A decisão da procuradora-geral da República Raquel Dodge, nesta terça-feira, de, pouco antes de entregar o cargo, pedir a federalização das investigações do caso Marielle , que hoje estão a cargo da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio, desagradou a família e também as promotoras que investigam o caso. Ao Globo, Mônica Benício, viúva da vereadora, afirmou que iniciativa é desrespeitosa.
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"Nesses 18 meses que se passaram, muitas reviravoltas sobre o caso Marielle foram divulgadas pela imprensa. Estive acompanhando com preocupação a movimentação da Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, ao encaminhar o pedido de federalização do crime sem sequer ouvir as famílias. Acho profundamente desrespeitoso", afirmou.
Mônica teme que um processo de federalização tenha o efeito totalmente contrário à intenção demonstrada por Dodge , de agilizar a investigação. No dia 4 de outubro, o PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, apontados como assassino e motorista do carro utilizado na empreitada, respectivamente, serão enfim ouvidos em interrogatório na 4ª Vara Criminal, no IV Tribunal do Júri.
"Queremos é que se investigue e que os responsáveis pelo assassinato de Marielle e Anderson respondam pelo que fizeram de forma exemplar. A ação penal contra os executores está em fase de interrogatório dos réus Ronie Lessa e Élcio de Queiroz. A fase seguinte é o possível julgamento destes acusados em Plenário do Tribunal do Júri. Nesse momento, um eventual deslocamento da competência deve gerar mais demora e sacrificará ainda mais quem espera justiça por Marielle e Anderson. Enquanto isso, as instituições estaduais estão acompanhando o caso desde o seu início, uma das mais extensas e complexas investigações de homicídio sem dúvida alguma. Não parece razoável que uma eventual acusação perante o júri passe a ser conduzida exclusivamente por instituição federal que até o momento não esteve envolvida em todas as etapas do processo", concluiu.
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Além do pedido de federalização, a procuradora também apresentou denúncia contra Domingos Brazão por obstrução à investigação, através de Gilberto Ribeiro da Costa, o policial federal Hélio Khristian, o policial militar e miliciano Rodrigo Ferreira e a advogada Camila Moreira, e, também requisitou um novo inquérito para descobrir quem mandou matar Marielle. Em nota, o MP do Rio também se mostrou contrário ao pedido de Dodge de transferir a apuração para âmbito federal, relembrou os resultados obtidos pela investigação até o momento, e revelou, sem muitos detalhes, uma nova denúncia de obstrução à investigação — desta vez com quatro novos nomes.
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"O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ( MPRJ ) lamenta a distribuição do Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) de parte das investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, ocorridos em 14 de março de 2018. O pedido de federalização refere-se à identificação dos mandantes dos crimes e foi apresentado hoje, dia 17 de setembro, pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, nos minutos finais de seu último dia de mandato. Trata-se, portanto, de atitude reincidente, uma vez que tentativa semelhante foi executada no ano passado, menos de 24 horas após as execuções, numa demonstração clara da obstinação de Raquel Dodge em federalizar o processo de investigação (...)", começa a nota do órgão, que acrescenta que a audiência marcada para o dia 4 do mês que vem, quando serão ouvidos Ronnie e Elcio, poderá resultar em "grande avanço na identificação dos mandantes". E conclui, citando a nova denúncia de obstrução no caso, além das outras duas, já feitas anteriormente:
"Uma terceira denúncia já foi ofertada, em face de quatro pessoas, por novo crime de obstrução da Justiça, estando no aguardo de decisão judicial. Por fim, encontra-se ainda em curso uma outra investigação para apurar a participação de outros envolvidos nas mortes da vereadora e de seu motorista, já tendo o MPRJ manejado medidas cautelares, prosseguindo no firme e responsável controle externo da atividade policial e mantendo contato periódico com os familiares das vítimas e seus advogados, sempre em busca da plena elucidação dos crimes".
Brazão reage à denúncia de Dodge
O empresário e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), Domingos Brazão , em contato com o Globo também reagiu às declarações de Dodge. Ele nega que tenha participado da obstrução à investigação, diz que não conhecia Marielle, Ferreirinha ou Orlando Curicica e diz que assistia à coletiva da procuradora ao vivo quando teve seu nome citado.
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"Eu estava assistindo ao noticiário e me deparei com essa notícia. Não conheço esse policial chamado Rodrigo Ferreira, Ferreirinha, e não conheço a tal advogada, Camila. Quando fui solicitado, fui voluntariamente à PF. Jamais usei de prerrogativas para não ir. Fui, prestei esclarecimentos, sempre me coloquei à disposição das autoridades", disse Brazão.
De acordo com Raquel Dodge, sua denúncia afirma que Domingos Brazão utilizou seu gabinete no TCE para atrapalhar a investigação. Ele afirma que há 2 anos e meio não pisava em seu gabinete.
"A PF concluiu essa investigação da investigação, algo que, só no Brasil você vê, e indiciou quem tinha que indiciar. E, agora, para minha surpresa e indignação, eu assisti ao vivo a procuradora da república dizer que eu teria usado a estrutura do meu gabinete. Eu estou afastado há 2 anos e meio do meu gabinete. Não conheci a vereadora Marielle, que Deus a tenha. Não conheci o motorista Anderson. Só ouvi falar dela na eleição e no momento do infeliz episódio do assassinato dela. Também não conhecia o Orlando", afirmou.
Ele conclui, e define como uma "aberração" ter seu nome novamente ligado ao caso: "o que me resta, além de indignação, é lamentar a falta de respeito com essas famílias envolvidas no caso, e seguir em frente, acreditando na Justiça. É uma aberração, um negócio absurdo. Torço para que o mais rápido possível possa ser restabelecida a verdade. Sou empresário, tenho uma família, preciso tocar minha vida".