O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse nesta sexta-feira (19), em café da manhã com correspondentes de jornais estrangeiros, que "passar fome no Brasil é uma grande mentira"
, explicando que "não se vê gente pelas ruas com físico esquelético". O capitão também atacou os antecessores no Planalto Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT), desejando que, "se Deus quiser", "não teremos mais pessoas" como os três ex-presidentes
na política.
As declarações de Bolsonaro surgem na mesma semana em que a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório anual sobre a fome no mundo. O documento reserva duas páginas para analisar a evolução do Brasil nos últimos 20 anos, destacando o papel de programas de combate à fome, redução da pobreza e da desigualdade social lançados justamente por iniciativa de FHC, Lula e Dilma.
"A persistente desigualdade e dificuldade no acesso a serviços básicos como educação e saúde são bem conhecidas no Brasil. De todo modo, nos anos 2000, a desigualdade caiu substancialmente, enquanto a economia do país cresceu 3,2% entre 1999 e 2014", reportou a ONU . "O crescimento da renda familiar, combinado com sólidas e coordenadas políticas social, educacional, e para a saúde foram a chave para a redução da pobreza e da desigualdade no Brasil entre 2002 e 2014", continua o documento.
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O relatório, desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), menciona três programas que ilustram o que seriam essas "sólidas e coordenadas políticas social, educacional, e para a saúde": Fome Zero , Brasil sem Miséria e Bolsa Família.
O Fome Zero foi o primeiro programa criado por Lula em seu primeiro mandato, em 2003, e previa desde ajuda financeira a famílias pobres até a construção de restaurantes populares. Já o Brasil sem Miséria foi lançado em 2011, já no governo Dilma Rousseff. O Bolsa Família , embora tenha recebido esse nome já durante o governo Lula, em 2004, nasceu de medida provisória editada pelo antecessor do petista na Presidência, Fernando Henrique Cardoso.
"Fome Zero representou uma iniciativa chave do novo governo brasileiro em 2003. Ele transformou a segurança alimentar e nutricional em um assunto crucial para a estratégia social e econômica, e também introduziu a erradicação da fome à agenda política do País", disse a FAO.
"O Fome Zero e seu sucessor, Brasil sem Miséria , coordenaram vários programas em diversos setores: transferência de renda, merenda escolar, acesso à saúde, agricultura familiar, inclusão produtiva, acesso à água e saneamento básico, entre outras. Um desses programas é o Bolsa Família, o emblemático programa brasileiro de transferência de renda", continua o relatório.
"É estimado que a transferência de renda promovida pelo Bolsa Família seja responsável por 25% da redução da extrema pobreza e por 15% da redução da pobreza desde 2004", finaliza o texto das Nações Unidas.
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Horas após a declaração de Bolsonaro a respeito da suposta inexistência da fome no Brasil, o presidente recuou e reconheceu que "uma pequena parte dos brasileiros" passa fome. E voltou a criticar gestões anteriores: "Temos problemas alimentares no Brasil? Temos. Não é culpa minha. Vem de trás".