Aos 21 anos de idade, a Tenente Amit Levi encara desde o início desta semana uma tarefa especial, tanto para sua trajetória profissional no Exército de Israel, como para seu crescimento pessoal. Filha de mãe brasileira (a psicóloga Mônica Tuchman), a jovem militar se voluntariou para integrar a equipe de 136 especialistas que deixaram Israel no último domingo (27)
para prestar ajuda humanitária nas ações de resgate às vítimas da tragédia de Brumadinho
, em Minas Gerais.
Amit Levi é fluente em português e vem todos os anos ao Brasil para visitar avós, tios e amigos no Rio de Janeiro. A facilidade com o idioma local e sua capacidade operacional foram trunfos da jovem para ser incorporada ao time de médicos, técnicos e engenheiros israelenses que vieram ao Brasil após acordo entre o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente Jair Bolsonaro (PSL).
"É muito emocionante para mim, e para todos nós, podermos ajudar o Brasil nesse momento tão difícil. O Brasil para mim é uma segunda casa. Estou muito orgulhosa por ficar aqui e poder ajudar e eu sei que o Exército Brasileiro vai fazer o possível para ajudar o povo brasileiro nessa tragédia", disse Amit, com forte sotaque, durante entrevista concedida nessa terça-feira (29).
A jovem militar conta que a ação em Brumadinho é seu primeiro trabalho envolvendo um grande desastre. Ela comanda um grupo de patrulhamento de 15 a 20 soldados nas buscas por vítimas da lama tóxica despejada pelo rompimento da barragem da Vale.
"A gente anda na lama e procura com as próprias mãos, com o apoio de cachorros. Os equipamentos que trouxemos também ajudam na remoção de terra e cortam grandes estruturas, como a lataria de veículos ou paredes de casas", conta a jovem.
Assista a entrevista de Amit Levi na reportagem do Jornal da Band:
Inicialmente criticados por alguns 'experts' de plantão que diziam que os equipamentos e a tecnologia dos militares de Israel eram inadequados, as 16 toneladas de equipamentos trazidas pelos israelenses se mostraram eficientes. Esses aparelhos ajudaram a localizar os destroços soterrados do restaurante dos funcionários da Vale e também de um ônibus engolido pela lama, resultando no resgate de ao menos 15 corpos .
Capitão Leornado Farah e a ajuda de Israel
"A integração das nossas equipes (brasileiros e israelenses) está excelente. Muitos dos equipamentos que eles possuem estão nos auxiliando. Além do conhecimento que eles possuem também. Muitos deles têm 30-35 anos de experiência em desastres. Eles têm uma grande expertise", relatou o bombeiro brasileiro Leonard Farah.
O Capitão Farah é especialista em redução de riscos e desastres e comanda o grupamento especializado em operações de buscas e salvamentos dentro do batalhão dos Bombeiros que atua em emergências ambientais. Ele atuou também nas buscas pelas vítimas de outra tragédia decorrente do rompimento de barragem de rejeitos, a de Mariana (MG), em 2015.
Amit é nascida e criada em Israel. Já Farah tem raízes árabes. Ao contrário de uma minoria que tenta disseminar a discórdia e o ódio, como no caso do cartunista Carlos Latuff que fez um desenho de péssimo gosto , misturando a dor dessa tragédia com suas visões políticas, no Brasil, árabes e judeus possuem tradição de dezenas de anos de convivência pacífica, respeitando as suas raízes comuns.
O Capitão Farah, assim como a esmagadora maioria da populacão brasileira, soube acolher a ajuda oferecida por Israel, reconhecer os resultados positivos e aproveitar para estabelecer troca de experiências entre as duas forças de resgate.
Veja as declarações sobre a cooperação Brasil-Israel do Capitão Farah, na reportagem do Jornal da Band:
Em Brumadinho não
pode haver
qualquer diferença étnica ou ideológica que desvie o foco de todos os envolvidos nas ações emergenciais: o esforço máximo para mitigar o sofrimento humano e trazer conforto às famílias atingidas.
A colaboração de todos nas ações de busca foi exaltada repetidas vezes pelo porta-voz do Corpo de Bombeiros, Tenente Pedro Aihara , segundo o qual a cooperação com Israel tem sido "extremamente efetiva".
E não é só de Israel que veio a ajuda. Os bombeiros mineiros receberam também reforço de militares de outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Alagoas, Espírito Santo e Santa Catarina.
O rompimento da barragem da Vale é uma tragédia que revela problemas estruturais do Brasil, que vão desde a adoção de métodos baratos em detrimento da eficácia e segurança até o conluio entre o setor privado e políticos corruptos – que impediu que medidas efetivas fossem adotadas já após o desastre de Mariana.
Mas o exemplo da soma de esforços de pessoas como a Tenente Amit Levi, o Capitão Leonardo Farah e o Tenente Pedro Aihara dão esperança de que novos tempos estejam por vir, em que a única barreira a ser rompida seja a do ódio e do preconceito.
A reportagem completa da TV Bandeirantes
sobre a Tenente Amit Levi
está disponível neste link: https://www.youtube.com/watch?v=Rh0MS-y7zQM