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Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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A vida de uma mineira de 29 anos mudou completamente há quase duas semanas, quando recebeu o diagnóstico clínico de coronavírus. Funcionária de um hipermercado em Belo Horizonte, ela mora sozinha em uma kitnet e destaca que a falta de ajuda de vizinhos tornou sua quarentena ainda mais difícil. Sua mãe, de 50 anos, mora distante e tem diabetes. Ela, que teme continuar sofrendo preconceito após o período de isolamento acabar, faz um apelo: "Quem puder ajudar ajude. As pessoas que estão doentes precisam desse suporte".

"Comecei sentindo sintomas como febre alta, tosse, coriza e diarreia, mas o que me preocupou foi uma fadiga muito extrema, que eu não sinto normalmente, mesmo trabalhando muito todos os dias. Foi esse cansaço ao extremo que me fez pensar que havia alguma coisa errada comigo. Passei a sentir muita falta de ar também. Então, procurei um posto de saúde e fui diagnosticada com o novo coronavírus.

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A unidade de saúde daqui me deu total assistência durante todo esse tempo, me ligam de dois em dois dias para saber como eu estou. Me ofereceram todos os medicamentos que eu deveria tomar para controlar os sintomas. Só não fizeram o teste em mim porque ele é feito apenas nas pessoas que estão internadas. Me trataram o tempo todo com muito carinho.

Tenho suspeita de que possa ter pegado a Covid-19 de uma colega que apresentou os mesmos sintomas. Também tive contato com uma pessoa que tinha voltado da Itália uma semana e meia antes, mas que, no momento, não apresentava nenhum sintoma da doença. Acredito que eu tenha sido contaminada por uma dessas duas pessoas.

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Eu moro sozinha, então esse período de isolamento está sendo muito difícil. Assim que a minha mãe soube do meu diagnóstico, ela fez umas compras aqui para casa. Mas, por ter 50 anos, ser diabética e morar longe de mim, ela não pode me ajudar mais. Desde que fui diagnosticada, não tive contato nenhum com o mundo do lado de fora da minha casa. Até mesmo por questões de segurança. Eu não quero que as pessoas sofram o que eu estou sofrendo.

Dentro de casa reforcei meus cuidados com a higiene. Limpo tudo com água sanitária. Álcool gel eu não tenho, pois está difícil de encontrar com um preço acessível.

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Desde que recebi o diagnóstico, senti que os donos da kitnet onde moro ficaram bem apavorados. Eu estou sentindo preconceito, mesmo eles vendo que uso máscaras. Está sendo bem difícil ter que cuidar não apenas da minha saúde física, mas também da mental. Estou muito abalada, estou me sentindo muito sozinha.

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Tem gente que mora do lado da minha casa e não pergunta como estou, se preciso de alguma coisa. Falta empatia. Eu não posso sair de casa para ir à padaria ou para comprar algo que esteja faltando. E isso mexeu demais com o meu emocional. Quem puder ajudar ajude. As pessoas que estão doentes precisam desse suporte nestas duas semanas.

Meu isolamento está prestes a acabar, e espero que ninguém me olhe mais do jeito que estão me olhando. Só que acredito que no trabalho eles vão me olhar diferente, sim. Porque não se sabe se após pegar a doença a gente fica realmente imune. Eu tenho medo de ficar com o vírus incubado e passá-lo para outra pessoa. Como eu lido com muita gente no meu trabalho, eu fico um pouco receosa.

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Não tenho notícias de como está o meu trabalho neste momento, se eles mudaram o horário de funcionamento ou não. Mas, antes de eu me afastar e de licença médica, quando eu já estava começando a me sentir mal, nós fomos proibidos de usar máscaras e qualquer tipo de EPI (equipamento de proteção individual) para não causar pânico nos clientes. Este foi o argumento do gerente do estabelecimento. Eu achei isto muito errado pois colocou em risco a vida dos funcionários e clientes.

Quase duas semanas após o diagnóstico, estou me sentindo bem melhor. Aquela fadiga extrema passou. Volto a trabalhar esta semana."

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