O vídeo é angustiante: uma idosa deitada sobre uma maca de hospital respira com dificuldades. Ela usa máscara e não tem nenhum tipo de aparelho de ventilação mecânica para auxiliá-la. A mulher está dentro de um saco plástico, o mesmo utilizado para carregar corpos de pessoas mortas.
Leia também: De cada 10 testes para Covid-19 feitos no estado de São Paulo, 6 deram positivo
Desde a semana passada, a gravação viralizou. Inúmeros compartilhamentos do vídeo afirmam que se trata do caso de uma paciente idosa encaminhada ao necrotério. Segundo esses textos, que não possuem autoria clara, ela seria enterrada viva para inflar os números de Covid-19 , a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-coV-2), no país.
Leia também: Lockdown em SP está sendo avaliado, diz comitê do Covid-19
A cena da idosa ofegante em uma maca tem se espalhado pelo mundo. Também fora do Brasil, o vídeo é acompanhado pela afirmação de que a paciente foi levada viva ao necrotério e foi resgatada pela própria família, que teria invadido o local.
A gravação tem sido compartilhada em outros países para ilustrar a situação do Brasil, que enfrenta o crescimento exponencial de casos e tem subido na lista de regiões do mundo com mais registros de Covid-19 — os números atuais, divulgados na quinta-feira (14), mostram que o país tem mais de 202 mil casos confirmados e 14 mil mortes.
Algumas publicações dizem que o vídeo da idosa na maca foi gravado em Belém (PA). Outras, porém, afirmam que a filmagem é em um hospital de Manaus (AM), uma das primeiras regiões brasileiras a enfrentar colapso no sistema de saúde em razão da pandemia do coronavírus.
Você viu?
Em razão das polêmicas, o governo do Pará emitiu uma nota para informar que o vídeo foi gravado no distrito de Icoaraci, em Belém. As autoridades locais negam que a mulher estivesse em um necrotério. "Em nenhum momento a paciente foi encaminhada para o necrotério enquanto viva", diz comunicado da Secretaria Estadual de Saúde do Pará. A divulgação do vídeo se tornou alvo de investigação policial.
"As publicações que afirmam que a mulher foi encaminhada com vida para um necrotério são fake. Elas têm viés negacionista em relação ao novo coronavírus, assim como outras notícias falsas que têm sido usadas para impor a ideia de que os números referentes à Covid-19 no Brasil são inflados por autoridades — como histórias mentirosas sobre caixões enterrados vazios ou com pedras", completa.
À espera de atendimento
Nas imagens da idosa, que não teve a identidade divulgada, foram feitas enquanto ela estava no setor de observação do Hospital Abelardo Santos. Conforme comunicado do Governo do Pará, a mulher esperava por um leito na unidade de saúde, que é referência no combate ao novo vírus no Estado.
O Pará tem registrado crescimento exponencial em casos do novo coronavírus. Até a quinta-feira (14) eram mais de 10,8 mil casos e 1.063 mortes. É o sexto Estado com mais casos e mortes no país.
Diante do aumento de registros no Estado, o Hospital Abelardo Barbosa, que até então era destinado a procedimentos de alta complexidade, passou a atender somente pacientes com o novo coronavírus. Profissionais da unidade relatam que o volume de pacientes se tornou muito grande desde então.
Leia também: Covid-19 é identificada no maior campo de refugiados do mundo
Dias antes do vídeo da idosa deitada na maca viralizar nas redes, um outro caso na mesma unidade de saúde repercutiu em todo o país: uma família abriu o caixão da parente que teria morrido e descobriu que o corpo era de outra pessoa. Mesmo com certidão de óbito, os familiares descobriram que a idosa, de 68 anos, permanecia viva no hospital Abelardo Santos, com suspeita de ter contraído o novo coronavírus . A mulher segue internada.