxima segunda (25).
"Tem que tomar muito cuidado em usar dados de contaminados. Porque as estatísticas são muito ruins. O número de casos é subestimado em quase todos os lugares. Depende das políticas de testagens. Então tem que considerar que o número de casos é subnotificado e que esta subnotificação varia de lugar para lugar", comentou Pedro Hallal, reitor da Ufpel e coordenador do estudo nacional e de um realizado nos mesmos moldes apenas no Rio Grande do Sul.
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"Aqui no Brasil nós temos o nosso estudo no Rio Grande do Sul, que estimou a subnotificação em 10 vezes. Se olhar um que foi feito no Espírito Santo, também deu 10 vezes. Quando a gente pega o de Manaus, a estimativa é de 20 vezes. Então não se trata de um fenômeno igual em tudo que é lugar. Depende da disponibilidade de testes", finaliza.