O desespero de uma mãe com um bebê de dois meses no colo pode ser um exemplo dramático das consequências da grande confusão ocorrida na Praia de Copacabana após o Baile da Favorita , quando ocorreram lançamento de bombas de gás lacrimogêneo e pedradas contra policiais militares e guardas municipais: ela estava na areia, a cerca de três metros do Quiosque Cantinho Cearense, quase em frente ao Copacabana Palace, e arremessou o bebê para o interior do estabelecimento.
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"O cheiro de gás lacrimogêneo causava mal estar em muita gente e deixou essa mãe desesperada com o sofrimento do bebê. Só que ela arremessou a criança na direção da máquina de fazer batata frita, com gordura fervendo. O bebê estava quase caindo aqui dentro quando um funcionário, com rapidez, segurou-o e colocou-o a salvo. A cozinha do quiosque, onde só funcionários têm permissão de entrar, ficou cheio de gente tentando fugir do gás lacrimogêneo - contou a cozinheira Lourane da Silva Trindade, de 29 anos, que estreou no quiosque justamente no dia da confusão".
O garçon Lucas de Almeida Pina, de 22 anos, do Quiosque Cabanna, em frente ao Copacabana Palace, contou ter visto clientes machucados, com sangue escorrendo, depois de terem sido atingidos por garrafas de vidro arremessadas por pessoas que enfrentaram policiais militares e guardas municipais. Ele disse que vários clientes se deitaram no chão e usaram cadeiras como escudos contra garrafas atiradas.
"Eu nunca vi tanta violência . As pessoas estavam apavoradas. Nos deitamos no chão e pusemos cadeiras sobre o nosso corpo para nos proteger. Vi uma mulher grávida chorando, uma mãe tapando o rosto dos filhos para amenizar o sofrimento com a inalação de gás lacrimogêneo. Policiais não paravam de jogar bombas. Estávamos no meio do confronto. Um cliente ficou todo ensanguentado depois de ser atingido por uma garrafa. Muita gente correu para dentro do salão do caixa e da cozinha. Tudo começou com uma briga e depois vieram as bombas e as garrafadas", relatou Pina.
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Vivendo na Alemanha há 30 anos, as amigas brasileiras Adélia Held, de 51 anos, e Valdete Bos, de 52, estão hospedadas no Copacabana Palace e viram de lá toda a confusão. Da varanda do hotel elas foram atingidas pelas bombas de gás lacrimogêneo arremessadas por policiais militares. Elas lamentaram a confusão.
"Parecia guerra do Irã . Estávamos assistindo àquela multidão na praia quando, de repente, começaram as bombas e muita gente correndo. Meus olhos lacrimejaram. Essa é a realidade do Brasil. O mais triste é que se trata de uma festa democrática que une ricos e pobres, mas que acabam não sabendo partilhar o mesmo espaço. Viram bichos. Antes de me mudar para a Alemanha já percebia que faltava amor e compreensão aqui", comentou Valdete Bos.
A comerciante Mila Santos, de 40 anos, dona da Lanchonete Mil Doces, na Rua Princesa Isabel, acusou a Polícia Militar e a Guarda Municipal de iniciar a confusão.
"Eu vi, ninguém me contou. Queriam dispersar a multidão para liberar as pistas. Vi policiais com cavalos na Avenida Atlântica, policiais com carros e guardas municipais. Aí as pessoas não gostaram e começou a reação. Saí logo de lá por causa das bombas e vim para a loja. Entendo que aquilo lá foi uma armadilha do governo. E agora ele tem o argumento de que jogaram garrafas e pedras contra os agentes", disse Mila.
Na Rua Princesa Isabel ocorreram muitos arrastões deixando famílias apavoradas. Muitas delas buscaram e conseguiram abrigo nas Lojas Americanas. "Muita gente entrou na loja para se refugiar dos arrastões e da confusão toda. O cheiro de gás vinha até aqui. Mas, dentro da loja foi tranquilo", contou a gerente Ana Feldman.
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Um comerciante que se identificou como Milton apenas criticou o fato de ônibus não terem parado nas estações da Avenida Nossa Senhora de Copacabana nem nos pontos da Rua Princesa Isabel. "Meu filho Rodrigo trabalhou das 7h até a noite e precisou caminhar até a Rua Pinheiro Machado (em Laranjeiras) para pegar um ônibus para São Cristóvão", reclamou.
Nesta segunda-feira (13) a Rede Windsor de Hoteis começou a consertar janelas quebradas por objetos arremessados por pedestres. Por meio de nota, “a rede informa que as janelas danificadas do hotel Windsor Excelsior, localizado na Orla de Copacabana , já estão sendo reparadas. Felizmente, ninguém se feriu com a quebra dos vidros. Confirmamos o nosso compromisso em proporcionar a melhor estadia e experiência aos nossos hóspedes, reafirmando o nosso apoio à maior festa popular brasileira, responsável por alavancar o turismo em nossa cidade, gerar empregos, além de proporcionar momentos de diversão e lazer a todos os cariocas”.
Já o Copacabana Palace “informou que socorreu pouco mais de 20 pessoas, sobretudo entre crianças e idosos, que precisaram de ajuda durante o tumulto ocorrido após o término da apresentação do Baile da Favorita”. O hotel de luxo não teve prejuízos, segundo informou a assessoria de imprensa.
A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) informa que as delegacias envolvidas no esquema de segurança da abertura do carnaval do Rio de Janeiro (5ª DP, 12ª DP, 19ª DP e DEAT) realizaram registros de 28 prisões em flagrante pelos crimes de tráfico de drogas, roubo e furto. Também foram cumpridos um mandado de prisão e duas buscas e apreensão de menores. Das 12h às 24h foram realizados ainda 85 registros de ocorrência relativos a crimes ocorridos durante o evento.