Fundador da igreja evangélica Suprema Graça, o pastor Daniel Augusto Maddalena assinou uma delação premiada com o Ministério Público Federal e admitiu ter emprestado a conta da igreja para intermediar pagamentos de propina a diretores do fundo de pensão Postalis, dos funcionários dos Correios. A delação foi assinada com a Força-Tarefa Greenfield, do MPF em Brasília, e homologada pela 10ª Vara da Justiça Federal.
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O depoimento do pastor foi usado como prova em uma denúncia movida pela Força-Tarefa Greenfield no último dia 16, contra 12 pessoas acusadas do envolvimento em pagamentos de propina de R$ 2,7 milhões no fundo de pensão Postalis para captar aportes do fundo em empresas privadas. A denúncia foi recebida no último dia 1º pelo juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal do DF.
Em seu depoimento, o pastor Daniel Maddalena afirmou que recebeu a proposta de uma pessoa chamada Marcos Glikas, apontado pelo MPF como operador financeiro ligado ao esquema da Postalis. A conta da igreja recebeu R$ 715 mil de uma empresa de Glikas, que lavaria o dinheiro para os pagamentos de propina. Em troca, o pastor conta ter sacado os valores em espécie e ter entregado a uma pessoa indicada. A igreja ficou com um percentual de 4% dos repasses.
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"Glikas fez uma proposta ao declarante como forma de arrecadar recursos; que essa proposta foi em junho de 2011, próximo ao lançamento da pedra fundamental (da igreja)", explicou o pastor em seu depoimento. Sobre a proposta, Maddalena contou os detalhes: "Glikas, nessa ocasião, disse que possuía uma empresa que precisava 'transitar valores em alguma conta corrente'; que Glikas sugeriu que se fizesse a transição dos valores na conta corrente da Igreja", relatou em seu depoimento.
"Questionado por que não perguntou sobre a origem dos valores, respondeu que não sabe dizer, mas provavelmente pela dificuldade que estava passando e pela necessidade de obter algum dinheiro ", diz outro trecho do depoimento. Segundo pastor, ele "não se preocupou e não quis saber da origem dos valores na época". "Nesta ocasião Glikas já deixou claro ao declarante que o valor que a empresa depositaria na conta da Igreja deveria ser sacado em espécie em seguida, para entrega para uma pessoa a ser indicada por ele", relatou.
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Os valores foram sacados e entregues pelo pastor no endereço indicado, que correspondia a um escritório de advocacia, mas o MPF ainda não conseguiu descobrir o responsável pelo recebimento no local. Outra parte do dinheiro também foi devolvida a Glikas por meio de cheques emitidos pelo pastor, aponta a denúncia.
De acordo com o MPF, os recursos lavados através da igreja tinham como destinatários finais dois ex-diretores do fundo de pensão Postalis, Alexej Predtechensky e Ricardo Oliveira Azevedo. A propina foi paga em troca da aprovação de aportes do Postalis no extinto banco Cruzeiro do Sul, que decretou falência em 2015. O fundo de pensão aportou R$ 51 milhões em cotas do banco em 2011.
Segundo o MPF, a propina acertada foi de 1,5%, que daria aproximadamente R$ 778 mil brutos --foram repassados efetivamente R$ 715 mil na operação, segundo a denúncia. Pelo caso, Alexej e Ricardo foram acusados de corrupção passiva e se tornaram réus na ação. O MPF pede à Justiça que seja reconhecida a colaboração do pastor Daniel Maddalena, para que lhe sejam dados benefícios previstos em lei.
A reportagem procurou as defesas dos envolvidos na delação do pastor , mas ainda não responderam.