Nove policiais militares do 9º BPM (Rocha Miranda) foram denunciados pelo Ministério Público do Rio por receberem propina do tráfico de drogas dos morros da Serrinha, Jorge Turco e do Complexo da Pedreira, todos na zona norte do Rio. Em troca, os agentes avisavam previamente os traficantes sobre operações do batalhão.
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Dos nove denunciados, sete são oficiais da corporação. Ao longo da investigação, agentes da Corregedoria da PM, da Polícia Federal e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP descobriram que traficantes da Serrinha chegaram inclusive a tirar fotos armados num caveirão da unidade durante uma operação.
A juíza Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, da Auditoria Militar, recebeu a denúncia e determinou a suspensão das funções dos nove agentes . Oito deles vão responder pelos crimes de associação criminosa e corrupção passiva. Um foi denunciado por associação para o tráfico de drogas. A investigação ainda concluiu que outros oito agentes da unidade "expuseram a perigo uma viatura policial".
São réus pelos crimes os majores Rodrigo Lavandeira Pereira e André Luiz Oliveira de Albuquerque, os capitães Marcelo Baptista Pereira, Rodrigo Antunes Vieira e Bruno Borges Vidal, os tenentes Adriana da Silva Góes Vista e Paulo Rodolpho Batista de Oliveira e os sargentos Robson Avelino de Lima e Flávio Fagundes Padiglione.
Com a autorização da Justiça, os investigadores tiveram acesso às conversas dos PMs
com os criminosos. Nos diálogos, há menção a pagamentos de propina
e repasses de informações internas do batalhão
para os criminosos. Ao longo das investigações, a Corregedoria também descobriu que o grupo de oficiais também cobrava propina de agentes subalternos para que eles fossem transferidos de batalhão.
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Numa das conversas interceptadas, o traficante Walace de Brito Trindade, o Lacosta, chefe do tráfico da Serrinha, reclama com o sargento Flávio Fagundes Padiglione que o capitão Rodrigo Antunes Vieira, apesar de receber propina dos criminosos, estava "atrapalhando" os negócios do tráfico. "O cap Antunes, só ele quer suar", afirma o traficante. Segundo o chefe do tráfico, mesmo "recebendo a meta" (propina), o oficial estaria "parando a boca". O sargento diz que vai "entrar no circuito" para resolver a situação.
A investigação também descobriu que o sargento Padiglione, conhecido como Play, participava ativamente do comércio de drogas no Complexo da Serrinha . "Os cara da droga aceitou o desenrolado. Vc tem que aproveitar esse final de semana para colocar para girar", afirmou o policial para Lacosta no dia 17 de novembro de 2014. “Correto, mas esses cara tá foda parano a boca”, reclama o traficante em seguida.
Caderno de propina
Um caderno de anotações do tráfico revela como era a partilha da propina entre oficiais do 9º BPM (Rocha Miranda). O documento foi apreendido pela polícia em 2015, quando dois traficantes da quadrilha foram presos. Na planilha, obtida pelo Jornal Extra, há a menção a repasses a capitães e tenentes, ao Grupo de Ações Táticas ( GAT ) — unidade operacional do batalhão — e à P2, o Serviço Reservado do batalhão.
Os diálogos entre policiais e traficantes revelam como funcionava o pagamento aos agentes. Em 18 de novembro de 2014, uma operação do batalhão na Serrinha acabou com a prisão de dois traficantes e a apreensão de duas pistolas e um fuzil. O traficante Walace de Brito Trindade, o Lacoste, chefe do tráfico da Serrinha, reclamou com o sargento Flávio Fagundes Padiglione que só foi informado da ação horas antes. "Passei a visão q essa semana vc não vai mandar nada para ninguém", escreveu o sargento a Lacoste.
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De acordo com a conversa, os únicos que receberiam o dinheiro seriam os oficiais que passaram a informação sobre a ação, o major Rodrigo Lavandeira Pereira e a tenente Adriana da Silva Góes Vista, chamada de "amiga" pela dupla. "Já avisei se ficar de boa volta o normal", diz o PM ao traficante.
O 9º BPM, entretanto, não era a única unidade na lista da propina do tráfico da Serrinha. Numa troca de mensagens entre traficantes , um deles ordena ao outro que pague policiais do Bope que estavam na favela: “Cana do bope veio aqui pega o dinheiro deles. Mano, paga os cana ta bem, copiou, dinheiro deles agora é sagrado”.