O influente comissário europeu do Mercado Interno, o francês Thierry Breton, anunciou nesta segunda-feira (16) sua demissão da Comissão Europeia, alegando que a presidente da instituição, Ursula von der Leyen, pediu a retirada de sua candidatura durante as negociações sobre a composição do novo gabinete do Executivo europeu.
Em questão de minutos, o presidente francês Emmanuel Macron propôs um novo candidato, o ministro das Relações Exteriores Stéphane Séjourné, que já foi eurodeputado e líder da bancada centrista 'Renew'.
A França procura uma pasta "centrada nos desafios da soberania industrial, tecnológica e de competitividade europeia", afirmou o Palácio do Eliseu.
Breton foi um dos comissários de maior projeção no primeiro mandato de Ursula von der Leyen. A relação com a dirigente alemã é tensa desde que o francês liderou, há alguns meses, um protesto no Executivo europeu com críticas ao estilo de gestão da presidente, considerado pouco comunitário.
A saída repentina do ex-ministro francês, de 69 anos, provocou um choque em Bruxelas, onde a publicação da lista dos futuros comissários estava marcada inicialmente para terça-feira (17).
"Peço demissão do cargo de comissário europeu com efeito imediatos", anunciou o político, que foi ministro da Economia de Jacques Chirac, em uma carta a Von der Leyen publicada na rede social X.
Thierry Breton, oficialmente candidato do presidente Macron, explicou que a chefe do Executivo Europeu, que está formando sua equipe para um novo mandato de cinco anos, "pediu à França que retirasse (seu) nome".
"Há alguns dias, na reta final das negociações sobre a composição do futuro Colégio, a senhora pediu à França que retirasse meu nome - por razões pessoais que em nenhum momento abordou diretamente comigo - e propôs, como compromisso político, uma pasta supostamente mais influente para a França dentro do futuro Colégio de comissários", escreveu Breton.
"Ser comissário europeu foi uma honra", destacou o ex-ministro francês, mas "à luz dos últimos acontecimentos – que demonstram mais uma vez uma governança questionável – devo concluir que já não posso exercer minhas funções dentro do Colégio", concluiu.
Ursula von der Leyen aceitou a demissão e agradeceu pelo trabalho realizado nos últimos cinco anos, informou a porta-voz Arianna Podesta.
Como comissário europeu do Mercado Interno, o francês comandou o estímulo à indústria europeia da Defesa e coordenou a produção de vacinas durante a pandemia de covid-19.
Bloqueio na Eslovênia
Breton questionou publicamente a ética de Ursula von der Leyen após a nomeação, no fim de janeiro, de um emissário responsável pelas pequenas e médias empresas, um cargo de remuneração elevada dentro da Comissão.
O cargo foi atribuído ao eurodeputado alemão do Partido Popular Europeu (PPE, direita) Markus Pieper, poucas semanas antes de um congresso em Bucareste, em março, no qual a legenda anunciou apoio a um segundo mandato de Von der Leyen.
A polêmica provocou um voto de confiança no Parlamento Europeu contra Von der Leyen, em plena campanha para as eleições europeias de junho, e terminou com a retirada da nomeação de Pieper.
Reeleita em julho para permanecer no comando da Comissão, a presidente deveria apresentar na terça-feira ao Parlamento Europeu os nomes e as pastas dos novos comissários, durante uma sessão plenária em Estrasburgo.
Von der Leyen ainda espera fazer os anúncios, informou a porta-voz Arianna Podesta.
A composição do Executivo europeu é um complicado jogo de equilíbrio, que revela a influência dos Estados-membros, das forças políticas e das orientações da UE.
Antes da demissão de Breton, a situação já era incerta devido a um bloqueio por parte da Eslovênia, que aguarda a aprovação de seu Parlamento à nova candidata ao cargo de comissária Marta Kos.
A saída de Thierry Breton, que consolidou sua figura no Executivo de Bruxelas ao atacar os abusos de poder dos gigantes do setor de tecnologia, complica ainda mais a equação.
A demissão surpreendente acontece após uma polêmica sobre a falta de mulheres na nova equipe que está sendo configurada.
Após a saída, a eurodeputada ecologista Marie Toussaint pediu a Emmanuel Macron, em vão, a nomeação de uma "mulher para trabalhar pela paridade na Comissão".
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