Uma perfuração
de 68 metros de profundidade pode ter sido o gatilho que levou a barragem
B1 da mineradora Vale
, ao colapso total no dia 25 de janeiro deste ano. A conclusão foi apresentada exatamente oito meses após a tragédia
que devastou a cidade de Brumadinho
e toda a bacia do rio Paraopeba. O apontamento é resultado das investigações realizadas por auditores fiscais do trabalho de Minas
Gerais
, apresentadas nesta quarta-feira (25).
No dia do rompimento – considerado o maior acidente de trabalho com barragens no mundo – a Vale fazia um estudo da situação da estrutura visando a remineração dos rejeitos da barragem . No procedimento era utilizada uma sonda que perfurava a barragem com um jato d’água, o que é proibido pelas normas de mineração . A força empregada pela sonda com a perfuração foi a fator decisivo para o colapso da estrutura. Isto porque desde 2016 a barragem já estava em uma situação de iminente rompimento .
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A perfuração foi o gatilho, mas o alto índice de água da estrutura levou, em longo prazo, a barragem ao colapso. Para se ter uma ideia da quantidade de água que havia na estrutura, um levantamento feito pelos auditores apontou que, para que a barragem fosse considerada segura, seria preciso uma drenagem de 98 metros cúbicos de água por hora, durante um ano e meio. Isto porque a drenagem do empreendimento era completamente ineficiente. Entre a lista de negligências apresentada pelos auditores estão: drenos quebrados, canaletas de escoamento assoreadas e trincadas, disposição inadequada dos rejeitos, formação de lençóis nos diques da estrutura e outras.
Por isto, desde 2016 a barragem não tinha condições efetivas para obter o laudo de estabilidade, documento necessário para continuar operando. No entanto, ao invés de realizar um procedimento sério de drenagem da estrutura, a mineradora optou por burlar os dados sobre a segurança da barragem para conseguir a declaração e continuar operando. “A barragem estava muito fragilizada. Para uma drenagem mais eficiente seria preciso paralisar as atividades e acionar o Plano de Emergência para retirada dos trabalhadores e da comunidade”, declara Marcos Botelho, um dos auditores fiscais que participou das investigações.
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Pouco tempo depois, em junho de 2018, a empresa novamente negligenciou o acionamento do Plano de Emergência . Durante um processo de tentativa de drenagem da barragem , a estrutura sofreu uma fratura e ficou ainda mais comprometida . Novamente a mineradora assumiu o risco do rompimento . “Quando você tem esse tipo de ocorrência a barragem entra no nível 3 de risco e a mineradora precisa comunicar a Agência Nacional de Mineração sobre a situação e também deve acionar o Plano de Emergência de Barragem de Drenação. No entanto, nada disso foi feito”, ressalta o auditor fiscal do trabalho Mário Parreiras, que também participou das investigações.
A estrutura fraturada, as inúmeras anomalias na barragem , o excesso de água na estrutura, o aumento das chuvas no último trimestre de 2018 e a perfuração na barragem foram os principais fatores que ocasionaram o colapso da estrutura.
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Além do relatório das investigações, apresentado pela Superintendência do Trabalho, o órgão também aplicou 21 autos de infração contra a mineradora. A Vale já recorreu das acusações. Agora um grupo de auditores fiscais independentes irá avaliar as acusações e poderá definir multas e sanções à empresa .