O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu reiterou, nesta quarta-feira (17), "o direito" de Israel de "se proteger", em resposta aos pedidos internacionais para que evite adotar represálias maciças ao recente bombardeio iraniano.
Israel manifestou várias vezes sua determinação de responder ao ataque inédito de sábado , apesar de quase todos os 350 drones e mísseis lançados pela República Islâmica terem sido interceptados com a ajuda dos Estados Unidos e de outros países.
Teerã executou o ataque em represália ao bombardeio contra seu consulado em Damasco , na Síria, atribuído a Israel, no qual morreram sete membros do Exército dos Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês).
Após o ataque, a troca de ameaças aumentou, em um cenário regional tenso desde o início da guerra em Gaza em outubro, entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, apoiado pelo Irã.
Em um comunicado, o Hamas considerou, nesta quarta-feira, que o ataque iraniano foi "legítimo e merecido" e que mostra que "acabou o tempo em que a entidade sionista podia fazer o que quisesse sem prestar contas nem ser punida".
Nesta quarta-feira, os ministros das Relações Exteriores de Reino Unido, David Cameron, e Alemanha, Annalena Baerbock, visitaram Israel e pediram moderação ao governo.
"Esperamos que Israel reaja de uma forma que contribua o menos possível para uma escalada, e de uma forma ao mesmo tempo inteligente e dura", declarou Cameron.
"Agora todo mundo deve agir de forma pensada e responsável; não falo em ceder, falo de moderação inteligente", acrescentou a ministra alemã.
Chamado 'ao mundo inteiro'
Israel "reserva-se o direito de se proteger", declarou Benjamin Netanyahu durante a conversa com os ministros europeus.
"O mundo inteiro deve trabalhar de maneira decisiva e desafiadora contra a ameaça do regime iraniano", afirmou o presidente israelense, Isaac Herzog.
A Casa Branca anunciou que, "nos próximos dias", vai impor novas sanções contra o Irã e a UE planeja ampliar as suas.
A República Islâmica, por sua vez, exibiu mísseis e drones em um desfile por ocasião do dia de suas Forças Armadas.
"Se o regime sionista cometesse a menor agressão contra o nosso território, a resposta seria feroz e severa", declarou o presidente iraniano Ebrahim Raisi, dirigindo-se aos comandantes militares após o desfile, que aconteceu em uma base próxima de Teerã.
Raisi também falou sobre o ataque de sábado, que, segundo ele, foi "moderado e punitivo".
Em outra frente, 14 soldados israelenses ficaram feridos no norte do país, informou o Exército, após um bombardeio reivindicado pelo movimento libanês Hezbollah, outro aliado do Irã.
Imagens da AFP do sul do Líbano mostraram uma patrulha da Força Interina das Nações Unidas (Finul) atravessando cidades abandonadas e devastadas ao longo da fronteira.
Estagnação nas negociações de trégua
As negociações para uma nova trégua em Gaza, que permita a libertação dos reféns israelenses nas mãos do Hamas em troca de palestinos detidos em Israel, estão "estagnadas", afirmou o primeiro-ministro do Catar, país que atua como mediador ao lado de Estados Unidos e Egito.
"Estamos fazendo uma reavaliação global do nosso papel" como país mediador, declarou o chefe de governo e chanceler catari, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, durante uma coletiva de imprensa ao lado do chanceler turco, Hakan Fidan.
Fidan acusou Netanyahu de tentar "arrastar a região para a guerra para continuar no poder".
Os combates das últimas 24 horas mataram 56 pessoas em Gaza. Desde o início da guerra, já são 33.899 os mortos no território, segundo o Ministério da Saúde da Faixa, governada pelo Hamas.
O conflito começou em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas atacaram o território israelense, assassinaram 1.170 pessoas e sequestraram mais de 250, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Após uma troca de reféns por presos durante una trégua de uma semana no final de novembro, 129 continuam sequestradas em Gaza, incluindo 34 que teriam morrido, segundo autoridades israelenses.
Netanyahu mantém o projeto de ofensiva terrestre em Rafah, no sul da Faixa, que virou um refúgio para mais de um milhão de palestinos que fugiram da destruição em outras partes do território.
A ONU teme um cenário de fome generalizada e apresenta nesta quarta-feira um apelo por doações de 2,8 bilhões de dólares (14,7 bilhões de reais) para ajudar os palestinos em Gaza e também na Cisjordânia.
Netanyahu negou "as acusações das organizações internacionais sobre fome em Gaza" e assegurou que Israel fazia "o possível no tema humanitário".
Pouco depois, o Exército israelense anunciou pouco depois a entrada de oito caminhões com carga de farinha do Programa Mundial de Alimentos (PMA), a partir do porto de Ashdod, cerca de 30 km ao norte de Gaza.
O conflito relançou com força o debate sobre a necessidade de criação de um Estado palestino.
O Conselho de Segurança da ONU votará nesta quinta-feira o pedido dos palestinos para virar um Estado-membro de pleno direito das Nações Unidas.
A iniciativa provavelmente vai esbarrar no veto dos Estados Unidos, que considera que a ONU não é o local ideal para tal reconhecimento, e sim um acordo com Israel.