O primeiro-ministro Michel Barnier na Assembleia Nacional em 3 de dezembro de 2024
Julien de Rosa
O primeiro-ministro Michel Barnier na Assembleia Nacional em 3 de dezembro de 2024
JULIEN DE ROSA

Os deputados de esquerda e de extrema direita devem derrubar nesta quarta-feira (4), exceto em caso de grande surpresa, o governo do primeiro-ministro francês , Michel Barnier , após menos de 100 dias no poder, aprofundando a crise política na segunda economia da União Europeia.

Barnier enfrenta duas moções de censura na Assembleia Nacional (câmara baixa) que serão debatidas a partir das 16H00 (meio-dia de Brasília) e que, para prosperar, precisam do apoio de pelo menos 288 deputados. Os grupos de oposição somam quase 330 cadeiras.

O primeiro-ministro conservador, de 73 anos, fez um apelo à "responsabilidade" dos deputados para que não derrubem o governo, em um momento econômico tenso, com prêmio de risco da dívida francesa quase igual ao da Grécia.

Além disso, a instabilidade na França e a crise de governo na Alemanha, que precisou antecipar as eleições legislativas para 23 de fevereiro, podem afetar a UE, a poucas semanas do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.

"O interesse do país é mais importante que o interesse dos partidos", enfatizou o presidente francês, Emmanuel Macron, durante uma visita oficial à Arábia Saudita, ao mesmo tempo que tentou acalmar os mercados ao afirmar que a "França tem uma economia forte".

Se o governo cair, Macron, que não é afetado pela moção de censura, poderia nomear Barnier novamente ou outro primeiro-ministro, mas o equilíbrio no Parlamento permaneceria o mesmo, já que ele não pode convocar eleições legislativas antecipadas até meados de 2025.

Barnier, o breve

A aprovação da moção de censura tornaria o governo de Barnier o mais curto da Quinta República francesa, que nasceu em 1958, e o segundo a cair, depois da administração de Georges Pompidou em 1962, quando Charles de Gaulle era presidente.

Além disso, e ainda mais importante, aprofundaria a crise política que o país enfrenta desde junho, quando o presidente surpreendeu o país e antecipou as legislações, que estavam previstas para 2027, após a vitória da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu na França.

Embora o presidente de centro-direita já tivesse perdido a maioria absoluta após sua reeleição em 2022, as novas eleições resultaram em uma Assembleia sem maioria clara e dividida em três blocos irreconciliáveis: esquerda, centro-direita e extrema direita.

A Nova Frente Popular (NFP) - coalizão de socialistas, comunistas, ambientalistas e integrantes da esquerda radical - venceu as eleições, mas, quase dois meses depois, Macron nomeou Barnier, ex-negociador europeu para o Brexit, como primeiro-ministro, em nome da "estabilidade".

Barnier só conseguiu o apoio da aliança de centro-direita de Macron e de seu próprio partido conservador, Os Republicanos (LR), o que significa que a sobrevivência de seu governo dependia da líder de extrema direita Marine Le Pen, que finalmente decidiu pela queda.

A negociação dos orçamentos para 2025 foi o gatilho da moção de censura. Apesar de várias concessões obtidas, Le Pen estabeleceu como limite que o governo recuasse e adiasse parte da reavaliação das pensões de janeiro para julho, em vão.

"Ficção política"

Com um orçamento baseado na redução do gasto público e no aumento temporário dos impostos para grandes empresas, o governo pretendia reduzir o déficit público (projetado para 6,1% do PIB em 2024) e a dívida pública (112% do PIB no final de junho).

"Ao incluir seu orçamento na desastrosa continuidade de Emmanuel Macron, o primeiro-ministro só poderia fracassar", escreveu a líder do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) na rede social X.

Em uma entrevista aos canais TF1 e France 2, Barnier se defendeu e afirmou que mudanças foram feitas no plano inicial, depois que o governo "ouviu todos". Ele acusou Le Pen de entrar em "uma espécie de disputa", com reivindicações sem fim.

Além do orçamento, os partidos jogam suas cartas para 2027, quando os franceses terão que votar para escolher o sucessor de Macron, que chegou ao poder em 2017 e não pode ser reeleito após completar seu segundo mandato.

No momento em que maioria dos franceses considera Macron o responsável pela situação atual e com sua popularidade em baixa, cada vez mais vozes pedem a renúncia do chefe de Estado para superar a crise, uma opção que o presidente chamou na terça-feira de "ficção política".

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