Imagens mostram como ficou o sítio após a operação do Bope
Marcos Nunes/Agência O Globo
Imagens mostram como ficou o sítio após a operação do Bope

Os cômodos da casa no pacato distrito de Palmeiras, no município de Esplanada (BA), onde Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi morto, no último domingo, revelam um pouco como foram os seus últimos momentos. Na cozinha, 12 pães e uma garrafa térmica ainda estavam sobre a mesa, indicando que ele ainda não tinha tomado o café da manhã quando aconteceu o cerco de militares do Bope baiano. Uma grande poça de sangue se espalhou pela sala, onde ele teria sido baleado. Numa das janelas, um indício de que houve um tiroteio: um buraco que aparenta ser de bala em uma fresta.

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De acordo com o Ministério Público da Bahia, o imóvel, que não estava lacrado, passou por um exame pericial ainda no domingo. Num dos dois quartos da casa, o livro “As 48 leis do poder’’,dos escritores americanos Robert Greene e Joost Elffers, estava sobre o colchão no chão, que teria sido usado por Adriano como cama, indicando que o miliciano dedicou parte da noite à leitura. No quarto também havia medicamentos. Na sala, além do sangue no chão, um sofá e uma cadeira revirados.

De acordo com a Secretaria de Segurança da Bahia, o ex-caveira morreu após disparar tiros contra os PMs, que tentavam prendê-lo. Nesta quarta-feira, o promotor Dário José Kist, da cidade de Entrerios, e que responde também por Esplanada, realizou diligências com policiais militares e civis no imóvel onde o miliciano foi morto. Entre os policiais havia alguns que participaram da ação de domingo. Um deles, inclusive, usava uma espécie de touca ninja.

"Estamos investigando o que aconteceu no local. Fizemos uma espécie de inspeção visual para tirar dúvidas. Os indícios apontam que houve uma operação para cumprir um mandado de prisão e que o Adriano resistiu e acabou sendo morto. Um desses indícios é um escudo usado por um dos policiais e que foi atingido por disparos. O escudo, inclusive, já foi submetido a uma perícia", frisou o promotor de Justiça.

O Departamento de Policia Técnica da Bahia também confirmou que analisa o escudo usado pelos policiais, que relataram que o equipamento teria evitado que dois disparos os atingissem. O resultado da perícia vai apontar qual material danificou o escudo. A polícia técnica disse ainda que o exame cadavérico de Adriano revelou que ele foi atingido por dois tiros, nas regiões entre o pescoço, clavícula e tórax.

O imóvel onde Adriano foi morto pertence ao vereador Gilsinho da Dedé. Ele alegou que o local foi invadido pelo ex-capitão do Bope e disse que sequer conheceu o miliciano. Adriano da Nóbrega buscou características específicas na casa usada como esconderijo em Esplanada. A ideia era facilitar a saída em caso de fuga. O quesito proteção também contava. A casa tem duas porteiras, um muro de pedra com mais de 2m de altura e ainda uma cerca de arame farpado. Em frente a uma das portas do sítio, uma mancha de sangue (de 30cm a 40cm) pode ser vista no local. Não há fita ou qualquer outra demarcação isolando o local.

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Moradores do distrito de Palmeiras, que pediram para não ser identificados, contaram ter acordado com o som de tiros, no domingo.

"Na hora foi uma agonia danada. Fiquei trancada com meu menino e chamei por Deus. Estou até agora tentando esquecer o que aconteceu naquele dia", contou uma moradora.

Outro vizinho disse ter se surpreendido com o barulho dos tiros e a presença da polícia cercando a casa: "escutei muitos tiros e vi os carros da polícia. Pensei que fosse um assaltante de banco. Só mais tarde soube que era um miliciano do Rio de Janeiro. A gente fica assustado porque aqui é um lugar tranquilo, a violência não é comum".

Nesta quarta-feira, o promotor Dário Kist também esteve na Fazenda Gilton Guimarães, onde mora Leandro Guimarães. Foi lá que pouco antes do tiroteio, que acabou com a morte de Adriano, os policiais cumpriram um mandado de busca e apreensão. Três armas foram encontradas no local e Leandro foi preso. Na terça-feira, a Justiça da Bahia relaxou sua prisão. Foi Leandro quem levou Adriano para a casa onde ele foi localizado pela polícia. O fazendeiro prestou depoimento e afirmou ter sido forçado pelo miliciano a ajudá-lo a se esconder.

Justiça proíbe cremação do corpo de criminoso

Em duas decisões, a Justiça do Rio proibiu nesta quarta-feira que o corpo do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega seja cremado. A primeira foi contra um pedido da família dele e a segunda atendeu a um pedido do Ministério Público estadual. O juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal, disse que a cremação só poderá ocorrer após todas as diligências e a confecção de todos os laudos periciais necessários à elucidação da morte.

O corpo de Adriano chegou na noite de terça-feira ao Instituto Médico Legal (IML) do Rio. Adriano, que chegou a ser investigado pelo assassinato, em março de 2018, da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, era acusado de chefiar um grupo de assassinos de aluguel e de integrar a milícia de Rio das Pedras.

Autor de duas homenagens a Adriano na Alerj, quando era deputado estadual, o hoje senador Flávio Bolsonaro pediu nesta quarta que autoridades impeçam a cremação do corpo. Em publicação no Twitter, ele disse ter recebido a denúncia de que “há pessoas acelerando a cremação de Adriano da Nóbrega para sumir com as evidências de que ele foi brutalmente assassinado na Bahia”.

O advogado de Adriano, Paulo Emilio Catta Preta, afirmou que, na semana passada, ele lhe telefonou para dizer que temia ser vítima de uma “queima de arquivo”. Horas após a morte de seu cliente, Paulo Emilio disse, no domingo, que, por causa desse temor, Adriano planejava se entregar, pois sabia que estava sendo caçado por policiais da Bahia e do Rio.

Essa possibilidade foi levantada nesta quarta-feira por um outro advogado, que afirmou ao Extra ter sido procurado por um amigo do ex-capitão do Bope. Pedindo anonimato, ele contou que foi contatado na última quinta-feira e propôs um encontro com o miliciano perto do Fórum do Rio, onde pretendia apresentá-lo a um juiz. Mas, segundo o advogado, Adriano não conseguiu montar um plano para sair em segurança de Esplanada, onde fica o sítio onde ele foi localizado e morto.

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Procurados para comentar o assunto, promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio afirmaram que estiveram três vezes com advogados de Adriano da Nóbrega, mas não foram informados sobre um eventual desejo do miliciano de se entregar.

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