Luciano Rocha, vítima de rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho
Reprodução/Facebook
Luciano Rocha, vítima de rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho

O fim de uma angústia que durou mais de oito meses. Desde o fatídico 25 de janeiro de 2019, dia em que uma barragem pertencente à mineradora Vale se rompeu em Brumadinho, a dona de casa Roberta Cristina Ferreira, 37, não conseguia descansar para retomar a vida. O seu marido, Luciano de Almeida Rocha, 40, continuava na listagem dos desaparecidos da tragédia e a esperança de encontrá-lo era quase nula por parte da família. 

A cada notícia de um novo corpo encontrado na busca do Corpo de Bombeiros, os cliques nas reportagens e a leitura eram feitos com celeridade. Mais uma vez, não era ele. O telefone não tocou, de novo. A vida não seguia porque Luciano não pôde ser enterrado com dignidade. Estava perdido no mar de lama por meses. 

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Roberta Ferreira, viúva do Luciano Rocha
Foto: Eduarda Esteves
Roberta Ferreira, viúva do Luciano Rocha

No último domingo (29), o Corpo de Bombeiros anunciou que um novo corpo tinha sido encontrado no 248º dia da operação de busca em Brumadinho, Minas Gerais. Para a família  Rocha era o início do luto.

De acordo com a corporação, Luciano foi localizado em uma das frentes de trabalho conhecida como Remanso 04, por volta das 10h15, entre cinco e seis quilômetros do ponto do rompimento da barragem, a uma profundidade de aproximadamente dois metros.

Os trabalhos de identificação começaram às 12h30 e terminaram às 21h40. Após a perícia, o corpo foi identificado através de exames em sua arcada dentária e foi liberado para a família de Luciano na manhã desta segunda-feira (30).

O velório e enterro foram marcados para a tarde desta segunda, no Cemitério Municipal de Brumadinho. Ele foi a 250ª vítima localizada, de acordo com dados da Polícia Civil de Minas Gerais. As buscas seguem por 20 desaparecidos.

Um ponto interessante da análise pericial é que o corpo de Luciano estava praticamente intacto em meio aos escombros, devido a grande concentração de minério, o que favoreceu a conservação do cadáver.

Até então, a última vítima localizada e identificada foi João Paulo Ferreira Amorim, de 31 anos, a cerca de um mês atrás, no dia 30 de agosto. As buscas seguem realizadas pelos 138 militares que escavam a extensa área atingida pela lama de rejeitos tóxicos que vazaram da barragem.

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Luciano, a força da família


Luciano Rocha ao lado da sua família em passeio por Minas Gerais
Reprodução/Facebook
Luciano Rocha ao lado da sua família em passeio por Minas Gerais

Roberta conta que o seu marido não deveria estar na barragem da Mina Córrego do Feijão naquela sexta-feira (25). Luciano trabalhava com topografia, no ramo da geotecnia, em várias barragens de Minas Gerais e deveria estar prestando serviço em Congonhas, região central do estado. Mas, ela alega que ele estava no local errado e na hora errada. "Nem deveria estar ali, mas a caminhonete quebrou e ele ficou preso no escritório adiantando serviço”, disse a reportagem, em fevereiro de 2019. 

A família do marido perdeu quatro pessoas na tragédia. “Meu concunhado André Luiz, a Letícia Mara, prima do meu marido e o Gustavo, também primo dele. Os quatro trabalhavam para a Vale e foram embora de uma vez só, a família está muito abalada. Todos os três já foram localizados. A avó do Luciano disse para mim que ele seria o último a ser encontrado porque como ele era o mais velho ele iria guiar os primos mais novos", relatou Roberta. 

Terreno transformado após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão
Foto: Eduarda Esteves
Terreno transformado após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão

Em 1998, Roberta se mudou de Belo Horizonte para Brumadinho. A mudança foi planejada porque ela queria se casar com Luciano, seu primeiro namorado e amor. Tiveram cinco filhos, dos quais dois faleceram por problemas na gestação. Hoje, João, 20,  Maria, 12, e Miguel, 9, são os motivos de Roberta para continuar a vida. 

Alegre, trabalhador e muito brincalhão. Essa era a imagem de Luciano para a sua família. No dia da tragédia, ele comprou salgados, fez pipoca e levou bolo para o trabalho porque era um dia em que eles confraternizavam.

O maior medo de Roberta era nunca encontrar o corpo do marido, mesmo tendo a consciência de que a alma era muito mais valiosa, ela queria o enterro oficial, com um fim digno. A angústia da família agora se transforma em luto. 

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