O governador Wilson Witzel já discute internamente no estado a proposta de decretar lockdown - ou isolamento completo - em regiões consideradas críticas em relação à propagação do novo coronavírus. A recomendação foi feita pelo comitê científico que assessora o Rio de Janeiro sobre a Covid-19 . O grupo de especialistas elaborou um documento tratando da necessidade da medida diante do aumento acelerado da curva e do afrouxamento por parte da população do distanciamento social. Witzel começou a analisar a nota técnica nesta segunda-feira, mas, de acordo com sua assessoria, ele estuda todas as informações sobre a evolução da pandemia no estado do Rio para, até o dia 11 — prazo das medidas restritivas impostas pro decreto -, decidir se vai tomar novas decisões de isolamento.

Leia também: Isolamento, quarentena e lockdown: a diferença dos regimes que te mantêm em casa

Governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel
Eliane Carvalho
Governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel

A proposta de lockdown considera o aumento do número de casos graves no estado e o iminente colapso do sistema de saúde público, mesmo com a curva de disseminação ainda não atingindo o seu auge. Os especialistas ainda levam em conta experiências internacionais de aprofundamento das medidas de isolamento para conter o avanço da doença. A recomendação inclui o total bloqueio de todas as entradas do estado e a distribuições de gêneros essenciais nas casas dos moradores do estado em situação vulnerável.

Leia também: “A lei será cumprida” diz Dino sobre desrespeito ao lockdown

Também prevê um plano de saída do lockdown, que inclui testagem em grande escala da população. O documento não estabelece um período de tempo para as medidas nem um prazo para que seja decretada. Mas, para o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, que integra o comitê de notáveis, o lockdown é "para ontem". 

Você viu?

"Da primeira semana de abril para cá é perceptível que muitas pessoas não estão cumprindo o isolamento. E há a dificuldade de se fazer fazer isolamento em comunidades muito pobres na medida que a ajuda do governo federal, já insuficiente, não chegou. A política econômica não está a serviço da política de saúde", afirma Temporão, que cita também o presidente Jair Bolsonaro como um mau exemplo para a população ao não seguir as orientações das autoridades da saúde. "Falta um grau de consciência que é estimulado pela postura do presidente".

'Situação perigosa'

Novo hospital de campanha para combater novo coronavírus foi construído em 19 dias no RJ
Divulgação
Novo hospital de campanha para combater novo coronavírus foi construído em 19 dias no RJ

Temporão lembra que Manaus já tem infectados morrendo em casa e diz que essa "situação perigosa" pode ser vista no Rio de Janeiro.

"De posse de todas essas informações, o conselho fez por bem recomendar o fechamento tampão por um período. Não falamos em prazo, que vai depender muito da adesão e da capacidade real de se reduzir a circulação viral. É preciso que em paralelo os hospitais de campanha sejam concluídos mais rapidamente e que haja um esforço para colocar os leitos dos hospitais federais em funcionamento", explica o médico sanitarista, dizendo que saída do lockdown dependeria do aumento da capacidade de testagem da população para se ter o padrão de circulação do vírus. "Você só pode sair quando novos casos e óbitos caírem. Ainda estamos no começo da subida da curva".

Para Temporão, uma restrição maior dos transportes públicos já teria como efeito a redução brutal da circulação de pessoas. A proposta não prevê a decretação de lockdown para todo o estado; a partir da análise dos dados sobre o coronavírus, seria instituído para algumas regiões. O documento do comitê pede a garantia de subsistência da população mais pobre do estado, por meio do diálogo com lideranças comunitárias.

Leia também: Antes de lockdown, Maranhão tem corrida aos mercados e farmácias

"Estamos ainda numa situação que, se você não fecha, o sistema de saúde pode entrar em colapso. E, se você fecha, tem que garantir que as pessoas em casa possam cumprir esse isolamento. Esse é o dilema", afirma Temporão, se referindo à população que hoje sofre para cumprir as restrições por não contarem com o básico nem com a ajuda do governo federal.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!