Combatentes antigovernamentais viajam na traseira de uma caminhonete na cidade de Suran, entre Aleppo e Hama, em 3 de dezembro de 2024
AFP
Combatentes antigovernamentais viajam na traseira de uma caminhonete na cidade de Suran, entre Aleppo e Hama, em 3 de dezembro de 2024

O Exército sírio lançou, nesta quarta-feira (4), uma contraofensiva para tentar conter os rebeldes liderados por islamistas radicais que chegaram aos portões da cidade de Hama , no centro do país, após um avanço relâmpago a partir do norte.

Após  assumir o controle de dezenas de localidades e da maior parte de Aleppo, a segunda cidade mais importante da Síria, os rebeldes chegaram na terça-feira, de acordo com uma ONG, "aos portões" de Hama, uma cidade estratégica para o Exército, visto que seu controle é essencial para evitar que cheguem à capital Damasco , cerca de 220 quilômetros ao sul.

Hama, a quarta maior cidade da Síria, foi palco de um massacre em 1982 por parte do Exército durante o reinado do pai do presidente Bashar al Assad, que reprimiu uma insurgência da Irmandade Muçulmana.

Décadas depois, as feridas deste episódio, que também levou ao exílio de milhares de sírios, ainda não cicatrizaram.

Foi também nesta mesma cidade que foram registradas algumas das maiores manifestações que iniciaram o levante pró-democracia em 2011 e cuja resposta repressiva desencadeou a guerra civil.

Ruídos "assustadores"

Nesta quarta-feira, ocorreram "violentos confrontos" entre o Exército e rebeldes nas áreas do nordeste e noroeste de Hama, segundo a agência oficial de notícias Sana.

"Ontem à noite, os ruídos eram assustadores e ouvimos claramente o som de bombardeios incessantes", contou à AFP um motorista de 36 anos chamado Wassim.

As forças do regime, que não ofereceram grande resistência em Aleppo , lançaram "depois da meia-noite uma contraofensiva" na região de Hama com apoio aéreo e conseguiram repelir os combatentes da coalizão, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

A organização sediada no Reino Unido, que possui uma extensa rede de informantes na Síria, informou que houve um número significativo de deslocamentos populacionais na área, enquanto dezenas de milhares de civis fugiram das regiões ao norte de Aleppo e Idlib.

Na terça-feira, nuvens de fumaça preta emergiam da cidade de Surane, cerca de 20 km ao norte de Hama, onde imagens da AFP mostraram civis fugindo amontoados em caminhões, enquanto combatentes rebeldes empunhavam suas armas e patrulhavam em caminhonetes.

Um fotógrafo sírio da agência de notícias alemã DPA morreu nesta quarta-feira em um bombardeio perto de Hama, anunciou a agência.

"Nosso fotógrafo Anas Alkharboutli, que documentou a guerra civil na Síria com uma linguagem visual única, morreu em um bombardeio aéreo perto da cidade síria de Hama, indicou a DPA especificando que o repórter tinha 32 anos.

"Todos na DPA estão chocados e profundamente tristes com a morte de Anas Alkharboutli. Ele sempre será um modelo a ser seguido para o nosso trabalho", destacou o editor-chefe da agência, Sven Gösmann.

Contatos diplomáticos

Os combates e bombardeios, que deixaram 602 mortos em uma semana, incluindo 104 civis, segundo o OSDH, são os primeiros desta magnitude desde 2020 na Síria.

Os mortos incluem 299 combatentes do grupo islamista radical Hayat Tahrir al Sham (HTS), que lidera a ofensiva rebelde com facções aliadas, segundo a ONG, e 199 soldados e combatentes pró-governo.

Rússia e Irã, principais aliados de Damasco, bem como a Turquia, um dos principais apoiadores dos rebeldes, estão em "estreito contato" para estabilizar a situação na Síria, anunciou Moscou nesta quarta-feira.

O país, assolado por uma guerra civil que deixou meio milhão de mortos, está dividido em várias zonas de influência, com os beligerantes apoiados por várias potências estrangeiras.

O Irã declarou na terça-feira que estava pronto para "considerar" qualquer envio de tropas para a Síria, se solicitado.

Hospitais colapsados

Em Aleppo, sob o controle de rebeldes armados, um estudante de medicina disse na terça-feira que a equipe de um hospital estava "em grande parte ausente, com as enfermarias funcionando com metade de sua capacidade".

"Estamos tentando responder às emergências, cuidando dos materiais", acrescentou o estudante que não quis se identificar.

Na terça-feira, a ONU relatou "inúmeras vítimas civis, incluindo um grande número de mulheres e crianças" nos ataques de ambos os lados e a destruição de instalações de saúde, escolas e mercados.

Com o apoio militar da Rússia, do Irã e do movimento libanês pró-iraniano Hezbollah, o regime reconquistou grande parte do país em 2015 e, no ano seguinte, toda a cidade de Aleppo, cuja parte oriental havia sido tomada por rebeldes em 2012.

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