Na última segunda-feira (23), representantes de diversos setores estiveram reunidos em Santos (SP) para falar sobre os avanços no projeto de construção da ponte que ligará a cidade com o Guarujá, facilitando assim a vida de quem tem a balsa como única alternativa de locomoção entre as localidades.
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Sonho antigo da população, a ideia data de quase 100 anos. A primeira vez que se cogitou uma ligação seca, seja por ponte ou túnel, data de 1927, ainda no governo de Júlio Prestes. Desde então, foram desenvolvidos outros três projetos até que saísse do papel a atual estrutura.
O projeto, orçado em R$ 2,9 bilhões e que deve levar cerca de 36 meses para ser concluído após o início das obras, será tocado quase que exclusivamente pela Ecovias, concessionária que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI). A ideia é que seja uma contrapartida da empresa para a extensão do contrato de concessão com o governo de São Paulo por cerca de 7 ou 8 anos, mas tal decisão ainda depende de negociações.
Segundo a projeção, a ponte deverá ter 85 metros de altura e 305 metros de largura entre os pilares, com mastros de sustentação de 170 m - valor já aprovado pela aeronáutica e que não trará problemas ao futuro aeroporto do Guarujá - e duas faixas de rolamento e acostamento, com um total de 7,5 km de extensão, conectando a Via Anchieta no km 64 à Rodovia Cônego Domênico Rangoni no km 250.
O principal objetivo da ponte é diminuir em 50% o movimento nas balsas que atualmente fazem a ligação entre Santos e Guarujá. A via será um segundo acesso à avenida portuária, facilitando assim a entrada e saída de caminhões no Porto de Santos e virando a principal rota para cerca de 60% destes veículos de carga.
Se o projeto der certo, a interligação entre as margens, que ocorrerá na altura do bairro da Alemoa e na Ilha Barnabé, deve reduzir o percurso de 45km para menos de 10km, tornando a passagem pelo canal mais rápida, além de melhorar o tráfego de navios na região, uma vez que estes não precisarão mais concorrer com a passagem das balsas no local.
Visões diferentes sobre o projeto
Representantes de órgãos envolvidos na construção se posicionaram favoravelmente ao projeto. Realizadora da obra, a Ecovias ressaltou que o tempo de deslocamento entre as cidades diminuirá, aumentará o fluxo de bens na região eferará cerca de 4 mil empregos. Marinha e Praticagem de Santos também apontaram os pontos positivos da obra, vista como uma alternativa viável e que permite as navegações na região.
“A apresentação demonstra a total viabilidade do projeto. É claro que ainda existem pequenos ajustem que precisam ser feitos, para que todas as normas de segurança sejam contempladas e ela não gere nenhuma restrição ou diminuição do crescimento do Porto. O objetivo é incentivar esse crescimento, e a ponte faz parte disso. Ela é um investimento para que se fortaleça o desenvolvimento da Baixada Santista”, afirmou João Octaviano Machado Neto, secretário estadual de Logística e Transportes.
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Quem manteve o posicionamento contrário foi o presidente da Codesp, que voltou a dizer que a melhor solução para o canal seria a construção de um túnel, uma vez que a simulação do projeto da ponte não leva em conta uma expansão portuária.
A análise é rebatida por Machado Neto: “Na verdade, a ponte se soma a isso, pois o porto precisa crescer. O governador já autorizou que se faça a liberação de margens, que hoje estão ocupadas por palafitas, dando mais condição e dignidade as pessoas que moram ali, e liberando essas áreas para o porto. A ponte não será um obstáculo, e sim mais um ativo para o porto, que vai valorizar, ligando as margens e resolvendo problemas do transporte de cargas”.
População ainda duvida do projeto
No ditado popular, é comum dizer que ‘gato escaldado tem medo de água fria’. Levando-se em conta o tempo transcorrido desde a primeira tentativa, as confirmações e negativas das tentativas anteriores, há quem ainda não acredite que o projeto possa sair do papel. Entretanto, a presença da Ecovias como principal interessada, pelo menos no âmbito econômico, pode ser o diferencial que a ponte precisava para, enfim, sair do papel.
“O interesse e envolvimento da Ecovias é o principal fator para que esse projeto tenha sucesso. Se trata de uma forma de estender o contrato de concessão, que talvez seja o melhor contrato que eles têm, e isso já se provou bastante satisfatório para a empresa: sempre que eles se envolveram em obra de infraestrutura com base nesse esquema de concessão, deu certo. Então, dessa vez deve realmente sair do papel por causa disso”, afirma José Marques Carriço, professor da Universidade Católica de Santos.
A análise é corroborada pelo ex-vereador da cidade e ex-funcionário do Porto de Santos José Antônio Marques Almeida. Segundo ele, a ponte tem tudo para dar certo por ser o projeto “mais factível” entre os apresentados até hoje e por aliviar o trânsito da cidade, tirando um grande contingente de caminhões e os direcionando diretamente para os terminais de carga e descarga.
“Essa ponte da Ecovias faz parte da estratégia logística da empresa. Para eles, não será um favor, mas um investimento de negócio. É um processo 'ganha-ganha': eles ganham com a construção e o Porto também. Agora, essa ponte não tem nada a ver com o sonho de quem quer atravessar o canal, que mora em uma cidade e quer ir jantar na outra, por exemplo. Não é voltada para o turista, porque é muito distante do centro. Para isso, o túnel seria uma melhor opção. De qualquer forma, a ponte é boa, acho que tem tudo para sair, e vai sair”, afirma.
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Trajeto mais longo, mas mais rápido
Mas, se a ponte não é para os turistas que visitam a região, como aponta José Antônio, qual a análise de quem mora nas cidades e ganhará uma alternativa de trânsito? Segundo a fisioterapeuta Adriana de Castro Lima, moradora do Guarujá, mesmo com o aumento de distância e a cobrança de pedágio, o ganho no tempo vai compensar a troca.
“Meu trajeto de carro é sempre pela balsa, mas os transtornos, a desorganização e a demora fazem com que seja muito complicado de utilizar. Outro grande problema é o clima: quando tem neblina, a balsa para, e isso é coisa que não dá para prever. Sem falar nas balsas que quebram ou ficam sempre em manutenção, e na quantidade de navios que passam pelo canal, fazendo com que o trajeto seja ainda mais demorado”, aponta Adriana.
Ela ressalta que a nova ponte, mesmo aumentando a distância do trajeto, facilitaria o deslocamento e evitaria todos os transtornos da balsa. A única ressalva fica por conta da cobrança de pedágio, que, segundo ela, não deveria ocorrer por se tratar de um trecho muito curto.
“Melhor seria se não tivesse o pedágio, mas facilitaria muito o acesso, principalmente em questão de agilidade e no tempo de viagem. Então, apesar de não ser o trajeto mais viável, vai ser uma melhor opção do que as balsas”, finaliza.