O número de policiais militares feridos em serviço explodiu em 2019. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) e da PM, obtidos pelo EXTRA via Lei de Acesso à Informação, revelam que, de janeiro a outubro, 339 agentes sofreram algum tipo de lesão durante seus turnos de trabalho — uma média de um policial ferido a cada 21 horas.
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O número de PMs vitimados em 2019 equivale ao efetivo de um batalhão de pequeno porte, como o 17º BPM (Ilha do Governador). Do total de 339 policiais feridos, 21, ou 6%, morreram. Todos os demais ficaram momentaneamente afastados do trabalho policial. Vários seguem de licença.
A quantidade de policiais feridos em 2019 é 46% maior do que a registrada no mesmo período do ano anterior, quando 232 casos foram contabilizados pela corporação e pelo ISP . Entretanto, a proporção de vítimas fatais entre os feridos foi maior de janeiro a outubro de 2018: 26 agentes, ou 11%, morreram. De março a dezembro de 2018, a segurança do Rio esteve sob intervenção federal .
Janeiro e fevereiro foram os meses com mais casos de policiais feridos em 2019: 44 cada, mais de um por dia. Em janeiro, dois dos agentes morreram. Em fevereiro, quatro. Os dois meses foram os mais letais para policiais militares desde janeiro de 2017.
Para a antropóloga e professora da UFF Jacqueline Muniz, o aumento do número de agentes feridos se relaciona com uma mudança no perfil das ações de policiamento cotidianas.
"Esses números são assustadores. Em 2019, aumentou o volume de operações policiais. O policiamento ostensivo foi substituído por operações de pequena, média ou grande escala. Algumas dessas ações não estão necessariamente articuladas com o comando: são quatro agentes numa viatura. Não há mais governança na polícia. Durante a intervenção, em 2018, esse processo foi freado por ações em larga escala, que conseguiram conter essas operações 'por conta própria'", afirma Muniz.
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A explosão do número de agentes feridos coincide com o aumento de mortes durante ações policiais: de janeiro a outubro, o número de casos passou de 1.310 em 2018 para 1.551 em 2019, um crescimento de 18% .
Segundo o coronel Fábio Cajueiro, integrante da Comissão de Análise da Vitimização Policial da PM, do total de policiais militares feridos em 2019 que conseguiram sobreviver, cerca de 20 não vão voltar a trabalhar: são casos de lesões definitivas, como perda da visão ou amputações de membros. Para o oficial, o menor número de lesões fatais em 2019 em relação ao ano anterior é resultado de medidas tomadas pela corporação.
"Em 2018, a corporação começou a fazer cursos de primeiros socorros para PMs. Hoje, mais de 200 agentes lotados em unidades sabem socorrer seus companheiros. Esse primeiro atendimento é fundamental porque evita lesões mais graves e pode até salvar vidas", explica Cajueiro.
Em 19 de maio, o soldado Erick Simões Freire foi baleado durante ataque de criminosos em Guadalupe, na Zona Norte do Rio. O PM fazia patrulhamento na Rua Luiz Coutinho Cavalcante quando traficantes saíram de um acesso à Favela do Muquiço e dispararam em sua direção. Ele era lotado na UPP Barreira do Vasco, mas na ocasião trabalhava em sua folga em apoio ao 9º BPM (Rocha Miranda), pelo Regime Adicional de Serviço (RAS).
O caso do PM é daqueles em que não há uma definição sobre sua volta ao trabalho: atualmente, segundo a PM, ele segue em Licença para Tratamento de Saúde (LTS). O soldado já foi operado três vezes e teve que amputar os dedos do pé. Para custear gastos como uma cama especial e fazer adaptações na casa do agente, sua família contou com a ajuda de colegas de farda.
"O PM sofre muito com essa situação. Essa é uma profissão de muita entrega. Algumas lesões causam um corte bruto na vida dessas pessoas. Muitas ficam deprimidas. Por isso, é preciso acompanhá-las e apoiá-las", afirma o coronel Fábio Cajueiro.
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Uma tropa de feridos
Um estudo feito pela Comissão de Análise da Vitimização Policial da PM concluiu que, em 2017, a corporação gastou mais de R$ 43 milhões com agentes feridos e mortos naquele ano. O cálculo levou em conta a remuneração paga aos PMs afastados para tratamento de saúde ou psiquiátrico e gastos com médicos, remédios e seguro de vida. O estudo só levou em consideração gastos com agentes feridos em serviço.
Disparo acidental
No último dia 26, um PM foi ferido por um disparo acidental da arma de um colega de farda. O caso aconteceu em Costa Barros, na Zona Norte. Os agentes estavam dentro de uma viatura na Estrada de Botafogo, quando o fuzil de um dos PMs disparou. O tiro atingiu a viatura, e estilhaços feriram o rosto de outro agente. Ele foi encaminhado em seguida ao Hospital Central da Polícia Militar, no Estácio, onde foi medicado e liberado.
Outro lado
Procurada, a Polícia Militar respondeu que “operações policiais são realizadas com base em informações da área de inteligência e seguem protocolos rígidos de execução, tendo como prioridade a preservação de vidas, tanto de policiais como de moradores”. Em nota, a PM também alegou que “faz parte do planejamento das operações a utilização de ambulância do Grupamento Especial de Salvamento e Ações de Resgate, cuja unidade está se expandindo para melhorar o atendimento pré-hospitalar”.
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