A defesa do catador de resídios Luciano Macedo, de 27 anos, que morreu no final da madrugada desta quinta-feira (18), 11 dias após ser atingido com três tiros por soldados do Exército — ao tentar salvar uma família em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, onde morreu também o músico Evaldo Rosa, que teve o carro atingido por 80 tiros disparados pelos militares — vai entrar na Justiça contra o Exército e o Governo Federal para que a família do homem seja indenizada e para que os familiares recebam uma pensão.
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Macedo estava internado no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, e desde o dia que foi internado no local passou por duas cirurgias no pulmão. Na quarta, a equipe médica identificou que o homem precisava ser submetido a uma nova intervenção cirúrgica. No momento do procedimento médico, o catador teve duas parada cardiorrespiratória e não resistiu aos ferimentos. "É preciso que o governo se responsabilize por mais essa morte. Vamos pedir uma indenização ao Exército e uma pensão para a mãe e a esposa do Luciano", afirmou o advogado João Tancredo que defende a família de Luciano.
“É inadmissível e inaceitável que se atire primeiro e depois vejam em quem atiraram. Não podemos aceitar que outras famílias passem por isso. Não podemos aceitar a cultura do atira”, Antônio Carlos, disse Antônio Carlos, da ONG Rio de Paz, que assiste a família.
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Luciano havia descoberto que seria pai do primeiro filho poucos dias antes de ser baleado pelos militares. Ele estava muito feliz com a notícia da gravidez da mulher, Daiana Horrara, e decidiu trabalhar mais para criar a criança. Daiana está grávida de 5 meses.
“Cortaram minhas pernas e os meus braços. Tiraram o meu provedor e levaram o amor da minha vida. Aquele que atendia todas as minhas necessidades e o que beijava a minha barriga todos os dias e dizia que queria ver o nosso filho”, lamentou Daiana.
Militares do Exército estiveram no hospital para levar Luciano ao depoimento
O advogado João Tancredo disse que, nesta quarta-feira, soldados do Exército estiveram no Hospital Estadual Carlos Chagas para levá-lo a uma unidade militar para que ele prestasse depoimento. "Ao saber disso, liguei para o coronel Cláudio Viana Pereira, que deu a ordem de busca, e contestei a atuação dos militares . Na ocasião, o coronel disse que Luciano teria que prestar depoimento, já que ele era uma das partes envolvidas no inquérito", disse o advogado.
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Por outro lado, o Comando Militar do Leste (CML) diz que "foram iniciados contatos com a família do Sr. Evaldo por meio do advogado da família, Sr. João Tancredo". No entanto, a nota não diz quando esse contato aconteceu.
Sobre a ida de militares ao hospital onde Luciano estava, o CML informou que não procede a informação de que foram tomar depoimento da vítima. De acordo com o documento, os militares foram à unidade por orientação do Ministério Público Militar, para pegar cópia do Boletim de Atendimento Médico de Luciano, documento necessário para as investigações.
O Exército informou ainda que os militares envolvidos na morte de Evaldo e Luciano permanecem presos, à disposição da Justiça Militar e que não comenta investigações em andamento.