Nesta noite de terça-feira (27), Michel Temer fez uma declaração pesada com alvo certo: Rodrigo Janot. O Presidente disse: “Poderíamos concluir que talvez os milhões de honorários recebidos não fossem unicamente para o assessor de confiança (Marcelo Miller)”. Entenda o contexto e os fatos que levaram Temer a dizer isso.
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Há poucos meses uma série de situações, aparentemente sem conexão, aconteceram envolvendo Marcelo Miller, um dos mais duros e eficazes Procuradores da República, e braço direito do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Miller era um estelar membro da equipe de Janot, designado para processar os investigados da Lava Jato, com total acesso ao material colhido e produzido por essa operação.
No dia 6 de março, Marcelo Miller causa grande surpresa entre seus colegas e, de forma inesperada, encerra sua brilhante carreira pública de 13 anos na Procuradoria. Ele pede demissão e decide se aventurar no setor privado, indo trabalhar no conceituado escritório de advocacia carioca Trench, Rossi & Watanabe Advogados.
Coincidência 1
O escritório Trench, Rossi & Watanabe, que empregou o ex-braço-direito de Janot, foi o mesmo que Joesley Batista contratou para negociar, com a Procuradoria Geral da República, o infame acordo de leniência do Grupo J&F.
Coincidência 2
Em 7 de março, primeiro dia da carreira privada de Marcelo Miller, o ex-açogueiro do interior de Goiás, Joesley Batista, visita o presidente Michel Temer e faz a controversa gravação clandestina.
Coincidência 3
Parte do sucesso que Marcelo Miller obteve como implacável Procurador da Lava Jato se baseava na sua especialidade em coletar provas através de gravações ocultas, feitas sem o conhecimento dos seus alvos. Profundo conhecedor dos meandros legais que envolvem esse tipo de caso, Miller já havia usado este modus operandi com pleno êxito, ao conseguir as delações premiadas do ex-senador petista Delcidio do Amaral e do ex-diretor da Transpetro, Sergio Machado.
Coincidência 4
O escritório que contratou o ex-menino de ouro de Janot, Marcelo Miller, um dia antes de Joesley Batista gravar Temer, conseguiu arrancar do Procurador-Geral da República o inacreditável acordo que permitiu Joesley escapar da cadeia e manter, praticamente ileso, seu inacreditável património conseguido através de bilionários e generosos empréstimos com dinheiro público durante os governos Lula e Dilma.
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Em seu pronunciamento de hoje, Michel Temer partiu para o ataque e classificou o trabalho e a denúncias de Rodrigo Janot como “uma infâmia de natureza politica”, “uma trama de novela” e “um trabalho trôpego”.
Indignado, e usando os fatos descritos acima, Temer trouxe a tona a suspeita da ligação entre Rodrigo Janot e seu ex-braço-direito, Marcelo Miller, sugerindo que o Procurador-Geral teria se beneficiado do acordo de leniência fechado entre Joesley Batista e o escritório de advocacia que contratou Miller. Durante seu pronunciamento Temer disse:
“A ilação, inaugurada por esta denúncia, que não existe no Código Penal, permitiria construir a seguinte hipótese: Marcelo Miller, Procurador da República e homem da mais estrita confiança do senhor Procurador-Geral, deixa o emprego para trabalhar em empresa que faz delação premiada ao Procurado-Geral, sem cumprir a quarentena, e ganhou milhões em poucos meses, o que talvez levaria décadas para poupar. Garantiu ao seu novo patrão, a empresa que o contratou, um acordo benevolente, uma delação que tira o cliente (Joesley Batista) das garras da Justiça e gera uma impunidade nunca antes vista, tudo assegurado pelo Procurador-Geral”
Temer finaliza este raciocínio soltando a bomba: “Poderíamos concluir que talvez os milhões de honorários recebidos não fossem unicamente para o assessor de confiança” (Marcelo Miller).
Baseado nos fatos descritos acima e na dúvida lançada pelo Presidente, a pergunta óbvia que fica é: Quem vai abrir inquérito contra Rodrigo Janot?