O advogado Marcelo Feller, responsável pela defesa do adolescente apreendido na semana passada, acusado de ser um dos mentores do ataque à Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), negou que o jovem tenha qualquer ligação com o crime. “A minha convicção é de que ele é inocente”, enfatizou o defensor indicado pelo Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD). A Defensoria Pública não pode atuar em favor do adolescente, uma vez que está representando as famílias das vítimas do atentado.
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Para Feller, há uma “sede da polícia em dar uma resposta para a sociedade com alguém vivo”. O advogado afirmou que algumas provas foram vazadas de forma parcial para dar sustentação a tese da participação de uma terceira pessoa no planejamento do atentado em Suzano
. Entre essas evidências, ele destacou alguns trechos de conversa apresentados sem o diálogo completo, que permite outras interpretações.
Em uma delas, o adolescente avisa o próprio autor do crime sobre as notícias do atentato. Não obtendo resposta, aparentemente, ele conclui sobre a participação do amigo e finaliza enviando a mensagem “te odeio”. Em outra, ele fala para outro colega que já tinha ouvido sobre os planos do atirador, mas afirma que não teve nenhuma participação.
O defensor explicou que o adolescente, de 17 anos, realmente fantasiou atacar a escola com um dos autores do massacre, também de 17 anos, em 2015, quando ambos tinham entre 13 e 14 anos. Porém, segundo o advogado, os dois brigaram em outubro daquele ano, voltado a se falar somente em outubro de 2018.
Ainda segundo Feller, o adolescente apreendido não acreditava que o amigo pudesse realmente fazer o atentado. Mostrando conversas dele por Whatsapp logo após a divulgação do ataque, Feller disse que ele ficou surpreso de que o amigo tivesse mesmo participação no crime. “É bastante comum que o atirador conte a amigos e pessoas próximas as fantasias que ele têm”, ressaltou.
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O defensor ainda explicou que o adolescente acusado foge ao padrão dos autores de massacres, que buscam notoriedade pelos seus feitos. “Todos os atiradores que sobreviveram confessaram os ataques, muito para aparecer”, comparou. O jovem apreendido nega participação no planejamento do crime.
Segundo os portais UOL e R7 , os investigadores identificaram mensagens de outubro do ano passado nas quais o adolescente mencionava o intuito de usar granadas e de realizar estupros durante o atentado, que deveria matar "pelo menos uns 15".
O jovem teria dito, pelo WhatsApp, que a "estratégia para fazer um atentado" na escola Professor Raul Brasil se baseava em "alguns jogos" e que ele próprio pretendia participar do ataque – que acabou efetuado somente por Guilherme Taucci, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos.
"A gente ia entrar na segunda aula, mas antes os nóias [sic] que ficassem ao redor da escola a gente ia executar e jogar lá pra trás da escola [sic]", disse o adolescente a um interlocutor que ainda não foi identificado. "Iríamos entrar como se nada tivesse acontecido e esperar até o intervalo. Eu e o Taucci iríamos um pra cada lado, com facas, e ia executar os namorados primeiro", complementou o jovem, conforme reproduziu o R7 .
Em entrevista concedida na semana passada, o adolescente apresentou uma versão semelhante a defendida pelo advogado. Na ocasião, ele detalhou sua relação com Guilherme Taucci e disse que ele era obcecado pelo massacre de Columbine, que deixou 13 mortos, há 20 anos, nos Estados Unidos.
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"Ele sempre falava: 'Imagina se alguém invadisse a escola? Como você ia fazer?' Aí eu respondia, mas eu não sabia que ele ia fazer uma coisa dessas. Eu mesmo sou obcecado por armas, mas não tenho nenhuma arma e nem sairia atirando numa multidão", disse o jovem em depoimento aos jornalistas Rafael Bruza e Bruna Pannunzio.
O menor foi apreendido no último 19, segundo Ministério Público, após diligências da polícia analisarem o conteúdo de celular e tablet do jovem e indicarem a participação dele no planejamento das mortes. A investigação tramita em sigilo.