Na sessão desta quarta-feira, 7, da CPI da Covid , o presidente da Comissão alegou que o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias mentiu durante seu depoimento e deu voz de prisão ao depoente. Veja:
Senadores pediram que o presidente revisse sua decisão, alegando que outras testemunhas mentiram em seus depoimentos e na ocasião não foram presas. No entanto, Aziz insistiu e encerrou a sessão decretando a prisão de Dias. "A gente não está aqui para ouvir historinha de servidor que pediu propina . Isso que está acontecendo não vai acontecer mais e todo depoente que estiver aqui e achar que pode brincar terá o mesmo destino que ele", disse Omar. Veja:
Uma das contradições apontadas no depoimento é o encontro onde teria acontecido o suposto pedido de propina. Ricardo Dias disse à CPI que estava no restaurante com um amigo e Dominghetti apareceu, levado pelo coronel Blanco, assessor de Logística do ministério. Dias afirmou que não tinha nada marcado com Dominghetti e Blanco . Segundo ele, o encontro não foi proposital.
Mais cedo, o ex-diretor de logística confirmou à CPI ter recebido o reverendo Amilton Gomes de Paula para tratar de vacinas, que tentou intermediar compra de vacinas.
Fundador da ONG Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), ele será convocado à CPI da Covid para prestar depoimento . Os senadores querem saber qual o papel na negociação de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca, da empresa Davati Medical Supply. Assista ao vivo:
"Recebi o reverendo Amilton em minha sala uma única vez, foi uma agenda oficial. A retórica era a mesma: possuía x doses disponíveis e não possuía a carta de representação do fabricante", disse Dias.
Roberto Dias foi exonerado do Ministério da Saúde após denúncia de que teria pedido uma propina de US$ 1 por vacina na compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca pelo Governo Federal. A acusação do esquema de corrupção foi denunciada pelo policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que se apresenta como representante da Davati Medical Supply no Brasil.
Intervenções de Elcio Franco no Departamento de Logística
O ex-diretor disse, ao ser questionado pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), que seu relacionamento com o então secretário-executivo da pasta Elcio Franco era de "pouco contato".
Dias ainda disse que não sabe o motivo do secretário ter substituído dois funcionários da pasta por militares, mas admitiu intervenções do coronel no departamento de logística do Ministério da Saúde. Veja:
Ele também afirmou desconhecer o motivo do pedido de Franco para que se exonerasse dois funcionários da pasta. "Não sei porque. Desconheço. Entendo que elas foram exoneradas injustamente. Elas trabalhavam muito bem."
Segundo o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), Elcio também teria solicitado a exoneração de Dias. "Por que essa divergência com ele?", pergunta Omar.
"Peço que o senhor faça a pergunta a ele inclusive. Desconheço", responde Dias. De acordo com o depoimento de Dominghetti, Elcio Franco não tinha conhecimento do suposto pedido de propina. "Ele estranhou", disse Dominghetti durante sua oitiva na última quinta-feira (1º).
No início do depoimento, Dias negou ter pedido propina e chamou Dominguetti de "picareta". "Nunca pedi nenhuma vantagem ao senhor Dominguetti e a ninguém", disse Roberto Dias.
E completou: “Acerca da alegação do senhor Dominguetti, nunca houve nenhum pedido meu a este senhor. O mesmo já reconheceu à CPI que nunca antes daquela data havia estado comigo [...] O senhor Dominguetti, que aqui nessa CPI foi constatado ser um picareta que tentava aplicar golpes em prefeituras e no Ministério da Saúde e durante sua audiência deu mais uma prova de sua desonestidade", afirmou Dias. Veja:
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Encontro com Dominguetti
O ex-diretor da Saúde confirmou ter conversado com Dominguetti em um restaurante de Brasília no dia 25 de fevereiro deste ano, mas disse que o encontro foi casual.
"No dia 25 de fevereiro, fui tomar um chope com um amigo e em determinado momento se dirigiu a mim o coronel [Marcelo] Blanco ao lado de uma pessoa que se apresentou como Dominghetti, que disse representar empresa com 400 milhões de doses da AstraZeneca", disse. Veja:
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) publicou uma crítica numa rede social sobre a ação de Roberto Dias em relação ao chope, que teria, segundo ela, agilizado a negociação de uma vacina com suspeitas de caso de corrupção na compra.
"Roberto Dias vai tomar um chopp num sábado e por 'acaso' se encontra com Blanco e Dominguetti. Na mesa do bar lhe oferecem 400 milhões de doses de vacina", escreveu a senadora. Veja:
"Nunca falei com Bolsonaro ou com os filhos dele"
Em resposta ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), Dias afirmou que nunca conversou com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou com os filhos dele. "[Não tenho relação] nenhuma com o presidente, conheço o presidente. O mais próximo que estive do presidente foi cerca de 5 metros. Nunca falei com ele ou com os filhos dele", disse.
Apontado como indicação do deputado Ricardo Barros (PP-PR) e do ex-deputado Abelardo Lupion, Roberto Dias é considerado peça-chave para desvendar detalhes de denúncias dos dois supostos esquemas de propina na compra de vacina pelo Ministério da Saúde, envolvendo as doses da AstraZeneca oferecidas por Luiz Dominghetti e a indiana Covaxin, produzida pela Bharat Biotech, o imunizante mais caro negociado pelo governo até agora.
As negociações para aquisição da Covaxin são investigadas pela CPI da Covid, pelo Ministério Público Federal, pela Polícia Federal e pelo Tribunal de Contas da União (TCU).