Antes do desastre em Brumadinho, em Minas Gerais, a Vale já sabia que, caso houvesse ruptura da barragem, as áreas industriais do local, o refeitório e a sede da empresa seriam destruídos pela lama. As informações foram obtidas pelo jornal Folha de S.Paulo .
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O documento que previa os danos em caso de rompimento da barragem da Vale era o Plano de Ações Emergenciais (PAEBM), nele, há um mapa de inundação que deve projetar quais serão os possíveis estragos e definir medidas para aliviá-los, segundo a portaria do Governo Federal.
No caso de Brumadinho , o documento previa que a lama chegaria a até 65 km da barragem. Em caso de identificação de risco, a empresa é obrigada a avisar ao órgão ambiental responsável, à Defesa Civil e às comunidades que vivem no entorno por meio das sirenes.
No entanto, a companhia não considerou os riscos e o rompimento da barragem destruiu até as sirenes que deveriam alertar os funcionários. As pessoas que deveriam fazer a comunicação em caso de ruptura também foram umas das primeiras a serem atingidas pela lama e não tiveram tempo de avisar os outros.
A empresa também forneceu um treinamento aos funcionários e a população local, indicando rotas de fuga seguras em caso de rompimento. "Quem correu para onde a Vale mandou morreu, e quem não seguiu o treinamento está vivo", disse Jhonatan Júnior à Folha , um morador que perdeu o irmão na tragédia.
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A portaria do Governo Federal exige que o PAEBM seja entregue à prefeitura da cidade e à Defesa Civil municipal e estadual. Porém, o prefeito de Brumadinho, Aviar de Melo (PV), afirma que nunca recebeu e não sabia da existência do documento. "Me parece que eles estão montando esses planos todos agora. Não chegou ao conhecimento meu", disse.
De acordo com a apuração da Folha , a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Social de Minas Gerais só foi avisada da situação uma hora depois do rompimento, pois os responsáveis pelos procedimentos do PAEBM ficavam dentro da sede da empresa, um dos primeiros locais atingidos pela lama.
A mineradora afirma, em nota, que enviou o plano à Defesa Civil entre junho e setembro do ano passado. Diz também que a barragem passava por inspeções quinzenais reportadas à Agência Nacional de Mineração, que a última foi dia 21 de dezembro, e por outras inspeções rotineiras, cujas últimas foram em 8 e 22 de janeiro e "não detectaram nenhuma alteração no estado de conservação da estrutura".
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A Vale declarou ainda que fez uma simulação com os funcionários em junho de 2018 e um treinamento interno no dia 23 de outubro.