Os Estados Unidos podem estar diante de uma reviravolta que talvez poucos filmes de Hollywood conseguiriam reproduzir em seus roteiros.
A história de Buford Pusser, xerife do Tennessee conhecido por ser linha-dura contra o crime, e de sua esposa Pauline Mullins Pusser pode ter sido contada de forma errada por anos, revela o Tennessee Bureau of Investigation .
O trabalho de Buford Pusser, sobretudo na década de 1960, chegou a ser a inspiração para filmes e livros, como o longa-metragem “Walking Tall’ , lançado em 1973 e com continuações. Recebeu ainda uma versão remake em 2004.
Pusser ficou popularmente conhecido por atuar contra o crime organizado e a corrupção em Adamsville, uma pequena cidade no condado de McNairy. A sua vida sempre chamou a atenção não somente pela atuação como xerife, mas por um capítulo trágico envolvendo a sua esposa.
Em 12 de agosto de 1967, Pusser disse à polícia ter sido acionado para um caso de perturbação de sossego nas primeiras horas da manhã. Relatou ainda que a sua esposa, Pauline Mullins, colocou-se à disposição para acompanhá-lo no caso. Por anos, o relatório policial apresentou que o casal foi pego de surpresa durante o trajeto por uma emboscada .
Um carro desconhecido teria ultrapassado o do casal e, em seguida, o condutor teria, supostamente, alvejado os Pusser. Pauline teria sido morta na ação, já Buford teria ficado ferido e passado por cirurgias devido ao seu estado de saúde.
Quase sessenta anos depois, um relatório do Tennessee Bureau of Investigation coloca em dúvida o relato do xerife, sobre o qual o relatório policial do caso se baseou quase na íntegra.
Segundo a ABC News, o promotor público Mark Davidson, dos Estados Unidos, afirmou, durante entrevista coletiva, que o relatório do departamento investigativo encontrou " inconsistências nas declarações de Buford Pusser às autoridades policiais e a outros" .
Vale destacar que o xerife morreu em um acidente de carro ainda em 1974, o que descarta a possibilidade de novas interrogações.
"Este caso não tem como objetivo acabar com uma lenda, mas sim dar dignidade e encerrar o assunto para Pauline e sua família, além de garantir que a verdade não seja enterrada com o tempo" , disse Davidson, conforme reportagem da ABC News.
Reviravolta
O Tennessee Bureau investiga a possibilidade de Pauline ter sido morta fora do carro, de uma maneira completamente diferente daquela narrada por Buford Pusser. A mulher teria sido baleada e, em seguida, o seu corpo teria sido colocado dentro do carro .
De acordo com a ABC News, por meio de uma nova autópsia, o departamento de investigação identificou que o trauma craniano sofrido por Pauline Mullins não corresponde com os fatos narrados por Buford nem com as fotos do crime .
Além disso, outro fato intrigou o Tennessee Bureau of Investigation: foram encontrados respingos de sangue no exterior do veículo . Levando em conta que o relatório policial de 1967 aponta que o casal foi baleado dentro do carro, cria-se ainda mais dúvida sobre a veracidade do relato do xerife, segundo o departamento.
O promotor público Mark Davidson ainda apontou, segundo a ABC News, que o ferimento à bala na bochecha de Buford Pusser foi de contato próximo, o que abre a possibilidade do xerife ter atirado contra si mesmo. Os investigadores acreditam que a cena do crime foi encenada .
"Diz-se que os mortos não podem clamar por justiça; é dever dos vivos fazê-lo. Neste caso, esse dever está sendo cumprido 58 anos depois" , acrescentou o promotor.
Pauline Mullins
Segundo o canal de notícias, o relatório do departamento de investigação também apontou que Pauline Mullins Pusser pode ter sofrido um “trauma interpessoal” antes de morrer. Isso seria indicado por uma “fratura nasal” que foi curada.
De acordo com Mark Davidson, "a justiça para Pauline demorou a chegar e, graças ao trabalho duro de muitos, finalmente podemos anunciar à família sobrevivente de Pauline e ao público que acreditamos estar o mais perto possível da justiça ".
O irmão de Pauline, Griffon Mullins, reagiu sem surpresa à revelação segundo a ABC News: “para ser sincero, não estou terrivelmente chocado ”.
"Eu a amava de todo o coração e senti muita falta dela nos últimos 57 anos” , completou.
Ainda conforme Griffon, “ela não era o tipo de pessoa que contava seus problemas, mas eu sabia, no fundo, que havia problemas no casamento dela" .